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Categoria: Academia e sociedade
Coluna Academia e sociedade. Editor responsável: Magal Mongruel
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O punitivismo do bem: como a esquerda se perde na segurança pública
Por: Willian Carneiro Bianeck
A esquerda sempre teve uma relação tóxica com a pauta da segurança pública. De um lado, há o consenso de que a polícia ainda é a principal forma de promoção de políticas na área, sendo, portanto, muito bem-vinda a crítica direcionada a todos os problemas que acompanham a instituição: violência arbitrária, seletividade racial, milicialização etc. De outro, persiste a percepção de que os problemas de segurança serão resolvidos automaticamente com o devido e necessário enfrentamento das consequências de um sistema capitalista, como num passe de mágica. É mentirosa a ideia de que, numa sociedade além do Capital, não haveria violência e todos os seres humanos viveriam em plena paz e harmonia, sem quaisquer contradições.
Há ainda uma parcela da esquerda que abraça totalmente um “punitivismo do bem”, endossando a criminalização de condutas relacionadas à suposta proteção de populações vulneráveis por meio da punição estatal. Como se houvesse uma punição de fato boa para a sociedade, ignorando por completo o fato de que os criminalizados são uma minoria que é legitimamente humilhada por todos, indiscriminadamente. A lógica é simples: violou o direito de grupos estigmatizados? Vamos violentamente transformá-lo numa minoria também, que é a população em situação prisional. E assim vamos amargando e inflando cada vez mais o terceiro lugar entre os países que mais prendem pessoas no mundo. A meta é ser vanguarda na área, pelo jeito.
Essa lógica amplia o poder e o alcance do mesmo sistema penal que a esquerda critica quando ele prende um jovem negro por furto. Acreditam, ingenuamente, que o Estado penal será “gentil” ou “seletivo para o bem”. A “boa vítima” (a que é protegida por lei) justifica a criação do “novo culpado”, que é então jogado nas engrenagens do mesmo sistema carcerário desumano. Ignora-se que os “criminalizados” muitas vezes também são oriundos de grupos vulneráveis, num ciclo perverso de violência. É mais fácil e dá mais ibope político criminalizar um comportamento do que enfrentar as causas estruturais da LGBTfobia ou do machismo, que passam por educação, cultura, redistribuição de renda e transformação social profunda. É uma solução rápida, midiática e superficial para um problema complexo.
A população mais vulnerável vivencia as violências que a esquerda não quer enfrentar de fato. O dono da padaria da periferia que sofre roubos de seus vizinhos; a dona de casa que vê seu filho sendo ameaçado pelo traficante da região; a prostituta que se sujeita ao cafetão para conseguir a proteção que o Estado não dá. São apenas alguns exemplos canônicos que ignoramos quando nos esquivamos de um debate sério sobre a violência real do nosso dia a dia.
Há uma violência horizontal, comunitária e do crime organizado que é tão real e avassaladora quanto a violência de Estado. Ignorar isso por medo de parecer “defensor da polícia” ou “alarmista” é um desserviço às próprias populações que a esquerda diz defender. É preciso romper com essa dicotomia tola. É perfeitamente possível e necessário combater a violência policial e a violência do crime comum. São duas faces da mesma moeda de insegurança e falência do Estado Social.
Há um bom tempo defendo que precisamos entender a política de segurança pública como algo fundamental para uma política de Estado de esquerda, de modo a não focar apenas em metas futuras e punitivismos de ocasião, mas principalmente compreender as dinâmicas e as realidades das pessoas que mais sentem na pele as truculências, não só as do Estado. Só que isso não implica brigar pelo incremento da legislação punitiva, que já é assustadoramente inflada.
A crítica às instituições do sistema penal e seus atores não deve ser descartada; pelo contrário, deve ser sofisticada. Para tanto, uma política criminal de prevenção para além da punição é fundamental. Contudo, infelizmente, a prisão se mostra uma solução predileta, embora ineficaz. E a esquerda não pode se dar ao luxo de se seduzir por essa saída conservadora: há toda uma gama de formas de se pensar a segurança pública, como, por exemplo, formas comunitárias de resolução de conflitos por meio da não violência, da mesma forma que existem possibilidades de se evitar crimes que não sejam por meio do policiamento ostensivo. Uma política criminal séria envolve revisar a lista de condutas criminalizadas, e não aumentá-la como se número de crimes significasse uma sociedade mais segura. Esses são alguns caminhos a serem pensados.
