Categoria: Volume II * nº. 3 * Março de 2022

Edição de Março de 2022 do Jornal América Profunda

  • A IRMÃ MAIS VELHA DA LIBERDADE

    ESCRITO POR JOÃO MARTIN XAVIER DA SILVA

    “Con su Permiso”, segue algo que vivencio, desde não saber o que saber  significava. Apesar do título ser quase uma chamada publicitária, jamais a manchete da 1@ pagina e muito menos “trending topics” soar quase tão “NAIIFF” que mereça uma primeira estrofe ERA UMA VEZ…

    O que segue   tem o peso de correntes de ferro, o barulho de um disparo, um grito mudo da mãe que perde um filho, o timbre particular do choro de uma mulher, um pai ou uma criança. Tem cheiro da pólvora desde as ocas, pelos quilombos que continua e ecoar sem fim pelas favelas da máquina neoliberal de moer carne humana. Tem a mesma estrela do “CHERIFE”, que empurrou, para dentro de grandes navios mulheres e homens, Marias, Terezas, muitos João y Juanes;  negros, brancos, amarelos, vermelhos e verdes.A estrela Brilhante do “CHERIFE”, também era a última que judeus, na Alemanha viam antes de serem sumariamente assassinados.

    … Desde minha infância, Piá, guri, pibe e não a dos porta retratos, nem a de brincar na rua Mamoré, em la calle Elcano Rivadavia com meus amigos da rua, o com mis primos em las tan soñadas vacaciones en Capital Federal, do pinhão a empanada, “culito pa’riba” como decia mi abuela Cristina Maria. Desde que me lembro por gente, quando na presença da injustiça, quase perfeita no reflexo da ácida lágrima de uma mãe que só é pobre quando não tem as armas para defender seus filhos, sempre que as insuperáveis toneladas que a opressão com seu pé pesado no pescoçodos povos brasileiro e argentino lationoamericanos

    Seja o brilhante sapato do general seja o coturno de um marreco ou a caneta de um deputado, vereador, senador da república…, deles e por fim, “last but not least” o cheiro de enxofre que sinto quando a ganância dos homens nubla a já vendada justiça e acaba com a migalha de paz, as quais, as mulheres e homens de bens se agarram para cruzar o deserto cotidiano da falta de oportunidades de levar uma vida digna.

    Ou seja, sempre que a INJUSTIÇA em qualquer das formas acima, or else, encurrala minha humanidade me vejo em uma praça.

    Na verdade apesar de ser um pesadelo, tem um pouco de sonho… e acabo nessa plaza que está entre avenida Pueyrredón y la facultad de arquitectura de la Universidad de Buenos Aires. Como toda plaza porteña tem bancos, pombas, cheiro de “garrapiñada” y um carrossel (calecita). Abuelos, estudiantes, madres con bebés, trabajadores, enamorados de primera o muchas viajes enfin gente brincando na praça.

    E isso! saio do curral e vou parar nessa praça…

    Onde sempre vejo uma pequena menina, sim, ela é uma menina mas é curiosamente bem menor que suas amigas. Sim, cada vez que a injustiça me choca e mumifica acabo encontrando essa pequena menina que não envelhece, acho que a primeira vez que a vi tinha 6 anos, hoje tenho 46 e ela continua bem pequena, bem menina.

    Não lembro exatamente, o que me levou a conversar-nos a não ser minha mal vestida mas intrépida curiosidade. Ela se chama liberdade, LIBERTAD.

    Como toda conversa aos pés del cerro catedral ou as margens do rio Tapajós na nossa distante Rondônia o papo começa pelo clima, vai chover? Vai nevar?

    Mas logo esta frágil mais indestrutível menina me guia por esse sentimento de injustiça e disso lembro bem porque foi a primeira vez que ela me falou sobre sua irmã mais velha? A Revolução.

    Liberdade é a caçula de quatro filhos que o Amor e a Humanidade tiveram 2 hombres y dos mujeres.

    La menina, fala com tanto orgulho da irmã que ilumina o pesadelo, como ver na escuridão, ao entender e sentir a fria e áspera mão da injustiça.

