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Categoria: Volume I * nº. 3 * Novembro de 2021
Edição de Novembro de 2021 do Jornal América Profunda
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Editorial – noviembre de 2021
Durante noviembre, mes tanatico por excelencia, encontramos en nuestro continente toda una serie de celebraciones relacionadas con la muerte, siendo el 2 de noviembre “día de los muertos” la fecha más significativa, que se corresponde con la fuerte raíz católica de nuestro territorio en sincretismo con las culturas existentes y preexistente, a la llegada de la cultura europea. En este sentido, podemos pensar estas festividades como eminentemente mestizas.Sin dudas México se caracteriza por esta festividad por sobre los demás países de Latinoamérica, pero tanto en Ecuador, Perú como en Bolivia y Guatemala es una fecha de suma importancia.
Para las culturas Quechuas y Aymaras se conoce esta celebración como Aya Markay Quilla, que en los festejos previos a la invasión europea, era el día donde la comunidad llevaba en andas el esqueleto del Inca. Según la tradición andina, durante los dos primeros días de noviembre, las almas de los difuntos vuelven para abastecerse de lo que preparan los vivos después de un período de restricciones, y en recompensa, ofrecerán sus dones para lograr una abundante cosecha. El sincretismo entre el “Aya Markay Quilla” y el “día de los Muertos” se produce porque cerca de esta fecha, comienza el tiempo denominado como tiempo femenino de jallupacha, o tiempo de las lluvias, las cuales son transportadas por los ajayus (almas) de los muertos. Esta celebración, es un portal que permite el encuentro entre el mundo de los vivos y los muertos, entre el pasado y el presente. Mas allá de las particularidades de cada país, en todas estas celebraciones hay un fuerte componente comunitario, donde los cementerios se transforman en lugares vivos, compartidos, de intercambio.
¿Por qué una editorial del día de los muertos? Porque a los males históricos de nuestro continente se le sumó una pandemia nefasta que desbastó a nuestros pueblos. Si bien esta crisis sanitaria fue global, Latinoamérica siempre carga con una cuota de injusticia y desigualdad estructural donde la muerte se presenta estadística y fácticamente antes de tiempo, como resultado del estado de las cosas o como resultado de las cosas del Estado. Los muertos prematuros se transforman así en muertitos queridos, amados, que esperan cada 2 de noviembre para ir en busca del pan y el abrazo arrebatado.
Como toda festividad innegablemente popular y tan representativa de nuestra cultura mestiza, goza de muy poca popularidad en los medios masivos de comunicación, y en inversa proporción hay un fuerte despliegue mediático de Halloween como estética globalizante que se instala año a año en nuestros países. En este sentido, la definición de quien es el muerto y como nos relacionamos con él, es una definición eminentemente política. A diferencia de la paranoia Hallowidiana (¿hollywoodiana?) que nos presenta a los muertos como seres que atemorizan y nos atacan, con la emblemática imagen del “zombie”, en las celebraciones latinoamericanas el muerto es un ser que sigue siendo amado, y que además nos trae la lluvia, y con ella la continuidad del ciclo de la vida.
El zombie horroroso de Halloween no se parece en nada a nuestros muertos queridos, sin embargo, bien podría funcionar como metáfora de lo que nos sucede estando vivos cuando nos condenan al hambre y la pobreza, cuando perdemos nuestros derechos de ciudadanía buscando comida en un basural, cuando nos prostituyen el cuerpo y el alma, cuando somos transformadxs en el muerto-vivo, en el descarte del capitalismo, cuando sobrevivimos por “la caridad de quien nos detesta”[1].
Desde nuestra concepción radicalmente latinoamericana, dedicamos con profundo amor y respeto esta edición a los muertos por Covid en todo nuestro continente, y en especial a los del pueblo brasilero víctimas no solo de una pandemia sino también de un pandemonio, que condenó a muerte a una gran parte del pueblo brasilero.
Para y por todxs ellxs, nos juntaremos en comunidad, haremos escaleras de pan de niños (Tantawawa) y les ofreceremos nuestras plegarias, cantos, bebidas espirituosas y muchas flores de todos los colores y aromas de nuestro hermoso continente. A cambio, les pedimos que nos traigan lluvias para seguir celebrando el amor, la vida y la lucha.
