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Categoria: América Invisível
Coluna América Invisível. Editor responsável:
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O dia da barbárie
Por: Rodrigo G. M. Silvestre
No dia 28 de outubro de 2025, o Brasil testemunhou a operação policial mais letal de sua história, com 132 mortos registrados no Rio de Janeiro, superando em apenas 24 horas o número de vítimas do mais recente episódio de rompimento do cessar-fogo em Gaza promovido por Israel. Enquanto o mundo acompanhava o drama humanitário do Oriente Médio, com denúncias de sucessivas violações de direitos humanos e elevado número de civis mortos em bombardeios sobre Gaza, o cenário brasileiro converteu-se em um campo de batalha urbano, com a letalidade policial ultrapassando números globais de conflitos armados.cnnbrasil+4
Paralelo Trágico: Rio e Gaza
A rápida escalada de mortes no Rio ultrapassou, em um único dia, os dados noticiados sobre o mais recente ataque israelense à Faixa de Gaza — onde, na quebra do cessar-fogo, as principais fontes relatam aproximadamente 90 a 120 mortes civis e militares em 24 horas, número inferior ao contabilizado após a megaoperação nos complexos da Penha e do Alemão. Se em Gaza o rompimento das tréguas com bombardeios intensificou o debate internacional sobre a urgência de acordos de paz, no Brasil, a letalidade policial, validada pelo governo do Rio como um “sucesso operacional”, suscitou cobranças por prestação de contas, investigações sobre execuções sumárias e comoção nacional.exame+3
Impacto Social e Humanitário
Imagens de dezenas de corpos levados por moradores à praça pública, relatos de famílias em desespero reconhecendo vítimas e denúncias de fraude processual – com suspeita de remoção de coletes e roupas para descaracterizar a natureza dos mortos – marcaram tanto a cobertura jornalística como o debate político. Especialistas, entidades de direitos humanos e lideranças comunitárias classificaram o episódio brasileiro como um massacre de dimensões históricas, equiparando-o aos dramas internacionais de guerra, desafiando o país a rever instrumentos de segurança pública e exigir dignidade e respeito à vida mesmo em tempos de enfrentamento ao crime organizado.cartacapital+2
Repercussão Política
A reação do governo estadual foi imediata, com defesa enfática da operação e declaração de que a letalidade foi resultado do confronto, não de excesso policial. No curto período em que o país superou Gaza em números de mortos, o Brasil viu sua crise de segurança pública tornar-se referência negativa, ligada aos recordes históricos de ações policiais, e provocou questionamentos sobre a legitimidade e os limites do uso da força pelo Estado.correiobraziliense+2
O paralelo entre Rio de Janeiro e Faixa de Gaza transcende fronteiras: ilustra como, dentro de cenários distintos, a mesma lógica de guerra pode se manifestar em territórios de exclusão, desigualdade e ausência de garantias mínimas à população civil. Enquanto em Gaza o terror é exportado pelas bombas, no Brasil, a estatística desnuda uma guerra interna em que o número de mortos em um único dia supera o saldo de conflitos declarados fora do país.istoedinheiro+2
O uso político das ações letais tanto no Rio de Janeiro, lideradas por Cláudio Castro, quanto em Israel, sob comando de Benjamin Netanyahu, revela estratégias de sobrevivência para ambos em cenários de baixa eficiência administrativa e desgaste de suas imagens públicas.esquerdaonline+2youtube
Cláudio Castro: Popularidade e Segurança
No Rio, a megaoperação que culminou em 132 mortes foi utilizada por Castro como resposta à cobrança por resultados frente ao avanço do crime organizado e à pressão eleitoral, especialmente da base conservadora. A ação, que aprofundou o modelo bélico na segurança pública, serviu para mobilizar o eleitorado de direita, agitar bases bolsonaristas e fortalecer seu projeto político, sendo Castro pré-candidato ao Senado. Analistas avaliam que, apesar da ineficiência histórica do enfrentamento direto ao narcotráfico, operações de alto impacto criam repercussão favorável em pesquisas e impulsionam o sentimento de ordem para setores que veem o Estado como único agente capaz de “fazer frente” às organizações criminosas.youtubegazetadopovo+2
Netanyahu: Sobrevivência Política em Gaza
Em Israel, Netanyahu ordenou ataques intensos à Faixa de Gaza logo após a quebra do cessar-fogo, em parte para se reposicionar politicamente, já que enfrentava impopularidade motivada pelo fracasso de segurança em 2023, com o ataque-surpresa do Hamas, além do desgaste causado pela longa duração do conflito. A adoção de postura agressiva, mesmo sob críticas internacionais, é lida como instrumento para retomar apoio da ala conservadora e militarista de seu eleitorado. O apoio dos EUA à mediação do cessar-fogo e ao endurecimento contra o Hamas tem fortalecido o premiê nas pesquisas recentes, apesar do prolongado desgaste interno.cnnbrasil+3