    Bom, os lindos cabelos vermelhos da Revolução, segundo a caçula, quase não vieram ao mundo. Porque sua mãe teve hemorragia e por mais serena que Dona Humanidade fosse, disse a mãe da pequena Liberdade que pariu sua primogênita do sangue e que parte do temperamento muito forte da irmã, são indissociáveis da sua natureza.

    Aqui posso terminar sem explicar porque se eu fosse você não leria este artigo até o fim se você se sente livre quando teu igual está preso.

    Se chegou ate aqui e não “deu liga” pode parar. Porque esta provocação e para quem não admite a INJUSTIÇA e pode fazer algo contra ela, afinal:
    NO HAY REVOLUCIÓN SIN SANGRE, MAS COMO SOMOS UM POVO ORDEIRO E NÃO SANGUINÁRIOS COMO FAZER A REVOLUÇÃO QUE NOSSO POVO MAIS HUMILDE PRECISA ?

    Todos, na surrealista matemática da falsa democracia, a maioria, sabem o que é uma INJUSTIÇA e imagino que, como eu, sofrem.

    Lógico! o limite da dor, é o desemprego, a família, e não porque o emprego seja mais importante que a família: a bom entendedor …

    Na verdade, a maioria NÃO trocaria nem num programa de auditório nem na surdina a liberdade dos outros, dos que não tem; por uma casa própria, um belo carro, férias; desde que, também a conta do banco cresça . E NÃO SE ASSUSTE PEQUENO OU GULOSO, PACATO OU HISTÉRICO GAFANHOTO.

    É SIMPLES. NÃO SOMOS COVARDES IMAGINO QUEM NÃO SABEMOS COMO INICIAR UMA REVOLUÇÃO PARA RECUPERAR E O QUE É NOSSO, PORQUE O ESTADO NÃO É DOS POLÍTICOS NEM DOS RICOS. É DO POVO, E NÃO SE ENGANE, TAMBÉM NÃO É DA NAÇÃO. É DO POVO, É NOSSO DOS BRASILEIROS E DOS ARGENTINO.
    E VC BUSCA A OPORTUNIDADE DE DAR UM GOLPE NA CARA DESSA “JUSTIÇA” VENDADA, DA INJUSTIÇA ESCANCARADA. que como master mind de um filho da puta de um político mau caráter que só entrou na vida pública pelo privado, para enriquecer as custas do erário ou seja E Do  do sangue do povo, e para ter mais poder para dedicar USAR o voto de SEU eleitor, para roubar e vencer sua particular guerra contra seus desafetos políticos, seja em qual arrabal esse.
    Afinal, VC É SE IDENTIFICA MAIS COM QUAL DAS ALTERNATIVAS ABAIXO

    1. O QUE EU GANHO COM ISSO?????
    2. ONDE ASSINO OU COMO PARTICIPO DA PRIMEIRA REVOLUÇÃO NÃO ARMADA DO BRASIL

    ESTA TERTÚLIA FOI PARA OS LETRA B, DE BRASIL.

    A  LUTA CONTINUA,  CONFIRA NA PRÓXIMA  EDIÇÃO:

    OS MELHORES  AMIGOS DA IRMÃ MAIS VELHA  DA  LIBERDADE:  A REVOLUÇÃO

  • Cobertura da Filiação de Roberto Requião ao Partido dos Trabalhadores (PT)

    Por: Rodrigo G. M. Silvestre

    Foto: Rodrigo Silvestre

    O Jornal América Profunda realizou a cobertura do evento de filiação de Roberto Requião ao Partido dos Trabalhadores no dia 18 de março de 2022.

    O evento realizado no Expo Unimed no Município de Curitiba/PR contou com a presença de movimentos sociais, autoridades como senadores e deputados, bem como um grande número de pessoas que foram especialmente para ver a filiação de um dos fundadores do MDB do Paraná ao Partido dos Trabalhadores.