[1] Arnaldo Brandao/Cazuza “O tempo não para”1988
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Editorial – Novembro de 2021
Durante o mês de novembro, o mês do tanatico por excelência, encontramos no nosso continente toda uma série de celebrações relacionadas com a morte, sendo o dia 02 de novembro “Dia dos Mortos” a data mais significativa, que corresponde às fortes raízes católicas do nosso território em sincretismo com as culturas existentes e pré-existentes, antes da chegada da cultura europeia. Neste sentido, podemos pensar nestas festividades como sendo eminentemente mestiças.O México é sem dúvida caracterizado por esta festa, acima de todos os outros países da América Latina, mas no Equador, Peru, Bolívia e Guatemala, é uma data de grande importância.
Para as culturas Quechua e Aymara, esta celebração é conhecida como Aya Markay Quilla, que nas festividades anteriores à invasão europeia, era o dia em que a comunidade carregava o esqueleto do Inca. De acordo com a tradição andina, durante os dois primeiros dias de novembro, as almas dos falecidos regressam para armazenar o que os vivos preparam após um período de restrições, e em troca, oferecerão os seus presentes para uma colheita abundante.
O sincretismo entre a “Aya Markay Quilla” e o “Dia dos Mortos” é produzido porque perto desta data, começa o chamado tempo feminino de jallupacha, ou tempo das chuvas, que são transportadas pelas ajayus (almas) dos mortos. Esta celebração é um portal que permite o encontro entre o mundo dos vivos e o dos mortos, entre o passado e o presente. Para além das particularidades de cada país, em todas estas celebrações existe uma forte componente comunitária, onde os cemitérios se tornam locais de intercâmbio, de vida comum.
Por que um editorial sobre o Dia dos Mortos? Porque os males históricos do nosso continente foram agravados por uma terrível pandemia que devastou os nossos povos. Embora esta crise de saúde fosse global, a América Latina traz sempre consigo uma quota de injustiça e desigualdade estrutural onde a morte é apresentada estatística e factualmente antes do seu tempo, como resultado do estado das coisas ou como resultado das coisas do Estado. Os mortos prematuros são assim transformados em mortos queridos e amados, que esperam cada 2 de novembro para ir em busca de pão e de um abraço arrancado.
Como todas as festividades que são inegavelmente populares e tão representativas da nossa cultura mestiça, goza de muita pouca popularidade nos meios de comunicação social, e na proporção inversa há um forte hype mediático de Halloween como uma estética globalizante que se instala ano após ano nos nossos países. Neste sentido, a definição de quem são os mortos e como nos relacionamos com eles é uma definição eminentemente política. Ao contrário da paranoia Hallowidiana (Hollywoodeana?) que apresenta os mortos como seres que nos assustam e nos atacam, com a imagem emblemática do “zombie”. Nas celebrações latino-americanas os mortos são seres que continuam a serem amado, que também nos trazem chuva, e com ela a continuidade do ciclo da vida.
O horripilante zombie do Halloween não é nada como o nosso amado morto, contudo, poderia muito bem funcionar como metáfora do que nos acontece enquanto estamos vivos. Quando estamos condenados à fome e à pobreza, quando perdemos os nossos direitos de cidadania à procura de comida numa lixeira, quando o nosso corpo e alma são prostituídos, quando nos transformamxs em mortos-vivos, no descarte do capitalismo, quando sobrevivemos por causa da “caridade de quem nos detestam”[1].
Desde a nossa concepção radicalmente latino-americana, dedicamos esta edição com profundo amor e respeito às pessoas mortas por Covid em todo o nosso continente, e especialmente às do povo brasileiro, vítimas não só de uma pandemia, mas também de um pandemónio, que condenou à morte uma grande parte do Brasil.
Para todxs eles, reunimo-nxs como uma comunidade, fazemos escadas de pão de criança (Tantawawa) e oferecemos-lhes as nossas orações, canções, bebidas espirituais e muitas flores de todas as cores e aromas do nosso belo continente. Em troca, pedimos-lhes que nos tragam chuvas para continuar a celebrar o amor e a vida e a luta.