Paralelo de Ineficiência e Popularidade
Ambos líderes se valem de ações de força — ainda que pouco efetivas no enfrentamento estrutural dos problemas de segurança — para reforçar suas imagens junto às respectivas bases eleitorais. O uso político da violência, muitas vezes classificada como “necessária” ou “inevitável”, opera como narrativa de Estado forte diante da ausência de resultados concretos na pacificação social ou policial. Por outro lado, a alta letalidade evidencia a persistente falta de eficiência em políticas públicas que atacam causas profundas dos conflitos, gerando ciclos de violência prolongada e crises de popularidade em ambos os contextos.gazetadopovo+2youtube
- https://www12.senado.leg.br/radio/1/noticia/2025/10/29/operacao-policial-no-rio-com-132-mortos-sera-investigada-pela-comissao-de-direitos-humanos
- https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2025/10/29/atualizacao-numero-mortos-operacao-rio-de-janeiro.ghtml
- https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/sudeste/rj/numero-de-mortes-em-megaoperacao-no-rio-passa-de-120-diz-defensoria/
- https://exame.com/brasil/numero-de-mortos-sobe-para-132-em-megaoperacao-do-rio-diz-defensoria/
- https://www.cartacapital.com.br/sociedade/dezenas-de-corpos-sao-levados-por-moradores-a-ruas-do-rio-mortos-em-operacao-podem-passar-de-100/
- https://www.correiobraziliense.com.br/brasil/2025/10/7281295-balanco-da-policia-civil-confirma-119-mortes-em-megaoperacao-no-rio.html
- https://istoedinheiro.com.br/as-operacoes-policiais-mais-letais-da-historia-do-rio-de-janeiro
- https://www.dw.com/pt-br/megaopera%C3%A7%C3%A3o-policial-deixou-121-mortos-no-rio-diz-governo/a-74541208
- https://www.instagram.com/p/DQXXIH7EYD2/
- https://www.instagram.com/reel/DQaayYyAcCj/
- https://esquerdaonline.com.br/2025/10/29/massacre-de-claudio-castro-pl-quantos-mais-tem-que-morrer-para-essa-guerra-acabar/
- https://www.youtube.com/watch?v=Qg5DJIOo1EA
- https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/analise-trump-encurralou-netanyahu-mas-tambem-pode-ter-salvado-o-premie/
- https://www.gazetadopovo.com.br/mundo/acordo-fortalece-netanyahu-pesquisas-eleitorais-apontam-para-crescimento-do-governo/
- https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/guilherme-macalossi/rio-janiro-faixa-gaza-carioca-pistoleiros-ideologicos/
- https://tvtnews.com.br/mortes-rj-passam-130-castro-sucesso-tortura/
- https://www.dw.com/pt-002/m%C3%A9dio-oriente-netanyahu-ordena-fortes-ataques-na-faixa-de-gaza/a-74531006
- https://cnnportugal.iol.pt/aominuto/652125bed34e65afa2f62245
- https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2025-10/governador-reconhece-excesso-das-competencias-do-estado-em-operacao
- https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/sudeste/rj/analise-claudio-castro-mostra-irritacao-com-adpf-das-favelas/
- https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2025/10/28/declaracoes-de-autoridades-sobre-operacao-no-rio-revelam-falta-de-coordenacao-entre-governos-estadual-e-federal-no-combate-ao-crime-organizado.ghtml
- https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/sudeste/rj/policia-civil-faz-megaoperacao-no-complexo-de-israel-na-zona-norte-do-rio/
- https://www.brasildefato.com.br/2025/10/29/a-brutalidade-do-exterminio-legalizado/
- https://www.gazetadopovo.com.br/republica/confronto-e-alta-letalidade-eram-inevitaveis-em-operacao-policial-contra-o-comando-vermelho-no-rio/
- https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/imprensa-internacional-repercurte-megaoperacao-no-rj-cenas-de-guerra/
- https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2025-10/premie-israelense-ordena-ataques-poderosos-em-gaza
- https://www.dw.com/pt-br/o-que-se-sabe-sobre-a-opera%C3%A7%C3%A3o-policial-mais-letal-do-rj/a-74539036
- https://noticias.r7.com/cidades/claudio-castro-pede-dez-vagas-em-presidios-federais-apos-operacao-mais-letal-da-historia-do-rio-29102025/
- https://www.bbc.com/portuguese/articles/cvgknnjgmrxo
- https://sbtnews.sbt.com.br/noticia/politica/moraes-exige-explicacoes-de-claudio-castro-sobre-megaoperacao-no-rio
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Como deixar morrer um bar que nunca existiu…
Por: Rodrigo G. M. Silvestre
Vejo por todos os lados a comoção pelo fechamento do bar Kapele. Dizem que encerrou suas portas definitivamente, mergulhando Curitiba em um luto silencioso e profundo. Que há 51 anos, o bar clandestino foi o último refúgio de quem buscava vida, música e encontros autênticos; agora, apenas o vazio reverberante ocupa o lugar onde tantas noites se iniciaram e encerraram.