    Foto: Rodrigo Silvestre

    O evento marcou o retorno de o Ex-Presidente Luiz Inácio “Lula” da Silva a Curitiba, cerca de três anos após sua libertação do prédio da Polícia Federal. O Ex-Presidente reencontrou diversos integrantes do movimento da Vigília Lula Livre, que puderam ter um momento em particular com Lula para registrar a participação de cada um.

    O registro do discurso do Ex-Presidente foi marcado pela exaltação à entrada de Roberto Requião para as fileiras do PT, possivelmente para concorrer nas eleições para o governo do Estado do Paraná em outubro. O Ex-Governador por meio de um longo discurso expressou as necessidades do estado e o foco de sua possível candidatura.

    A cobertura do Jornal América Profunda registrou o discurso do Ex-Presidente Lula, que pode ser conferido abaixo.

    https://youtu.be/wlyATG-GIP4

    https://youtu.be/dwMesUPnIYU

  • Antecedentes da Guerra na Ucrânia

    Por: Célio Roberto

    Batalhão neonazista Azov da Ucrânia (Imagem: Reuters)

     

    Nenhum conflito surge porque em um belo dia um estadista acordou de péssimo humor e decidiu invadir um país.

    Embora a mídia ocidental queira dar a impressão que seja dessa forma, dando à guerra um caráter moral ou psicologizante dos atores envolvidos. Dividindo o mundo entre “mocinhos” e “vilões”. Contudo, a situação é muito mais complexa.

    Para entendermos a guerra na Ucrânia é imprescindível voltarmos para o período da Guerra Fria. Quando do surgimento da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em 1949.

    Essa aliança militar – encabeçada pelos EUA – tinha o objetivo de proteger os países capitalistas europeus de supostas investidas políticas e militares da antiga União Soviética e aliados.

    O que resultou em uma divisão geopolítica da Europa entre socialismo e capitalismo, que ficou conhecida como Cortina de Ferro.

    Em resposta à OTAN, a URSS organizou o Pacto de Varsóvia em 1955. Com o mesmo objetivo de salvaguardar os países socialistas do Leste Europeu e a própria URSS.

     

     

    Decisões Geopolíticas Caras no Futuro

     

    A grande questão é: se a OTAN foi criada para combater o socialismo, por que mesmo com o fim da URSS e do socialismo no Leste Europeu, a aliança militar continuou a existir?

    Aliás, não apenas continuou a existir como também incorporou mais países. E o que é pior, agregou ex-repúblicas do bloco socialista e ex-repúblicas soviéticas que fazem fronteira com a Rússia.

    Se desde 1991 não existe mais a URSS, quem é o novo inimigo da Europa capitalista? A Rússia capitalista? Se ela não é o inimigo a ser combatido, por que não a convidam para compor a OTAN?

    Obviamente, os estadistas russos sabem muito bem que o Ocidente ainda encara a Rússia como sua inimiga.

     

     

    Breve Histórico da Ucrânia (subtítulo)

     

    A região que hoje é a Ucrânia esteve por séculos sob o domínio dos czares russos e em 1922 foi incorporada à URSS. A Ucrânia só se tornou um Estado independente após a desintegração da URSS em 1991.

    Com o fim do socialismo na Europa, ficou acordado entre os membros da OTAN que a organização não deveria mais se expandir em direção à Rússia. Como mencionado acima, isso não ocorreu.

    A Ucrânia é o país de maior fronteira com a Rússia no Leste Europeu e não é membro da OTAN. Os dois países sempre tiveram relações estreitas do ponto de vista cultural. Muitos ucranianos são russos étnicos e falam o russo, sobretudo no leste da Ucrânia.

    O governo ucraniano de Víktor Yanukóvytch, eleito em 2010, tinha boa relação com a Rússia. Tentava manter os ânimos controlados entre os ucranianos do oeste e russos étnicos do leste da Ucrânia. Esta última região dava maior apoio político e eleitoral a Yanukóvytch.

    Há uma rivalidade histórica entre essas duas regiões. O oeste tem mais afinidade com a Europa ocidental e possui uma identidade nacionalista ucraniana. O leste tem maior relação com a Rússia e sua cultura.

    Em 2013, Yanukóvytch decidiu que a Ucrânia não faria parte da União Europeia, o que revoltou parte da população do oeste ucraniano.