[1] Arnaldo Brandao/Cazuza “O tempo não para”1988
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A POLÍTICA SOCIAL NAS REINVENÇÕES DO LIBERALISMO
Por: Thaís Pagano
(Ilustração de Drawlab 19)Em meados de outubro/2021, foi amplamente disseminado nas redes sociais um vídeo de um grupo de pessoas revirando um caminhão de lixo a procura de alimentos, em um bairro nobre de Fortaleza. No começo de novembro/2021, outro vídeo de um homem implorando por comida em um condomínio de prédios em Brasília, gritando “É fome, por favor, é fome!”, repercutiu na imprensa. Essas cenas, espetacularizadas pela mídia, evidenciam a intensificação da insegurança alimentar na pandemia, um grave problema social presente cotidianamente nas periferias das cidades brasileiras, decorrente da agudização do fenômeno do pauperismo.
Segundo o cientista político José de Souza Martins, “os problemas sociais não poderão ser resolvidos se não forem desvendados inteiramente por quem se inquieta com sua ocorrência e atua no sentido de superá-los”. A indignação frente à desigualdade social, reproduzida por meio de um complexo mecanismo que envolve diversas instituições, deve nutrir a ação dos sujeitos sociais comprometidos com a constituição de uma sociedade, de fato, justa e igualitária. Nesse sentido, nosso papel na construção de uma nova realidade social reside, entre outros, na contextualização dos fenômenos sociais, alimentada permanentemente pela consciência crítica.
A compreensão das relações sociais exige análise do confronto de projetos societários vigentes e por isso a proposta desse texto é apresentar elementos que propiciem reflexões acerca da política social sob o prisma da tradição marxista, que oferece ferramentas para o exercício do pensamento crítico, abordando a política social a partir da perspectiva crítico-dialética, fundamentada na ótica da totalidade, resultante das contradições estruturais produzidas pela luta de classes, no contexto do capitalismo. Sendo assim, a questão social, manifestada no conjunto de desigualdades decorrentes das relações sociais constitutivas do capitalismo contemporâneo, se configura como referência para o desenvolvimento das políticas sociais.
A política social, como mediação entre economia e política, é um processo que revela a interação de um conjunto de determinações econômicas, políticas e culturais. Seu desenvolvimento, com a demonstração de seus limites e possibilidades, deve ser elucidado no panorama das relações conflitantes entre Estado e sociedade civil, abrangendo o movimento de produção e reprodução da acumulação capitalista.
Para entender o surgimento e desenvolvimento da política social no Brasil, é preciso considerar suas peculiaridades por meio do resgate de sua trajetória histórica. Um país que carrega as marcas do processo da colonização, da subordinação e dependência do mercado mundial, possui a formação do capitalismo determinada pela heteronomia. A herança do escravismo penetra nas relações sociais, nas condições de trabalho e no ambiente cultural brasileiro. A criação do Estado nacional, que possibilitou o movimento de ruptura com a aristocracia, não se comprometeu com nenhuma ação de proteção e garantia dos direitos sociais por parte das elites econômico-políticas.
O desenvolvimento do processo de industrialização na década de 1930 alterou a paisagem urbana e criou as condições para o fortalecimento, em território nacional, da classe operária, que já vinha se formando desde os últimos 25 anos do século anterior, marcando a sociedade pelo forte antagonismo entre as classes burguesa e proletária. Nesse período, o Brasil não possuía ainda uma legislação trabalhista que amparasse a classe operária, fazendo emergir constantes conflitos na luta por direitos básicos, como redução da carga horária, melhores salários e condições mais salubres no ambiente de trabalho.
Com a expansão da economia capitalista monopolista, o Estado defrontou- se com duas demandas: absorver e controlar os setores urbanos emergentes e buscar, nesses mesmos setores, a legitimação política. Para isso, adota uma política de massa, incorporando parte das reivindicações populares, controlando a autonomia dos movimentos reivindicatórios do proletariado por meio de canais institucionais, absorvendo-os na estrutura corporativista do Estado. Os excedentes gerados pela acumulação de capital, propiciados pela produção em massa, foram direcionados pelo Estado para o financiamento de políticas sociais públicas. Houve, assim, a manutenção do poder de compra dos trabalhadores, o reconhecimento do movimento sindical em sua luta por reivindicações políticas e sociais e a expansão da prestação de serviços sociais, levando o Estado a desenvolver novas funções econômicas, políticas e sociais.