Mas como se lá nunca existiu um bar? Se ao passar pela Saldanha Marinho, luzes apagadas, não existe letreiro, não existe sinal de vida… Dizem, que só os iniciados sabiam de sua existência, que até senha era preciso murmurar para a Senhora na porta, que à boca pequena chamavam de Mara. Eu mesmo nunca vi… nunca vi nenhuma senhora sentada em uma cadeira do lado da porta, cobertor no colo para conter o frio lancinante da noite gelada de Curitiba. Que diziam contrastar profundamente com o calor, a fumaça e o som alegre que existia dentro.
Dizem que depois que Mara nos deixou, outra mulher incrível manteve seu legado. Mas como? não teríamos então ouvido falar dessa tal de Sil? Que pelo canto da porta controlaria o acesso de quem tinha ou não a honra de entrar no bar? Que mesmo autoridades, artista e magnatas, tinham que se colocar diante do escrutínio da esfinge? Certamente teríamos ouvido falar, haveriam registros, haveriam centenas de pessoas se manifestando nesse momento. Teria sido retumbado pelos quatro cantos do ciberespaço o mero risco de tal acontecimento.
Dizem que no último dia de funcionamento, poucos testemunharam o apagar das luzes do Kapele. Mas como, se esse bar “do avesso”, nem mesmo existia. Como poderia ter fechado? Se nesse espaço que não poderia caber nem mesmo uma pequena loja, como poderia ter sido um dos mais longevos símbolos da boemia curitibana e cenário de incontáveis histórias que formaram a alma da cidade. Eu mesmo jamais frequentaria um bar assim, sempre tive muito medo de caminha pelas noites frias e escuras do centro de Curitiba, ainda mais na alta madrugada. Um verdadeiro desatino. Caso tivesse ido, certamente me lembraria… lembraria?
Se por lá passaram pelas madrugadas muitos artistas, escritores, músicos e figuras anônimas, todos unidos pela cumplicidade do espaço clandestino e pela sensação de pertencimento. Porque então dizem que um tal Bardo Marinelli é que dominava a musica? Que em meio a dezenas de pessoas em um espaço que desafiava as leis das física de que dois corpos não podiam ocupar o mesmo lugar, trovava musica até além das três horas da manhã. Nem existem bares abertos em Curitiba as três da manhã… Um Marinelli assim seria conhecido, tocaria em outros bares, teria suas musicas cantadas por outros artistas e cantaria, ele também, o melhor de nossa cultura brasileira. Não, esse bar realmente nunca poderia ter existido.
Se esse tal de Kapele não era apenas um estabelecimento; era palco de movimentos culturais, da liberdade em tempos sombrios, da amizade que resiste à passagem do tempo. Agora, o vazio deixado por suas portas fechadas representaria a ausência de noites improvisadas, conversas eternas e música de violão preenchendo a sala. Haveria, caso realmente tivessem cometido o disparate de deixá-lo fechar, um silêncio que ecoaria muito além das paredes: um vazio histórico que Curitiba jamais conseguiria preencher.
Eu mesmo, se tivesse podido frequentar um bar assim, sentiria uma saudade pungente e a certeza de que o Kapele teria feito história justamente por desafiar convenções, acolher quem precisava de abrigo e marcar parte dos momentos mais sinceros da boemia curitibana. Sua ausência seria sentida não só por mim, nem só por seus frequentadores, mas por toda uma cidade que já saberia: jamais haveria outro como ele. Ainda bem que ele nunca existiu…?