    Essa revolta gerou um movimento chamado Euromaidan. Muitos desses manifestantes eram pessoas comuns insatisfeitas com o governo Yanukóvytch.

    No entanto, muito parecido com o que ocorreu no Brasil em Maio de 2013, essa manifestação passou a ser cada vez mais infestada por neofascistas.

    Muitos autores defendem que houve uma “Revolução Colorida” na Ucrânia, quando um país é vítima de sabotagem financiada por potências estrangeiras para depor um governo que não é do seu interesse.

    O grupo ultranacionalista Setor Direita e o partido neofascista Svoboda, tomaram a liderança das manifestações à medida que aumentava a violência policial.

    Com sua impopularidade em alta, Yanukóvytch foi deposto pelo parlamento ucraniano e seu governo foi substituído por uma coalizão de liberais e neofascistas do Svoboda.

    Inevitavelmente, os ucranianos do leste ficaram revoltados com a composição do novo governo que não os representava. Não demorou muito para que os ucranianos do leste fossem perseguidos pelo governo neofascista.

    A maior insatisfação contra o governo se deu na região da Crimeia, de população majoritariamente russa étnica. Foi a oportunidade perfeita para Putin anexar a região em 2013, legitimado por um referendo que optou pela anexação à Rússia.

    As províncias de Donetski e Loganski, com apoio russo, também realizaram referendos que resultaram em suas independências. Por não aceitar a soberania dessas regiões, o governo ucraniano deu início a uma guerra civil.

    Por conta da ineficiência das forças armadas ucranianas, elas foram auxiliadas por grupos paramilitares neonazistas – como o Batalhão Azov – no combate à independência de Donetski e Loganski. Conflito que prossegue até os dias atuais.

    Inclusive, o ministro do interior ucraniano, Arsen Avakov, incorporou o Batalhão Azov à Guarda Nacional do país. Não por coincidência, partidos, grupos, movimentos e indivíduos de esquerda são perseguidos na Ucrânia.

    Os EUA financiavam – por meio de dinheiro, treinamento e armamento pesado – o novo governo ucraniano e esses “rebeldes” que lutavam pela “liberdade” e “democracia” contra a “tirania” russa.

    Em 2021, EUA e Ucrânia votaram contra a resolução da ONU que condenava a glorificação do nazismo. A razão é muito simples, mesmo que esses países não sejam propriamente neonazistas, eles sabem que num eventual processo de radicalização, os neonazistas serão sua tropa de choque.

    Crimes de ódio contra homossexuais e judeus só têm aumentado na Ucrânia nos últimos anos. O colaboracionista do nazismo durante a II Guerra Mundial, Stepan Bandera, foi alçado a herói nacional ucraniano.

    A guerra civil teoricamente teria fim com o Acordo de Minsk, estabelecido entre os governos ucraniano e russo. O primeiro não cumpriu o que prometeu e continuou a atacar as províncias independentes de Donetsk e Lugansk.

     

     

    Contribuição do Governo Zelensky ao Conflito (subtítulo)

     

    Desde que chegou ao poder, o atual presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, dissolveu o parlamento ucraniano, instigou guerra contra províncias independentes e pôs em prática uma política externa pró-Ocidente. O governante ucraniano foi encorajado por Joe Biden a ter a Ucrânia incorporada à OTAN.

    O que, inevitavelmente, por se tratar de um país que faz enorme fronteira com a Rússia, ao se sentir ameaçado, Putin deu início à guerra que todos estamos vendo.

    Putin tenta colar a pecha de que a população ou o Estado ucraniano é neonazista para legitimar o ataque. O que não é verdade. Entretanto, é inegável a forte influência que o neonazismo tem penetrado o Estado e a sociedade civil ucraniana.

    Não à toa, a neofascista bolsonarista, Sara Winter, diz ter sido treinada na Ucrânia. Manifestantes bolsonaristas exibem bandeiras ultranacionalistas ucranianas e dizem que vão “ucranizar” o Brasil.