A questão social passa a ser administrada e controlada pelas vias institucionais, por meio de ações de proteção social, consolidadas por medidas de cunho controlador e paternalista do varguismo, nas décadas de 1930 e 1940, definindo uma espécie de pacto político entre as classes, como a valorização da saúde do trabalhador e o conjunto de leis regulamentadoras das relações capital e trabalho, como a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), o Salário Mínimo, a jornada de 8 horas e o direito às férias, a proteção do trabalho da criança e da mulher e a Legislação Sindical. Uma vez que essas medidas se destinavam somente aos trabalhadores com carteira assinada, as pessoas que não se enquadravam nesse critério, como trabalhadores/trabalhadoras informais e as pessoas desempregadas, ficavam desprovidas de qualquer proteção, restando às obras sociais e filantrópicas a responsabilidade pela assistência aos mais pobres, configurando uma marcante dualização da política social brasileira.
As políticas sociais, então, surgem no sistema capitalista monopolista, como resposta às pressões das classes operárias, como forma de reparação aos agravos provocados pela exploração das forças produtivas e para manutenção do sistema responsável pela concentração, cada vez maior, da renda em favor dos grupos hegemônicos. Tornava-se, assim, necessária a manutenção da paz social, via políticas públicas. Grande parte dessas políticas surgiram no governo Vargas, e por isso é um período considerado como importante marco na conquista dos direitos trabalhistas. Porém, com evidente processo excludente, já que dava direito apenas aos segmentos considerados produtivos, deixando boa parte da população dependente de ações segregadas de proteção social benemerente.
Somente em 1988 ocorre a generalização dos direitos sociais no Brasil, com a promulgação da Constituição Federal, na qual novas bases são colocadas para o Sistema de Proteção Social brasileiro. Nasce assim a Seguridade Social, modelo que articula o atendimento por parte do Estado às demandas sociais nos campos da saúde, assistência social e previdência social, de caráter universalizante. Portanto, por meio da Política Social e de seus benefícios, o Estado busca manter a estabilidade, diminuindo desigualdades e garantindo direitos sociais, em um contexto de significativo aumento da pobreza, remodelando a questão social no país.
A partir da década de 90, a perspectiva privatizadora, decorrente das transformações estruturais do capitalismo contemporâneo, passa a configurar um período de relevante subordinação das políticas sociais às políticas de ajuste da economia, representando grande desgaste do sistema público de proteção social, com o encolhimento dos investimentos públicos no campo social, atingindo duramente as relações de trabalho, intensificando sua vulnerabilidade. A retórica liberal encontrou solo especialmente fértil no Brasil, país construído por relações clientelistas e de favor, articuladas economicamente com o universo do capital, que dissimulam a violência presente, até hoje, nas relações de produção. O liberalismo, que é uma filosofia e uma prática política nascidas com o capitalismo, possui várias gradações e sua premissa busca justificar a dissociação entre o produtor e o resultado do seu trabalho. Sua característica central é garantir a expansão do capitalismo, naturalizando seus desdobramentos. Seu objetivo medular, seja do neoliberalismo, do ultraliberalismo e, agora, do ultraneoliberalismo, é defender a propriedade do capital em detrimento à classe trabalhadora, mediante sua execrável e contínua exploração.
O liberalismo se configura como política de Estado, protege essa instituição dos levantes populares e, consequentemente, favorece os grupos dominantes, encorajando-os a usurparem os bens públicos. A doutrina do ultraneoliberalismo, faz com que o Estado austericida camufle as artimanhas fiscais do empresariado, constituindo-se assim em uma política de endividamento de grandes proporções. Dessa maneira, recursos destinados às políticas sociais são usados para eximir impostos das classes dominantes, em consonância com a aguda precarização dos trabalhadores. A expansão do capitalismo equivale à produção crescente da desigualdade social. Assim, o atendimento às necessidades sociais, como saúde, educação, etc., deixa de ser responsabilidade do Estado e passa para a competência do mercado, ocorrendo a mercantilização dos serviços públicos.
Nesse contexto, a análise das políticas sociais brasileiras revela sua natureza compensatória, focalista e seletiva, direcionada ao atendimento de situações extremas de pobreza e de sobrevivência, descaracterizando sua atuação na perspectiva da garantia de direitos e exercício da cidadania. As práticas de benemerência são recuperadas e reatualizadas pelo Terceiro Setor (Ong´s) e o enfrentamento às demandas sociais passa a ser uma tarefa articulada entre sociedade civil e Estado. O avanço do neoliberalismo enquanto paradigma político e econômico globalizado evidencia grandes contradições no campo da Seguridade Social pois, apesar de se ajustar à ordem capitalista internacional, reduzindo a função social do Estado, com inúmeras privatizações, limitando benefícios sociais e investimentos públicos, priorizando o voluntariado e a solidariedade, a Constituição Federal de 88 reconhece os direitos sociais e preconiza a Seguridade Social como um sistema de garantia de diversas circunstancias sociais.