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19 de Agosto: Uma Luta Diária por Dignidade e Moradia
Por: Paulo A. Bastos Júnior
O Dia Nacional de Luta da População em Situação de Rua, 19 de agosto, recentemente instituído pela Lei nº 15.187 e sancionada em 4 de agosto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é mais do que uma data no calendário. É um lembrete doloroso e urgente de uma luta que precisa ser travada todos os dias. A data remete a um dos episódios mais trágicos da história recente de nosso país, o “Massacre da Sé” em 2004, que chocou o Brasil e o mundo ao expor a extrema vulnerabilidade e a violência a que essa população é submetida.
Embora a moradia seja a pauta mais urgente e importante para os movimentos sociais, é crucial não esquecer que a dignidade plena passa também por outras frentes de luta. Sabe-se que a batalha se trava contra a indiferença de uma sociedade que, por covardia ou conveniência, elege nesse grupo social os seus maiores inimigos. Em vez de enfrentar os problemas estruturais que geram a pobreza e a exclusão, muitos grupos políticos preferem estigmatizar essa população por meio de proposições higienistas e desumanas, transformando-a em bode expiatório para seus fracassos. Assim o fazem porque encontram eco na sociedade, que reverbera suas ignomínias, refletindo-se em likes e, quem sabe, em votos mais adiante.
De forma controversa e irônica, talvez não baste a implementação de programas voltados diretamente à melhoria das condições de vida das pessoas em situação de rua. É preciso, simultaneamente, pensar em iniciativas de conscientização e esclarecimento humanizante para a grande maioria da população domiciliada, com forte predomínio de uma cultura cristã. Eis a ironia: muitos são assumidamente “fiéis”, mas não conseguem reconhecer, nas pessoas que vivem em condições de vulnerabilidade gritante, os seus “irmãos”, como nos pede a mensagem evangélica.
Saúde, educação e segurança alimentar e nutricional são direitos fundamentais que, quando negados, aprofundam o ciclo de exclusão. Contudo, o direito a uma moradia digna pode ser considerado o primeiro de todos os direitos do cidadão. No Brasil, as políticas públicas que o garantem são escassas e de alcance muito limitado. Nesse contexto, programas como o “Moradia Primeiro” (Housing First), que já possuem experiências piloto no Brasil, representam uma esperança. A premissa é simples e revolucionária: a moradia é um direito humano inegociável. O acesso direto e sem pré-requisitos a uma habitação permanente é o primeiro passo para que as pessoas possam, então, acessar outros serviços e reconstruir suas vidas. A superação da situação de rua não é um problema de escolha pessoal, mas sim de escassez de políticas públicas que abordem todas essas dimensões.
O combate ao preconceito, à aporofobia (o medo e a aversão aos pobres), ao descaso e à invisibilidade social são lutas permanentes que ultrapassam o limite temporal de um dia. A luta do dia 19 de agosto não pode se restringir a um único dia. É um movimento contínuo, de uma vida inteira, por justiça, por dignidade e, acima de tudo.
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Ainda sobre o orçamento mas também sobre eleições
Por Desiree Salgado
Decima Sexta coluna sobre o mundo e seu contexto.

Foto da Autora: Desiree Salgado -
Para onde vai o dinheiro? Ainda sobre o orçamento público
Por Desiree Salgado
Decima Quinta coluna sobre o mundo e seu contexto.

Foto da Autora: Desiree Salgado -
Orçamento Público
Por Desiree Salgado
Decima Quarta coluna sobre o mundo e seu contexto.

Foto da Autora: Desiree Salgado -

As favelas e o que ninguém observa – O Início
Republicado em parceria com: Thiago Carvalho – https://www.linkedin.com/pulse/favelas-e-o-que-ningu%2525C3%2525A9m-observa-in%2525C3%2525ADcio-thiago-carvalho%3FtrackingId=Zcn95u71QOSvQBQtu1a7VQ%253D%253D/?trackingId=Zcn95u71QOSvQBQtu1a7VQ%3D%3D
Eram “apenas” 13 mil comunidades no Brasil no ano de 2023. 5 milhões de domicílios tão diferentes, cheios de pluralidades unidos por uma única palavra: Favela
Vamos falar um pouquinho de história, então peguem um punhado de pipoca, mas não muito, pois serei breve.