    Putin não tem absolutamente nada de comunista ou progressista. Ele é membro do partido de direita Rússia Unida, com fortes relações com a Igreja Ortodoxa Russa. O governante russo é extremamente conservador nos costumes e avesso à causa LGBTQI+.

    Portanto, é absurdo argumentarem que Putin deseja recriar uma nova União Soviética a partir da guerra com a Ucrânia. Ele é um grande aliado da burguesia russa. É um contrassenso que a esquerda seja entusiasta do governo Putin.

     

    Em Defesa da Soberania dos Povos (subtítulo)

     

    Os verdadeiros democratas devem:

    1) se opor à guerra entre Rússia e Ucrânia.

    2) defender a não ingerência de EUA e Ocidente – por meio da OTAN – para coagir militarmente adversários políticos.

    3) prezar pela autodeterminação dos ucranianos que não se sentem representados pelo Estado nacional.

    Não podemos esquecer que nosso país também elegeu um presidente neofascista. Nem por isso podemos afirmar que nosso povo é fascista.

    Obviamente, na Ucrânia, o neonazismo está muito mais entranhado no Estado e sociedade civil do que por aqui.

    Entretanto, há uma grande parcela da população ucraniana que não coaduna com o fascismo e não é neonazista. Os verdadeiros democratas devem zelar pela vida da população vítima desse conflito.

     

    Meu nome é Célio Roberto Ribeiro de Andrade. Tenho 38 anos, nascido e criado na Vila Nova Cachoeirinha, periferia da zona Norte de São Paulo, reduto do samba paulistano. Sou formado em história e graduando de Relações internacionais pela Universidade Federal de São Paulo. Sou professor de história da rede Objetivo e educador popular dos cursinhos populares pré-vestibulare, Cursinho Livre da Norte e Cursinho Popular do Paraisópolis.

  • Crise dos Refugiados: De quem são as vidas que você não chora

    Por: Hanin Majdi Dawud Al Najjar

    Ao testemunhar as reações de comoção na cobertura midiática da Guerra entre a Rússia e Ucrânia, é evidente a atribuição de maior importância a algumas vítimas de guerra sobre outras, ocasião em que o horror da guerra tem sido tratado sob uma narrativa baseada em argumentos claramente racistas e xenofóbicos, delineados sob uma ideia de civilização com limites epidérmicos.

    Demonstrando forte senso de solidariedade com a Ucrânia, os discursos de condenação dos conflitos belicosos emitidos por diversos jornalistas ao redor do mundo têm carregado em seus relatos o uso da palavra “civilizado” para descrever a Ucrânia em contraste com países do Oriente Médio, em uma tendência característica do vocabulário do colonialismo.

    Expressões como “Eles se parecem tanto conosco”. É isso que o torna tão chocante. A guerra não é mais algo que atinge populações empobrecidas e remotas. Isso pode acontecer com qualquer um. São mensagens nas quais a distinção humanitária estabelece uma violenta lógica de exclusão ao retratar padrões duplos baseados em classe social, raça, etnia e nacionalidade, promovendo a implantação de uma hierarquia do luto.

    Por sua vez, é de se observar a amplitude das outras guerras em percurso, como o Iêmen, país há 11 anos mergulhado em uma devastadora crise humanitária que causou até o momento cerca 350 mil mortes, o deslocamento de 71% da população, bem como a insegurança alimentar de 5 milhões de pessoas. Estas sofrem desnutrição aguda, o que transforma esse conflito no que a ONU chamou de pior desastre humanitário do mundo.

    A guerra na Etiópia desencadeada em 2020 tem sido considerada uma das mais brutais do mundo com a exposição de sua população a assassinatos e estupros em massa. Nos últimos anos a radicalização do budismo no Estado de Mianmar promove a perseguição de uma minoria étnica muçulmana conhecida como Rohingya, as atrocidades desse genocídio incluem a utilização do estupro e a queima de pessoas vivas em praça pública como arma de guerra, um massacre incentivado pelo governo da região.