É fundamental reconhecer que as inovações contidas na Seguridade Social, especialmente no âmbito da Assistência Social, como os programas de transferência de renda, respondem às necessidades e direitos concretos de seus usuários. No caso do Programa Bolsa Família, criado em 2003 e extinto na semana do dia 15.11.2021, a transferência monetária estava articulada com políticas educacionais, de saúde e de trabalho, contemplando diversos públicos como crianças, jovens e adultos de famílias pobres, com o objetivo de possibilitar um enfrentamento à pobreza e às desigualdades sociais e econômicas no país. O Bolsa Família está sendo substituído pelo programa social Auxílio Brasil, cuja fonte de recursos ainda não foi informada pelo Governo Federal.
O Estado intervém na esfera da vida diária da população, estabelecendo uma relação muito próxima com ela. Diante desse quadro, as organizações populares também procuram fortalecer suas resistências, para reagir à mercantilização das políticas sociais e suas condicionalidades, questionando as relações de força em movimentos cotidianos, expressando protestos contra as medidas do Estado, que é uma condensação de forças e suas relações são mediações, processos de enfrentamento, conflitos de forças, que se organizam de forma diversificada.
Presenciamos cotidianamente o aumento exponencial da pobreza, do desemprego e da desigualdade social, em um cenário marcado pela corrosão de direitos sociais e pela massiva desresponsabilização do Estado em seu papel de agente público, que possui o dever de articular as diversas políticas sociais no atendimento às demandas da população. Segundo a Rede PENSSAN, de 2019 para cá o número de pessoas em insegurança alimentar quase dobrou no Brasil. Os desafios são inúmeros diante da reinvenção do liberalismo, que prioriza a lógica economicista e autoritária, promovendo a intensificação do individualismo e do consumismo.
O desmonte, no contexto do trabalho, é aprofundado pelas contrarreformas trabalhista e previdenciária, com forte impacto nas políticas sociais, em decorrência do congelamento dos recursos públicos. Associado a isso, a culpabilização dos movimentos sociais, da pobreza e o genocídio da classe trabalhadora, revelam a necessidade de se resgatar o trabalho de base, por meio de ações política e pedagógica que possam debater com os sujeitos as causas da problemática social, as escassas respostas das políticas públicas às demandas sociais e o não atendimento aos direitos sociais. A luta pela descriminalização dos pobres e suas famílias deve estar presente de forma ininterrupta na agenda progressista por meio de pactos sólidos, com o objetivo de alimentar a organização dos segmentos populacionais com o objetivo de construir movimentos coletivos de resistência.
É necessário combater a rentabilização da política social e a especificidade que reside na em sua limitação como política de enfrentamento à pobreza apenas em sua dimensão emergencial, focalizada e assistencial, contrapondo o atendimento às demandas sociais com traços paternalistas e repressivos, cujas ações são subordinadas aos interesses econômicos. Fortalecer os movimentos sociais e os sindicatos de diversas frações da classe trabalhadora, é fundamental para intensificar a pressão sobre a arrecadação de impostos sobre rendimentos mais altos. Como condição para a garantia dos direitos civis, políticos e sociais da classe trabalhadora, a luta a favor da equidade e justiça social na perspectiva do acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, deve ser priorizada. É urgente a defesa de políticas sociais universais, capazes de enfrentar a desigualdade social por meio da transformação da base econômica.
A política social é uma modalidade de política pública, que permite o acesso a recursos, bens e serviços sociais necessários, sob múltiplos aspectos e dimensões da vida: social, econômico, cultural, político, ambiental entre outros. Sua atuação deve extrapolar a gestão da pobreza e o controle dos riscos sociai e não deve ser naturalizada como forma paliativa de enfrentamento à pauperização, reduzindo drasticamente seu alcance. Na perspectiva da cidadania, ela deve se fundamentar na luta coletiva pela equalização de oportunidades, melhoria das condições sociais dos sujeitos, concretização de direitos e da justiça social.
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EXAGERADO
Por: Wilson Ramos
ExageradoUma coitada. Desempregada. Com fome. Sem dinheiro para a conta de água, fez um gato. Furtou água. Tem um filho de 5 anos que ousa precisar de água.
