Batalhão neonazista Azov da Ucrânia (Imagem: Reuters)

 

Nenhum conflito surge porque em um belo dia um estadista acordou de péssimo humor e decidiu invadir um país.

Embora a mídia ocidental queira dar a impressão que seja dessa forma, dando à guerra um caráter moral ou psicologizante dos atores envolvidos. Dividindo o mundo entre “mocinhos” e “vilões”. Contudo, a situação é muito mais complexa.

Para entendermos a guerra na Ucrânia é imprescindível voltarmos para o período da Guerra Fria. Quando do surgimento da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em 1949.

Essa aliança militar – encabeçada pelos EUA – tinha o objetivo de proteger os países capitalistas europeus de supostas investidas políticas e militares da antiga União Soviética e aliados.

O que resultou em uma divisão geopolítica da Europa entre socialismo e capitalismo, que ficou conhecida como Cortina de Ferro.

Em resposta à OTAN, a URSS organizou o Pacto de Varsóvia em 1955. Com o mesmo objetivo de salvaguardar os países socialistas do Leste Europeu e a própria URSS.

 

 

Decisões Geopolíticas Caras no Futuro

 

A grande questão é: se a OTAN foi criada para combater o socialismo, por que mesmo com o fim da URSS e do socialismo no Leste Europeu, a aliança militar continuou a existir?

Aliás, não apenas continuou a existir como também incorporou mais países. E o que é pior, agregou ex-repúblicas do bloco socialista e ex-repúblicas soviéticas que fazem fronteira com a Rússia.

Se desde 1991 não existe mais a URSS, quem é o novo inimigo da Europa capitalista? A Rússia capitalista? Se ela não é o inimigo a ser combatido, por que não a convidam para compor a OTAN?

Obviamente, os estadistas russos sabem muito bem que o Ocidente ainda encara a Rússia como sua inimiga.

 

 

Breve Histórico da Ucrânia (subtítulo)

 

A região que hoje é a Ucrânia esteve por séculos sob o domínio dos czares russos e em 1922 foi incorporada à URSS. A Ucrânia só se tornou um Estado independente após a desintegração da URSS em 1991.

Com o fim do socialismo na Europa, ficou acordado entre os membros da OTAN que a organização não deveria mais se expandir em direção à Rússia. Como mencionado acima, isso não ocorreu.

A Ucrânia é o país de maior fronteira com a Rússia no Leste Europeu e não é membro da OTAN. Os dois países sempre tiveram relações estreitas do ponto de vista cultural. Muitos ucranianos são russos étnicos e falam o russo, sobretudo no leste da Ucrânia.

O governo ucraniano de Víktor Yanukóvytch, eleito em 2010, tinha boa relação com a Rússia. Tentava manter os ânimos controlados entre os ucranianos do oeste e russos étnicos do leste da Ucrânia. Esta última região dava maior apoio político e eleitoral a Yanukóvytch.

Há uma rivalidade histórica entre essas duas regiões. O oeste tem mais afinidade com a Europa ocidental e possui uma identidade nacionalista ucraniana. O leste tem maior relação com a Rússia e sua cultura.

Em 2013, Yanukóvytch decidiu que a Ucrânia não faria parte da União Europeia, o que revoltou parte da população do oeste ucraniano.

Essa revolta gerou um movimento chamado Euromaidan. Muitos desses manifestantes eram pessoas comuns insatisfeitas com o governo Yanukóvytch.

No entanto, muito parecido com o que ocorreu no Brasil em Maio de 2013, essa manifestação passou a ser cada vez mais infestada por neofascistas.

Muitos autores defendem que houve uma “Revolução Colorida” na Ucrânia, quando um país é vítima de sabotagem financiada por potências estrangeiras para depor um governo que não é do seu interesse.

O grupo ultranacionalista Setor Direita e o partido neofascista Svoboda, tomaram a liderança das manifestações à medida que aumentava a violência policial.

Com sua impopularidade em alta, Yanukóvytch foi deposto pelo parlamento ucraniano e seu governo foi substituído por uma coalizão de liberais e neofascistas do Svoboda.

Inevitavelmente, os ucranianos do leste ficaram revoltados com a composição do novo governo que não os representava. Não demorou muito para que os ucranianos do leste fossem perseguidos pelo governo neofascista.

A maior insatisfação contra o governo se deu na região da Crimeia, de população majoritariamente russa étnica. Foi a oportunidade perfeita para Putin anexar a região em 2013, legitimado por um referendo que optou pela anexação à Rússia.