A esquerda não pode mais se dar ao luxo de ser apenas a crítica do sistema penal. É essencial a construção de uma alternativa viável, que enfrente simultaneamente a violência do Estado e a violência que aflige o cotidiano dos mais pobres. Isso exige abandonar o “punitivismo do bem”, superar o messianismo revolucionário e mergulhar na complexidade do problema com ferramentas inovadoras. A segurança pública é, antes de tudo, um direito social. E é como tal, como uma política de cuidado e não de guerra, que a esquerda deve finalmente abraçá-la. -

A morte de Miguel Uribe, presidenciável baleado em comício na Colômbia, e as eleições
Por: Rodrigo G. M. Silvestre
O senador colombiano e pré-candidato à presidência Miguel Uribe Turbay, de 39 anos, faleceu na madrugada desta segunda-feira, 11 de agosto, após passar mais de dois meses hospitalizado em decorrência de um atentado a tiros ocorrido durante um comício em Bogotá no dia 7 de junho. Uribe foi atingido por disparos enquanto discursava em um evento político realizado em um parque da capital. O ataque mobilizou a opinião pública colombiana, com a prisão imediata de um adolescente de 15 anos apontado como o autor dos tiros. As investigações ainda tentam identificar os mandantes do crime, para os quais o governo ofereceu uma recompensa substancial, e contam com colaboração internacional.agenciabrasil.ebc+3
A morte de Miguel Uribe é mais um episódio trágico em meio ao histórico de violência política que marca a Colômbia há décadas. O país já vivenciou períodos devastadores, como “La Violencia”, guerra civil que atingiu seu ápice entre 1948 e 1958 e deixou mais de 200.000 mortos, seguida por conflitos armados, guerras contra o narcotráfico e assassinatos emblemáticos de lideranças políticas. Uribe, neto do ex-presidente Julio César Turbay e filho da jornalista Diana Turbay, tinha trajetória meteórica na política: foi vereador, secretário de governo de Bogotá e, desde 2022, senador pelo partido Centro Democrático. Sua trajetória é um retrato da vulnerabilidade de figuras públicas no país, onde o exercício político frequentemente implica riscos letais.
Diana Turbay, mãe do senador colombiano Miguel Uribe, jornalista renomada e filha do ex-presidente Julio César Turbay, ela foi sequestrada em 1990 pelo Cartel de Medellín, sob o comando de Pablo Escobar, em uma ação que buscava pressionar o governo para evitar a extradição de narcotraficantes para os Estados Unidos. O sequestro fazia parte de uma campanha de terror do cartel, que também envolveu outros jornalistas e figuras públicas. Diana havia aceitado um convite para entrevistar líderes guerrilheiros, mas tudo se tratava de uma armadilha.
Depois de cerca de cinco meses em cativeiro, durante uma operação policial de resgate malsucedida, Diana Turbay foi morta a tiros — há versões divergentes, algumas afirmando que os próprios sequestradores a atingiram, outras que os disparos vieram das forças militares na ação. Sua morte foi um marco da violência e do terror imposto pelo narcotráfico nos anos 1980 e 1990 na Colômbia, episódio que moldou profundamente a vida e a trajetória de seu filho Miguel Uribe. A história do sequestro e assassinato de Diana Turbay foi relatada e transformada em livro pelo escritor Gabriel García Márquez, no famoso “Notícia de um sequestro”, trazendo à luz os horrores daquela época e o impacto devastador sobre famílias e a política colombiana.translate.google+5
No contexto latino-americano, a Colômbia não é exceção: recentes atentados em eleições no Equador, Guatemala e México, e o crescimento do crime organizado em toda a região, demonstram que a violência política e eleitoral permanece uma dramática constante, mostrando o desafio de consolidar democracias seguras e estáveis em meio a contextos sociais marcados por desigualdade, polarização e forte presença do crime organizado.britannica+8
As eleições presidenciais na Colômbia estão marcadas para maio de 2026, e o cenário político já apresenta intensa movimentação e competição acirrada. O atual presidente Gustavo Petro, primeiro líder de esquerda do país, não pode disputar a reeleição por limitação constitucional, o que abre o campo para múltiplos candidatos de diferentes espectros ideológicos.