Um cretino diria « quem rouba um tostão, rouba um milhão » e defenderia o encarceramento desta perigosa criminosa para a defesa da sociedade e da harmonia social.
Essa cretinice, no Brasil, é coletiva, institucionalizada.
Um delegado prendeu, um promotor denunciou, um juiz mandou para a penitenciária. O Tribunal de Justiça de Minas Gerais manteve a prisão: uma delinquente como aquela diarista, com um filho de 5 anos, não pode ficar à solta. O Superior Tribunal de Justiça, com sigla em minúsculas desde o tempo em que foi cúmplice da Lavajato, manteve-se apequenado. O stj manteve a criminosa presa, encarcerada com outras delinquentes (https://www.google.com/amp/s/www.bbc.com/portuguese/brasil-59314206.amp) por ter desacatado o aparato repressivo estaral, por ter cuspido no rosto do policial que a prendeu.
Uma bandida como essa, ladra de água, abusada, se não for severamente reprimida, daqui a pouco vai estar recebendo cheques de 79 mil em sua conta. Começa assim, alguns litros de água aqui, um cheque em sua conta ali e logo vai estar recebendo auxílio moradia apesar de ter imóvel próprio. Tem que punir ou matar? Bandido bom é bandido morto?
Mais de 100 dias presa por furtar o que jamais deveria ser privatizado e por cuspir no guarda. Reincidente. Reincidiu na pobreza, na sede e na ousadia de ter perdido a serenidade ao ser presa.
Essa senhora é muito abusada, uma diarista, uma pobre, uma criminosa, uma mãe, uma miserável, um perigo para a sociedade. Uma exagerada, como eu, que tenho vontade de cuspir na cara de todos os que, direta ou indiretamente, mantiveram essa perigosa delinquente enjaulada pelo grave crime de ser pobre e precisar de água, por mais de 100 dias, em um presídio em Minas Gerais.
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Da Faixa de Gaza às favelas do Rio de Janeiro: Como Israel globaliza a experiência de terror
Por: Hanin Majdi Dawud Al Najjar
Mulher palestina, mestre em corpo, esporte e sociedade pela UFPR e pesquisadora sobre Oriente Médio e pensamento decolonial.
Regulando os poderes da vida e da morte através de termos forjados pela produção de fronteiras, confisco de propriedades e classificação de pessoas com base na raça e classe social, Israel vem protagonizando junto ao Brasil um símbolo de trocas globais entre as forças militares e policiais mais brutais do mundo.
A criação do Estado de Israel no ano de 1948 em território palestino converteu um importante centro cultural árabe em um verdadeiro laboratório de desenvolvimento de tecnologia militar testada em corpos palestinos. No centro desse sistema habita o comércio militar da letalidade onde Israel se estabeleceu como o Estado mais militarizado do mundo e vem expandindo sua indústria assessorando a polícia, as forças armadas e agências de inteligência e segurança nacional em todo o mundo, seja através de suas empresas públicas ou privadas como, por exemplo, a ISDS (International Security, Defence Systems).
Fundada por agentes secretos israelenses, essa empresa certificada e atuante sob as diretrizes do Ministério de Defesa de Israel, conquistou o direito de ser a encarregada pelo treinamento do Batalhão de Operações Policiais Especiais do Rio de Janeiro (BOPE), estreando um pesado investimento em comando e controle. À essa mesma empresa foi atribuído o treinamento do Batalhão de Ferguson que matou covardemente Michael Brown, caso que ficou conhecido por dar origem ao movimento “Black Lives Matter”.
As empresas israelenses têm se transformado no principal fornecedor de armas e treinamento para os policiais militares do Brasil desde o ano 2000, sistematizando os programas de treinamento. Nesse período as expressões “desproporcionalidade da repressão” e “uso desproporcional da força” se tornam mais frequentes no vocabulário político.
Desde então observamos fatos como a adoção da kufiyah como acessório parte do uniforme do Bope durante operações de combate nas favelas do Rio de Janeiro, tal acessório trata-se de um lenço símbolo da luta e resistência da Palestina, seu uso indiscriminado levantou críticas internacionais que apontaram esse cenário como um desrespeito aos laços culturais palestinos e um abuso do subconsciente islamofóbico que associa árabes à violência.