Foto: GUI CHRIST É importante falar que a “descoberta da pobreza” só passou a ser importante no mundo, quando ela tornou-se um problema para as elites. No Brasil, claro que não foi diferente. E foi no Rio de Janeiro no século XIX que começaram a olhar os cortiços, local destinado à chamada “classe perigosa”. Considerados local de pobreza, era taxado como antro do crime e também de epidemias, constituindo uma ameaça às ordens públicas.
Relatos presentes em livros históricos, cunham o termo Favela como: – “Morro do Distrito Federal, antigo da Providência”; Termo latino que significa pequena fava; Pequena colina na região da Bahia que vieram os primeiros migrantes para o Rio;
Veja, a descrição histórica já é carregada de preconceitos de um problema social criado pela própria sociedade.
Mesmo hoje, é muito difícil você ouvir a palavra Favela e não ter julgamentos predefinido criados pelo nosso cérebro, após absorver grande parte de notícias midiáticas em que só retratam violência, tráfico e outras coisas ruins vinculadas às periferias.
Contemporaneamente as favelas são descritas como habitação popular, após perder todos os termos pejorativos.
Eu sei que é difícil admitir, mas na maioria dos casos é isso que eu, você e tantas outras pessoas podemos pensar, de forma involuntária.
Tá, mas se as Favelas não são isso, o que elas são?
São ambientes complexos e multifacetados com dinâmicas sociais únicas. É o lar de diversas pessoas abandonadas pelo sistema. Pessoas que se juntam em um local mais periférico para construir seus sonhos. É ter um local para morar, ficar, após ser abandonado pelo estado, carente de políticas públicas que possam abraça-las e dar uma vida digna que todas elas merecem. É um local seguro, longe das ruas, para poder sonhar.
É poder construir uma vida.
Gostou?
Esse é só o início da nossa série de artigos sobre As favelas e o que ninguém observa
Autor: Thiago Carvalho
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Feminicídio
Por Desiree Salgado
Decima Segunda coluna sobre o mundo e seu contexto.

Foto da Autora: Desiree Salgado -
NOTA DE REPÚDIO
Nenhum agente público acima da lei!
Nenhum órgão de Estado acima da justiça, da democracia e dos direitos humanos!O Movimento Nacional de Direitos Humanos – Articulação Maranhão e a Defensoria Pública Estadual do Maranhão – Execução Penal de Imperatriz , no dia 21 de julho, foram surpreendidos com a determinação autoritária e arbitrária da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária SEAP, de transferir todas as mulheres do presídio de Davinópolis -MA e outros municípios para São Luís, mesmo com a posição contrária do Conselho de Segurança Pública, desconhecimento do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania e do Conselho Estadual da Mulher e das respectivas secretarias dos referidos conselhos.
O entendimento do poder Executivo é que na unidade de destino será possível garantir acesso a trabalho, formação profissional e estudo às presidiárias, conforme preconiza a Lei de Execuções Penais (LEP).
Vale destacar que para tais fins de reintegração social das apenadas(os), a Lei de Execução Penal tem por objetivo proporcionar condições para a harmônica integração social das mesmas (os), assegurando-se todos os direitos não atingidos pela sentença, incluído o direito à visita de parentes e amigos e a permanência em local próximo ao seu meio social e familiar (Arts. 1º, 3º, 41, 42 e 103). O artigo 103 prevê expressamente que o apenado cumprirá pena junto ao seio familiar, veja-se:Art. 103. Cada comarca terá, pelo menos, 1 (uma) cadeia pública a fim de resguardar o interesse da Administração da Justiça Criminal e a permanência do preso em local próximo ao seu meio social e familiar.
Ainda, a Resolução nº 16/2003 do Conselho Nacional de Política Criminal Penitenciária, em seu artigo 6º, apontam diretrizes básicas para a administração penitenciária, veja-se:Art. 6º – São diretrizes referentes à administração penitenciária: [..]
II – Cumprimento de pena privativa de liberdade em estabelecimentos prisionais próximos à residência da família do condenado;
Assim sendo, uma vez no cárcere, deve ser possibilitado ao indivíduo o recolhimento perto da sua família, em respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana e para que a pena possa servir ao seu fim, que é o de contribuir para a ressocialização da apenada.