Nas pesquisas mais recentes, o senador Miguel Uribe Turbay despontava como um dos principais favoritos, liderando com cerca de 13,7% das intenções de voto. Uribe, do partido Centro Democrático, se beneficiava da crescente insatisfação da população com a atual administração, especialmente em temas de segurança, economia e confiança institucional, além da onda de simpatia após o atentado que sofreu em junho de 2025. Ele representa uma alternativa conservadora e pragmática, com apoio significativo entre eleitores de centro-direita e centro.colombiaone+1. Seus espólios políticos ainda estão agora incertos com o seu falecimento.
No campo da centro-direita, a jornalista Vicky Dávila também tem ganhado destaque como candidata emergente, apresentando-se com uma plataforma conservadora e ocupando posições nas pesquisas com cerca de 11,5% de apoio. Já entre os centristas, nomes como Sergio Fajardo e Claudia López ainda mantêm presença relevante, embora com percentuais menores.americasquarterly+1
Uma das características mais marcantes dessa eleição é a diversidade e competitividade entre os candidatos de esquerda, que se organizam para escolher um representante unificado do Pacto Histórico, coalizão do governo atual. Estão na disputa figuras como Gustavo Bolívar, Daniel Quintero e María José Pizarro, que disputam primárias internas para definir o candidato da esquerda, que manterá a agenda progressista em temas como direitos sociais, meio ambiente e paz.colombiaone+1
O contexto geral da eleição é marcado por preocupações populares com corrupção, insegurança e desigualdade, além da polarização política que reflete os desafios enfrentados pela Colômbia para consolidar reformas e garantir estabilidade democrática. A ampla fragmentação dos partidos e a necessidade de coalizões também são elementos centrais, o que torna a disputa imprevisível e sujeita a reviravoltas até a votação em maio de 2026.as-coa+1
As perspectivas para a eleição colombiana indicam um pleito altamente competitivo, com candidatos fortes à direita e à esquerda, e uma população atenta às soluções para os problemas estruturais do país, em um ambiente político ainda sensível à violência e instabilidade. A definição dos candidatos oficiais e o andamento das campanhas nos próximos meses serão decisivos para moldar o rumo da eleição.
- https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2025-08/morre-miguel-uribe-pre-candidato-presidencia-da-colombia
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- https://www.hrw.org/news/2025/06/10/colombia-presidential-candidate-attacked-severely-injured
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E se Trump usar como sanção a proíbição de Microsoft, Google, Amazon e Meta de comercializar com o Brasil
Por: Rodrigo G. M. Silvestre
Se Donald Trump impusesse uma sanção proibindo Microsoft, Google, Amazon e Meta de comercializarem com o Brasil, o impacto sobre a administração pública, universidades e entidades que migraram para esses serviços em detrimento da infraestrutura própria seria profundo. O funcionamento do Estado e a rotina de setores estratégicos seriam drasticamente alterados, revelando a magnitude da dependência brasileira dessas plataformas.
No âmbito da administração pública, a migração de e-mails, documentos e sistemas gerenciais para plataformas como Google Workspace e Microsoft 365 tornou-se comum nos últimos anos, especialmente após cortes orçamentários que enfraqueceram equipes e infraestrutura de TI próprias. Universidades públicas seguem tendência similar: uma pesquisa recente aponta que 74% dos domínios de e-mails de instituições de ensino superior brasileiras já são operados por serviços dessas empresas. Essencialmente, a capacidade dessas instituições de manter comunicações internas e externas, compartilhar arquivos, armazenar dados e mesmo operar aulas remotas e sistemas acadêmicos depende de contratos com big techs. A perda abrupta desses serviços causaria apagões digitais, bloqueios de acesso a dados e paralisação de atividades essenciais para ensino, pesquisa e administração¹.
No setor educacional, o cenário seria ainda mais crítico. Desde 2016, universidades públicas, pressionadas por restrições orçamentárias, firmaram acordos massivos de terceirização de TI com Google e Microsoft para manter serviços básicos como e-mails e armazenamento de informações. As soluções próprias tornaram-se exceções, limitadas a poucas instituições. Plataformas como Google Classroom, Microsoft Teams e Drive são amplamente utilizadas para o ensino remoto e a gestão acadêmica. Sua eliminação forçada deixaria milhões de estudantes e professores sem ferramentas básicas de trabalho, dificultando o funcionamento de aulas, entregas de trabalhos e comunicações institucionais².