As províncias de Donetski e Loganski, com apoio russo, também realizaram referendos que resultaram em suas independências. Por não aceitar a soberania dessas regiões, o governo ucraniano deu início a uma guerra civil.

Por conta da ineficiência das forças armadas ucranianas, elas foram auxiliadas por grupos paramilitares neonazistas – como o Batalhão Azov – no combate à independência de Donetski e Loganski. Conflito que prossegue até os dias atuais.

Inclusive, o ministro do interior ucraniano, Arsen Avakov, incorporou o Batalhão Azov à Guarda Nacional do país. Não por coincidência, partidos, grupos, movimentos e indivíduos de esquerda são perseguidos na Ucrânia.

Os EUA financiavam – por meio de dinheiro, treinamento e armamento pesado – o novo governo ucraniano e esses “rebeldes” que lutavam pela “liberdade” e “democracia” contra a “tirania” russa.

Em 2021, EUA e Ucrânia votaram contra a resolução da ONU que condenava a glorificação do nazismo. A razão é muito simples, mesmo que esses países não sejam propriamente neonazistas, eles sabem que num eventual processo de radicalização, os neonazistas serão sua tropa de choque.

Crimes de ódio contra homossexuais e judeus só têm aumentado na Ucrânia nos últimos anos. O colaboracionista do nazismo durante a II Guerra Mundial, Stepan Bandera, foi alçado a herói nacional ucraniano.

A guerra civil teoricamente teria fim com o Acordo de Minsk, estabelecido entre os governos ucraniano e russo. O primeiro não cumpriu o que prometeu e continuou a atacar as províncias independentes de Donetsk e Lugansk.

 

 

Contribuição do Governo Zelensky ao Conflito (subtítulo)

 

Desde que chegou ao poder, o atual presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, dissolveu o parlamento ucraniano, instigou guerra contra províncias independentes e pôs em prática uma política externa pró-Ocidente. O governante ucraniano foi encorajado por Joe Biden a ter a Ucrânia incorporada à OTAN.

O que, inevitavelmente, por se tratar de um país que faz enorme fronteira com a Rússia, ao se sentir ameaçado, Putin deu início à guerra que todos estamos vendo.

Putin tenta colar a pecha de que a população ou o Estado ucraniano é neonazista para legitimar o ataque. O que não é verdade. Entretanto, é inegável a forte influência que o neonazismo tem penetrado o Estado e a sociedade civil ucraniana.

Não à toa, a neofascista bolsonarista, Sara Winter, diz ter sido treinada na Ucrânia. Manifestantes bolsonaristas exibem bandeiras ultranacionalistas ucranianas e dizem que vão “ucranizar” o Brasil.

Putin não tem absolutamente nada de comunista ou progressista. Ele é membro do partido de direita Rússia Unida, com fortes relações com a Igreja Ortodoxa Russa. O governante russo é extremamente conservador nos costumes e avesso à causa LGBTQI+.

Portanto, é absurdo argumentarem que Putin deseja recriar uma nova União Soviética a partir da guerra com a Ucrânia. Ele é um grande aliado da burguesia russa. É um contrassenso que a esquerda seja entusiasta do governo Putin.

 

Em Defesa da Soberania dos Povos (subtítulo)

 

Os verdadeiros democratas devem:

1) se opor à guerra entre Rússia e Ucrânia.

2) defender a não ingerência de EUA e Ocidente – por meio da OTAN – para coagir militarmente adversários políticos.

3) prezar pela autodeterminação dos ucranianos que não se sentem representados pelo Estado nacional.

Não podemos esquecer que nosso país também elegeu um presidente neofascista. Nem por isso podemos afirmar que nosso povo é fascista.

Obviamente, na Ucrânia, o neonazismo está muito mais entranhado no Estado e sociedade civil do que por aqui.

Entretanto, há uma grande parcela da população ucraniana que não coaduna com o fascismo e não é neonazista. Os verdadeiros democratas devem zelar pela vida da população vítima desse conflito.

 

Meu nome é Célio Roberto Ribeiro de Andrade. Tenho 38 anos, nascido e criado na Vila Nova Cachoeirinha, periferia da zona Norte de São Paulo, reduto do samba paulistano. Sou formado em história e graduando de Relações internacionais pela Universidade Federal de São Paulo. Sou professor de história da rede Objetivo e educador popular dos cursinhos populares pré-vestibulare, Cursinho Livre da Norte e Cursinho Popular do Paraisópolis.