Repudia a decisão do Estado do Maranhão em descumprir a Constituição Federal, que veda o tratamento desumano, cruel e degradante, do Código Penal e do Código de Processo Penal, que dispõem sobre o tratamento específico para as mulheres privadas de liberdade, bem como a normativa internacional, por meio das Regras de Bangkok, que reconhecem as especificidades das mulheres sujeitas ao sistema prisional;
Repudiamos a ausência de políticas públicas que enfrente adequadamente as vulnerabilidades decorrentes das especificidades das mulheres, aumentando as desigualdades de gênero e violando direitos para além de limitar a liberdade;
Repudiamos a ausência de políticas públicas especialmente destinadas às mulheres voltadas à sua ressocialização, pois quando egressas do sistema prisional não são reinseridas no mercado de trabalho formal.Defendemos:
● O monitoramento rigoroso dos impactos dessas transferências em cada presa e seus familiares;
● O compromisso do Estado em garantir apoio financeira dos familiares para visita das presas;
● A garantia do atendimento virtual das presas transferidas pela Defensoria para fins de escuta sobre a anuência da transferência dentre outros direitos e encaminhamentos jurídicos necessários conforme as legislações em vigor;
● A priorização da vara de execução penal de São Luís sobre os processos pendentes referentes às presas transferidas;
● Pela manutenção da regionalização dos presídios femininos no Maranhão, com estrutura prevista na LEP.Associação de Gays, Lésbicas e Profissionais do Sexo – AGLEPS
Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente Pe. Marcos Passerini
Centro de Defesa dos Direitos Humanos e da Natureza de Buriticupu
Centro de Defesa dos Direitos Humanos Pe. Josimo
Centro de Direitos Humanos Antônio Genésio – CDHAG
Centro de Direitos Humanos de Barreirinhas – CDHB
Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos Carmen Bascarán de Açailândia
Centro de Cultura Negra
Conselho Carcerário de Imperatriz – Pe. Elisvaldo Cardoso – Presidente
Defensoria Pública do Estado do Maranhão – Núcleo de Execução Penal de Imperatriz
Fórum Maranhense de Mulheres
Fórum de Mulheres de Imperatriz
Frente Maranhense pelo Desencarceramento
Grupo Gayvota
Movimento Nacional de Direitos Humanos – Articulação do Piauí
REVOAR: Grupo de Familiares e Amigos de Pessoas Privadas de Liberdade do Maranhão
Sociedade Maranhense dos Direitos Humanos – SMDH
União Estadual de Apoio a Moradia Popular -

Mães e pais de rua são separados de crianças após parto em Curitiba
Republicado em parceria com: Agência de Noticias das Favelas – ANF
Foto destacada: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Magra, vestindo roupas largas e evitando ruas movimentadas, mal dá para perceber que Viviane Nascimento Araújo, de 31 anos, está no oitavo mês de gravidez. Em sua terceira gestação nas ruas, ela se esconde do julgamento de quem passa e, principalmente, das equipes do Conselho Tutelar. Seu primeiro parto aconteceu no dia 14 novembro 2007, em Curitiba.
“Tive meu primeiro filho com 16 anos. O Gabriel nasceu saudável, tive ele em um hospital público no centro da cidade, foi parto normal. Eu vi na incubadora, ele segurou meu dedinho e sorriu. A assistente social e a enfermeira disseram para eu chamar a minha família e voltar no mesmo dia, para amamentar. Voltei poucas horas depois, meu menino não estava mais lá”, conta Viviane, com lágrimas nos olhos.
Aos 14 anos, ela já morava nas ruas. Órfã de mãe, enfrentava violência sexual e doméstica do tio, alcoólatra, que agredia sua tia e as próprias filhas. Viviane passou um ano transitando entre terminais de ônibus e o centro de Curitiba. Eventualmente, passava pela triagem das equipes de assistência social, mas, mesmo sendo adolescente, nunca foi encaminhada para um abrigo.
Aos 15 anos, conheceu a cocaína e o crack e se tornou dependente química. Uma no depois, conheceu Marcos Alceu, de 48 anos, também morador de rua e dependente químico, de quem engravidou pela primeira vez.
“Marcos me acompanhou durante toda a gravidez, ele é alcoólatra, mas não é violento, teria sido um bom pai. Quando dei entrada no hospital, não deixaram ele me acompanhar, por ser morador de rua”, relata Viviane.
Viviane saiu da maternidade 24 horas após dar à luz, em busca do seu companheiro, para levarem o filho para casa da sogra e começar uma nova vida. Mas, ao voltarem ao hospital, em menos de três horas, o Conselho Tutelar havia levado Gabriel para o acolhimento. Viviane e Marcus nunca mais tiveram qualquer informação sobre a criança.