Entidades públicas e privadas que operam seus negócios na nuvem, particularmente por meio da Amazon Web Services (AWS) e Microsoft Azure, enfrentariam a interrupção de sistemas críticos, impactando setores bancário, comércio eletrônico, saúde e até mesmo a infraestrutura do Pix, que depende de soluções híbridas de nuvem para funcionar. Serviços financeiros, comércio digital e infraestrutura estatal perderiam redundância e capacidade operacional, afetando desde o processamento de pagamentos até armazenamento de dados sensíveis⁵.
A ausência de alternativas nacionais robustas agravaria o problema. O sucateamento de estruturas estatais de TI fez com que o setor público brasileiro se tornasse cada vez mais refém de serviços norte-americanos, num ciclo em que restrições orçamentárias justificaram a terceirização, aprofundando a dependência. Tentativas recentes de retomar a soberania digital por meio de legislações ou estímulos à infraestrutura própria ainda esbarram na falta de investimentos, know-how e escala para competir com as soluções internacionais⁷.
A possibilidade de uma sanção dessa natureza expõe a vulnerabilidade do ecossistema digital brasileiro. Não apenas a administração pública, mas também boa parte do setor produtivo e das instituições de ensino teriam dificuldades profundas para continuar operando, mostrando que a ausência de uma infraestrutura nacional resiliente transforma a dependência tecnológica em uma questão de soberania e segurança institucional⁶.
O Brasil pode reduzir sua vulnerabilidade a possíveis sanções internacionais – como a suspensão dos serviços de big techs – por meio de uma combinação de políticas públicas, investimentos e cooperação internacional sem comprometer a prestação de serviços essenciais.
Um primeiro eixo estratégico é fortalecer a infraestrutura nacional de dados. Garantir que dados sensíveis e críticos do setor público estejam armazenados e processados em plataformas brasileiras, auditáveis e seguras, reduz a dependência das nuvens estrangeiras. Projetos como a Infraestrutura Nacional de Dados (IND), sob coordenação federal, têm ampliado o armazenamento e processamento de dados em data centers nacionais, promovendo interoperabilidade entre órgãos públicos e facilitando a transição para serviços digitais seguros e autônomos²¹.
A escolha por provedores nacionais de computação em nuvem é outro caminho relevante. Empresas brasileiras oferecem hoje soluções competitivas, com suporte local, custos previsíveis e conformidade com a legislação nacional de proteção de dados (LGPD). A migração, ao menos parcial, para nuvens nacionais torna órgãos públicos e empresas menos suscetíveis a variações cambiais, falhas de comunicação e, sobretudo, à fragilidade geopolítica inerente ao monopólio internacional dos serviços²⁴.
Outro pilar importante é o investimento em capacitação e inovação nacional. Sem profissionais qualificados em áreas como inteligência artificial, cibersegurança e ciência de dados, a soberania digital se torna inviável. É fundamental formar talentos por meio de pós-graduação, incentivar centros de pesquisa e capacitar servidores públicos, assegurando que o país seja protagonista tecnológico e não apenas consumidor²⁸.
Diversificação de fornecedores de hardware e software, adoção de padrões internacionais abertos e parcerias com outros países do Sul Global são igualmente estratégicas. Colaborações multilaterais e laboratórios conjuntos, especialmente no âmbito dos BRICS, podem promover tecnologias adaptadas à realidade latino-americana, dar escala a alternativas públicas e reduzir riscos do alinhamento exclusivo com um único polo tecnológico internacional²⁸.
Por fim, a recém-instituída Estratégia Nacional de Cibersegurança busca garantir a resiliência das infraestruturas críticas do país frente a ameaças externas e internas. A política aposta em certificações, formação de equipes de resposta a incidentes, seguros cibernéticos e integração com fóruns internacionais, consolidando uma abordagem de Estado para defesa do ambiente digital brasileiro³⁰.
Avançar nessa direção exige coordenação nacional e continuidade. A dependência tecnológica tem raízes profundas, mas o desenvolvimento de soluções abertas, suporte a empresas inovadoras e fortalecimento institucional permitirão que o país equilibre proteção, inovação e soberania, sem comprometer a continuidade dos serviços públicos e essenciais.