    O já abalado Haiti entrou em uma crise política que provocou uma guerra civil com fluxo generalizado de pobreza, deslocamento e violência.  Estima-se que a guerra na Síria dizimou 600 mil pessoas desde 2011 e forçou 13 milhões ao refúgio, além de deixar o país.

    O Afeganistão é um dos lugares mais mortíferos do mundo para mulheres e crianças. 2,7 milhões de afegãos foram forçados a fugir da guerra nos últimos 20 anos durante a guerra provocada pelos EUA.

    A limpeza étnica na Palestina liderada pela criação do Estado de Israel em 1948 e a substituição da população palestina por colonos de origem judaica já dura 74 anos e é marcada por um apartheid violento e um genocídio atroz que marca o número de 6 milhões de refugiados.

    A busca dessas populações por refúgio consiste no encontro com fronteiras fechadas, obstáculos que notadamente os ucranianos não encontraram em seu percurso, pois até seus animais de estimação vem recebendo mais apoio político e emocional no cruzamento de fronteiras do que qualquer cidadão da África ou Oriente Médio, os quais lidam com consequências tão mortais em sua permanência quanto em sua fuga da guerra ao encontrar bloqueio tanto por terra quanto por mar.

    A condição violável a qual certas vidas são expostas, bem como a repercussão do luto público demonstra uma discriminação aberrante e um mundo no qual a cor da pele é um passaporte.

  • Trilhos sombrios: “Nova Ferroeste” e o impacto na vida dos moradores de Morretes

    Texto enviado por: David Couto, Sociólogo e Professor da rede pública

    No dia 10 de março, mais de centenas de moradores dos bairros Mundo Novo, Rio Sagrado, Morro Alto, Candonga, entre outros, compareceram na Capela São José Operário, no bairro Mundo Novo, para ouvir a exposição do EIA-RIMA apresentado pelos técnicos do Instituto de Pesquisa FIPE para o Projeto da “Nova Ferroeste”. Este projeto, defendido pelos Governos do Mato Grosso do Sul e do Paraná e grandes setores do Agronegócio, pretende construir uma ferrovia para ligar o Mato Grosso do Sul ao Porto de Paranaguá de tornar mais eficiente a exportação dos produtos do Agronegócio e também a importação. Com faixas e camisetas contrárias ao Trecho 5 da Ferrovia, que atravessa a Serra do Mar e as comunidades locais, os moradores se manifestaram e interrogaram constantemente os técnicos expondo suas preocupações com os grandes impactos negativos do empreendimento ao meio ambiente e a vida dos moradores.

    Dentre as informações que mais causaram incômodo aos moradores estão os altos níveis de impacto social e ambiental, a ausência de benefícios sociais às comunidades, os argumentos em favor do traçado atual, entre outras. A organização da comunidade e conhecimento do grupo sobre o extenso documento apresentado tem colaborado no engajamento de mais comunidades ao movimento de resistência ao trecho 5 do projeto.

    Em meados de outubro de 2021, a comunidade foi impactada com a notícia da “Ferroeste” como uma ameaça avassaladora que fugia à compreensão dos moradores. “Hoje o nosso objetivo é deixar isso explicado a cada um, conscientizar do imenso impacto qua vai causar na floresta e em nossas vidas”, afirma Adriana Sezoski Dubiella, moradora do Candonga. Segundo Adriana,” em nome do progresso nos deparamos com o discurso dos interessados, que iludem alguns de nossos vizinhos, querendo suprir toda devastação que ocorrerá com valores financeiros ou programas e promessas mentirosas de desenvolvimento econômico local. Estamos acima de qualquer negociação, exigimos mudança do traçado no trecho 5!”

    Acompanhe a matéria.

    Entrevistadas/os por ordem de aparição:
    Gleice Moreira
    Renato Mocellin
    Jaqueline Monteiro Oliveira
    Marcos F. Gluck Rachwal
    Márcia Beatriz FCXavier
    Jorge Ramalho
    Antônio Fontoura Nogueira

    Roteiro de entrevistas:
    David Couto

    Imagens:
    Beli Bertalha

    Direção de montagem:
    Beli Bertalha
    David Couto

    Texto:
    David couto

    Produção:
    TV Trapiche