Falta de dados e invisibilidade da população de rua

Foto: Gerson Klaina De acordo com dados de julho de 2022 do Cadastro Único do governo federal, Curitiba é a capital do Sul do país com mais gente em situação de rua. São 3.087 pessoas registradas. Mas as autoridades reconhecem que esse é número subnotificado pela dificuldade de acessar e realizar a inscrição no Cadastro.
A assessora jurídica do Núcleo de Promoção e Defesa dos Direitos das Mulheres (NUDEM), da Defensoria Pública do Estado do Paraná (DPE-PR), Camila Mafioletti Daltoé, aponta a dificuldade em obter dados reais sobre a população em situação rua.
Diante disso, surgem algumas iniciativas, como o Grupo Mães de Rua. Ele une a Defensoria Pública do Paraná, a Rede de Proteção da Infância, profissionais da área da saúde que atuam no Consultório na Rua, além de movimentos socais e do terceiro setor, como a ONG Mãos Invisíveis, INRUA. Inclui também profissionais da prefeitura.
O Grupo Mães de Rua busca evitar o acolhimento institucional de recém-nascidos de mulheres em situação de rua e usuárias de substâncias psicoativas, com atuação nas regionais Boa Vista, Matriz, Cajuru e Portão.
“Não há um mapeamento de quem são essas mulheres, onde elas estão, quais as dificuldades enfrentadas por elas, o que os serviços públicos oferecem para a essa população. Estamos em contato com diferentes instituições que atuam com população em situação de rua para conseguirmos transpor as barreiras da falta de políticas públicas, a mesma falta de políticas que resultem na negação da maternidade para essas mulheres”, afirma Camila.
União em defesa das mães
Tamíres Oliveira, assistente Social do Núcleo de Promoção e Defesa dos Direitos das Mulheres (NUDEM) da Defensoria Pública do Paraná também integra o Grupo Mães da Rua e explica que casos como o de Viviane e Marcos são comuns.
“Muitos casos chegam à Defensoria Pública sem que a mãe tenha qualquer informação sobre o processo. A equipe que notificou o Conselho Tutelar, o Ministério Público e todos os outros agentes citados no processo não repassaram qualquer informação à família”.
Tamíres afirma que, em Curitiba, não há políticas de amparo para essas famílias e que o atendimento pelos serviços públicos pode causar medo às gestantes.
“Não há uma casa da gestante, ou casas de passagens que acolham casais. E o fato da gestante estar em uma casa de passagem é visto como negativo, como se a mãe não tivesse a capacidade protetiva para criança. Mas como a mãe que está sendo protegida pelo Estado nas casas de passagem é vista como ameaça? Não faz sentido esse olhar punitivo e conservador”, afirma Tamíris.
Ainda segundo as integrantes do Grupo Mães da Rua, não há uma solução pronta para o problema. É preciso de um trabalho de combate à desproteção social e a efetivação de políticas públicas integradas e efetivas.
“Campinas tem uma casa de acolhimento para gestantes em situação de rua, existem situações de êxito e respeito para maternidade dessas mulheres. Precisamos romper com o olhar conservador e cumprir o papel do Estado em proteger essa população”, afirma Camila.
A luta diária pelo direito de ser mãe na rua

Foto: Arquivo/Marcelo Elias/Gazeta do Povo. Em frente ao terminal de ônibus do Guadalupe e ao lado da Igreja de mesmo nome, Isabel Cristina Lopes aguarda seu filho chegar da escola. Não citaremos seu nome, mas ele tem quatro anos e estuda em um dos Centro Municipais de Educação Infantil (CMEI) do centro de Curitiba. Seu pai, Josimar Silva, leva e busca Bruno todos os dias na escola.
“Já me denunciaram na escola por eu ser sem teto, chamaram o Conselho Tutelar, mas eu e o Josimar sempre dormimos em lugares diferentes, não ficamos nos mesmos espaços, não vão levar meu filho”, afirma Isabel.
Bruno é o segundo filho de Isabel e o quinto de Josimar. Isabel também é mãe de Maria Aparecida de Jesus, que nasceu me 2011 também em Curitiba. Josimar tem quatro filhos dos quais não possui a guarda.
Isabel se separou de sua filha com menos de seis meses de idade, quando a justiça determinou que ela não apresentava condições de exercer a maternidade e sua filha foi encaminhada para uma casa de acolhimento de crianças e adolescentes.