- https://repositorio.ifgoiano.edu.br/bitstream/prefix/2319/2/tcc_Gustavo%20da%20Silva%20Faquim.pdf
- https://outraspalavras.net/outrasmidias/como-a-big-data-coloniza-a-educacao-brasileira/
- https://www.anamid.com.br/dependencias-tecnologicas-dos-eua-e-impactos-no-mercado-digital-brasileiro/
- https://www.meioemensagem.com.br/opiniao/impactos-das-tarifas-de-trump-no-ecossistema-digital
- https://www.uol.com.br/tilt/colunas/helton-simoes-gomes/2024/10/10/governo-admite-descontrole-com-big-techs-e-propoe-regras-contra-monopolio.htm
- https://valid.com/futuroid/infraestrutura-nacional-de-dados
- https://www.locaweb.com.br/blog/produtos/vps-e-cloud/servico-de-nuvem/
- https://okai.com.br/blog/brasil-e-a-soberania-digital-no-brics-2025-caminhos-para-a-protecao-de-dados-e-autonomia-tecnologica
- https://sindpd.org.br/2025/08/06/soberania-digital-foco-estrategia-ciberseguranca/
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- Ministério das Comunicações. As big techs e a oportunidade de levar internet aos mais pobres [Internet]. 2024 [citado 06 ago 2025]. Disponível em: https://www.gov.br/mcom/pt-br/noticias/2024/marco/as-big-techs-e-a-oportunidade-de-levar-internet-aos-mais-pobres
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- Migalhas. Soberania digital brasileira: estratégias para o futuro autônomo [Internet]. 2025 [citado 06 ago 2025]. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/depeso/433038/soberania-digital-brasileira-estrategias-para-o-futuro-autonomo
- Governo Federal do Brasil. Iniciativas do MGI fortalecem a soberania digital, ampliam o acesso a serviços públicos e modernizam o Estado brasileiro [Internet]. 2025 [citado 06 ago 2025]. Disponível em: https://www.gov.br/governodigital/pt-br/noticias/iniciativas-do-mgi-fortalecem-a-soberania-digital-ampliam-o-acesso-a-servicos-publicos-e-modernizam-o-estado-brasileiro
- Jota. O sequestro da soberania digital [Internet]. [citado 06 ago 2025]. Disponível em: https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/o-sequestro-da-soberania-digital
- ABES. Brasil acelera crescimento no setor de TI, mantém posição no top 10 global e se destaca na América Latina, aponta novo estudo da ABES [Internet]. 2025 [citado 06 ago 2025]. Disponível em: https://abes.com.br/brasil-acelera-crescimento-no-setor-de-ti-mantem-posicao-no-top-10-global-e-se-destaca-na-america-latina-aponta-novo-estudo-da-abes/
- FIB CGI.br. O papel do Brasil no debate sobre soberania digital e o futuro da governança da internet [Internet]. 2023 [citado 06 ago 2025]. Disponível em: https://fib.cgi.br/2023/propostas-de-workshops-selecionados/o-papel-do-brasil-no-debate-sobre-soberania-digital-e-o-futuro-da-governanca-da-internet/
- Governo Federal do Brasil. Jornada do Processo Eletrônico Nacional – Infraestrutura de TI [Internet]. [citado 06 ago 2025]. Disponível em: https://www.gov.br/gestao/pt-br/assuntos/processo-eletronico-nacional/Jornada-do-PEN/5-InfraestruturadeTI
- Eixos. Com energia firme e regulação moderna, Brasil pode liderar nova geopolítica dos dados [Internet]. [citado 06 ago 2025]. Disponível em: https://eixos.com.br/politica/com-energia-firme-e-regulacao-moderna-brasil-pode-liderar-nova-geopolitica-dos-dados/
- Penso. Nuvem nacional ou estrangeira: qual a melhor opção? [Internet]. [citado 06 ago 2025]. Disponível em: https://www.penso.com.br/nuvem-nacional-ou-estrangeira-qual-a-melhor-opcao/
- Serpro. Soberania já [Internet]. [citado 06 ago 2025]. Disponível em: https://www.serpro.gov.br/menu/noticias/Tema-edicao-239/soberania-ja
- G1 Paraíba. Impostos sobre serviços de nuvem estrangeiros: o que sua empresa precisa saber [Internet]. 2025 [citado 06 ago 2025]. Disponível em: https://g1.globo.com/pb/paraiba/especial-publicitario/hostdime/noticia/2025/05/21/impostos-sobre-servicos-de-nuvem-estrangeiros-o-que-sua-empresa-precisa-saber.ghtml
- Jota. Da soberania digital à soberania em IA [Internet]. [citado 06 ago 2025]. Disponível em: https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/ia-regulacao-democracia/da-soberania-digital-a-soberania-em-ia
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Ainda sobre o orçamento mas também sobre eleições
Por Desiree Salgado
Decima Sexta coluna sobre o mundo e seu contexto.

Foto da Autora: Desiree Salgado -
Para onde vai o dinheiro? Ainda sobre o orçamento público
Por Desiree Salgado
Decima Quinta coluna sobre o mundo e seu contexto.

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Orçamento Público
Por Desiree Salgado
Decima Quarta coluna sobre o mundo e seu contexto.

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As favelas e o que ninguém observa – O Início
Republicado em parceria com: Thiago Carvalho – https://www.linkedin.com/pulse/favelas-e-o-que-ningu%2525C3%2525A9m-observa-in%2525C3%2525ADcio-thiago-carvalho%3FtrackingId=Zcn95u71QOSvQBQtu1a7VQ%253D%253D/?trackingId=Zcn95u71QOSvQBQtu1a7VQ%3D%3D
Eram “apenas” 13 mil comunidades no Brasil no ano de 2023. 5 milhões de domicílios tão diferentes, cheios de pluralidades unidos por uma única palavra: Favela
Vamos falar um pouquinho de história, então peguem um punhado de pipoca, mas não muito, pois serei breve.

Foto: GUI CHRIST É importante falar que a “descoberta da pobreza” só passou a ser importante no mundo, quando ela tornou-se um problema para as elites. No Brasil, claro que não foi diferente. E foi no Rio de Janeiro no século XIX que começaram a olhar os cortiços, local destinado à chamada “classe perigosa”. Considerados local de pobreza, era taxado como antro do crime e também de epidemias, constituindo uma ameaça às ordens públicas.
Relatos presentes em livros históricos, cunham o termo Favela como: – “Morro do Distrito Federal, antigo da Providência”; Termo latino que significa pequena fava; Pequena colina na região da Bahia que vieram os primeiros migrantes para o Rio;
Veja, a descrição histórica já é carregada de preconceitos de um problema social criado pela própria sociedade.
Mesmo hoje, é muito difícil você ouvir a palavra Favela e não ter julgamentos predefinido criados pelo nosso cérebro, após absorver grande parte de notícias midiáticas em que só retratam violência, tráfico e outras coisas ruins vinculadas às periferias.
Contemporaneamente as favelas são descritas como habitação popular, após perder todos os termos pejorativos.
Eu sei que é difícil admitir, mas na maioria dos casos é isso que eu, você e tantas outras pessoas podemos pensar, de forma involuntária.
Tá, mas se as Favelas não são isso, o que elas são?
São ambientes complexos e multifacetados com dinâmicas sociais únicas. É o lar de diversas pessoas abandonadas pelo sistema. Pessoas que se juntam em um local mais periférico para construir seus sonhos. É ter um local para morar, ficar, após ser abandonado pelo estado, carente de políticas públicas que possam abraça-las e dar uma vida digna que todas elas merecem. É um local seguro, longe das ruas, para poder sonhar.
É poder construir uma vida.
Gostou?
Esse é só o início da nossa série de artigos sobre As favelas e o que ninguém observa
Autor: Thiago Carvalho
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A Primeira Advogada do Brasil
Por Desiree Salgado
Decima Terceira coluna sobre o mundo e seu contexto.

Foto da Autora: Desiree Salgado -
Feminicídio
Por Desiree Salgado
Decima Segunda coluna sobre o mundo e seu contexto.

Foto da Autora: Desiree Salgado -
Ética e Ciências
Por Desiree Salgado
Decima Primeira coluna sobre o mundo e seu contexto.

Foto da Autora: Desiree Salgado