Dois dos filhos de Josimar moraram com os avós até os oito e seis anos, quando também foram acolhidos pela Justiça e logo foram destituídos do poder familiar e seguiram para adoção. Seus outros filhos, nascidos 2018 e 2020 vivem com a irmã de Josimar, que os visita aos finais de semana.
Em seu primeiro parto, Isabel sofria de dependência química e foi encaminhada, junto com a filha, para um centro de reabilitação. Mas, assim que terminou a estadia determinada pela Justiça Estadual, sua filha foi encaminhada para o acolhimento institucional e Isabel e nunca mais teve notícias.
Destituição está prevista no ECA
De acordo com a advogada Bruna Bhal Emiter, essas decisões de acolhimento e destituição seguem o artigo 23 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que institui que na falta de recursos materiais, a família deve ser encaminhada a serviços e programas oficiais de proteção e apoio.
De acordo com Bruna, o sistema judiciário identifica a falta de consultas médicas, sintomas de abstinência, e vícios são usados como elementos que justificam a retirada da criança da mãe.
“Infelizmente, a Justiça pune as mães, pais, famílias com decisões punitivistas e preconceituosas. Não é oferecido para essa mãe a maternagem, as condições são apenas para punir. Há pouco esforço em procurar a extensão familiar ou sequer procurar o pai. É todo um sistema para punir mulheres e crianças”, afirma a advogada.
Depois de experiências tão ruins, Isabel e Josimar não confiam nos serviços de atendimento à população de rua. Evitam postos de saúde e até mesmo o Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI)
“Lá eles não sabem ainda que moramos na rua. Todo o dia eu recolho meu colchão, minhas coisas, e mudo de lugar. Eu e meu filho tomamos banho em uma pastelaria que me cede o banheiro. Logo iremos para uma ocupação, começar a nossa vida, mas por enquanto é isso. Eu tenho medo da professora querer tirar ele de mim”, preocupa-se Isabel.
Eu nunca abandonei
“Eu nem sei como é o rosto dele. Rezo todos os dias para que Gabriel esteja bem e seja amado como eu o amo, mesmo sem conhecer. Eu acredito que Deus deu um lar com amor para ele”, diz Viviane.
“Às vezes eu ando nas ruas olhando para as meninas da idade de Maria Aparecida. Ela tem 12 anos. Olho todas as meninas mesmo, as dentro do ônibus, de escola particular, de rua, eu vejo se é meio parecida. Eu quero encontrar ela, nem que seja para dizer que eu nunca a abandonei, que eu sou a mãe dela”, afirma Isabel, em lágrimas.
A história de Viviane, Isabel e de tantas outras mulheres convive diariamente com a saudade, a dor e a incerteza sobre como e onde estão seus filhos. Segundo dados do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), existem quase 34 mil crianças e adolescentes abrigadas em casas de acolhimento e instituições públicas por todo país.
Destas, 5.040 estão totalmente prontas para a adoção, sendo 1.203 crianças encaminhadas para adoção por destituição familiar.
Conselho Tutelar explica procedimentos
Claudia de Lara, coordenadora do Conselho Tutelar de Curitiba explica que quando recebem notificação de gravidez ou sobre crianças em situação de rua, o primeiro passo é acionar a rede de proteção à infância, realizar a busca ativa por familiares e buscar a amparo da pessoa gestante. Somente quando são esgotadas todas essas alternativas, começa o processo de destituição familiar.
A destituição familiar é o processo legal em que a autoridade competente decide retirar a guarda de uma criança de seus pais ou responsáveis devido a situações de abuso, negligência grave ou outras circunstâncias que coloquem a criança em risco.
A destituição familiar ocorre quando é determinado que o ambiente familiar não é seguro ou adequado para o bem-estar da criança. A decisão é tomada visando proteger seu interesse, garantir segurança e desenvolvimento saudável.
Já o acolhimento é uma medida de proteção que busca oferecer um ambiente temporário para crianças que foram removidas de suas famílias devido a situações de risco. O acolhimento pode ocorrer em instituições especializadas, como abrigos ou lares substitutos, onde as crianças recebem cuidados, apoio emocional e a oportunidade de desenvolver-se em um ambiente estável enquanto as circunstâncias familiares são avaliadas.
A destituição familiar envolve a perda da guarda da criança pelos pais ou responsáveis legais. O acolhimento é uma medida temporária. O objetivo final é sempre buscar a reunificação familiar quando for possível e seguro para a criança, ou, quando necessário, encontrar uma família adotiva.
Por: Raíssa Melo
@rsm_raissa