O Brasil é um dos principais compradores de tecnologia e treinamento militar israelense. Durante as olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro, um muro foi construído segregando o conjunto de favelas da maré, similar ao empreendimento colonial construído em Gaza. Esse muro foi levantado sob a presença da ISDS no Brasil através de um contrato oficial com o comitê organizador dos Jogos Olímpicos numa tentativa de estender um contrato de 2.2 bilhões assinados entre Israel, o Comitê Olímpico e o governo brasileiro. Nesse período, o Comitê sobre os Direitos da Criança da ONU divulgou relatório acusando a Polícia Militar brasileira de matar crianças em situação de rua com o objetivo de “limpar a cidade”, brutalidade amplamente utilizada contra a infância palestina sujeita a mutilação e massacre.
Em resposta movimentos sociais brasileiros e palestinos organizaram em 2016 uma marcante conferência no Rio de Janeiro pedindo embargo militar contra Israel e obtendo como resultado o impedimento da atribuição total da segurança dos Jogos Olímpicos ao Estado de Israel, criando o Movimento “Jogos Olímpicos sem Apartheid”, ao mesmo tempo em que estreitava laços entre as favelas do Rio de Janeiro e a Palestina, ambas assombradas pelas operações sistemáticas de terror conduzidas por máquinas de guerra estatais.
Em treinamento organizado pela embaixada de Israel no Panamá em 2012, circularam fotos de alvos caracterizados com roupas árabes representando mulheres muçulmanas e homens vestidos de kufiyah como símbolos de ódio e perseguição. Essas operações testadas em território palestino fornecem treinamento para militares e policiais de todo o mundo que inclui “tiro na cara” e “na nuca”, defendendo abertamente as execuções extrajudiciais com lógicas abertamente raciais, especialmente nas favelas brasileiras.
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Uma análise dos cenários possíveis
Por: Rodrigo G. M. Silvestre
Viveremos em 2022 uma eleição icônica. Estarão presentes três (ao menos) líderes carismáticos, todos representando parcelas importantes da sociedade brasileira, nenhum, entretanto, representando nada de novo.
O primeiro, um líder popular, cuja narrativa para a campanha vem com a potencia de ter sido preso para evitar que fosse candidato na última eleição presidencial. Diga-se de passagem, que foi preso pela articulação dos dois outros grupos que irão para o embate. O segundo, atual mandatário da nação, também líder carismático, na semântica maquiavélica, virá de um processo de desconstrução de seu discurso da campanha anterior, pela própria constatação da realidade. Porém terá força no discurso para a base de seguidores que não tem interesse no conteúdo da narrativa, mas tem aversão à possibilidade do retorno do primeiro líder, mencionado anteriormente. O último (por enquanto), é o príncipe fidalgo, que representa a parcela que articulo-se para inviabilizar a candidatura do primeiro líder, porém rompeu com o segundo após as sistemáticas indisposições na consecução da agenda liberal conservadora.
No cenário padrão, cada uma dessas forças tem algo entre 20% e 30% dos votos, deixando de 40% a 10% dos votos em disputa. Sinaliza para um primeiro turno de muito embate e pouca cordialidade, possivelmente nenhuma discussão sobre projetos de longo prazo para o país. O segundo turno, será uma eleição completamente diferente, porque de um lado haverá a discussão entre os resultados da gestão do primeiro líder contra o fracasso dos resultados do segundo. Isso levará a discussão para o campo da escolha entre os conjuntos ideológicos de cada um, sob uma aparente escolha de qual grupo é menos corrupto. A outra alternativa possível é o embate entre o primeiro líder e o terceiro, onde a narrativa de ambas as partes muito possivelmente será um revisitar do embate jurídico vivenciado por ambos. No terceiro e último cenário combinatório, estarão frente a frente o presidente e o ex-ministro, que terão que revelar seus bastidores e vísceras para capturar os votos de uma esquerda que estará dilacerada pela ausência de seu líder na disputada do segundo turno.
Nenhum dos cenários é alvissareiro para o país, pois esse irá enfrentar uma conjuntura econômica e social draconiana em 2023. Com inflação descontrolada, crise social e desconfiança política, a governabilidade passará pela negociação com o legislativo. Esse terá um forte peso da concentração partidária e movimentos de troca que estão ocorrendo nesse instante. O país passa por uma desconstrução simultânea tanto das práticas liberais quanto das estruturas de proteção social. Soma-se a isso a incapacidade atual da gestão e manter a máquina pública operando minimamente em “velocidade de cruzeiro”, isso significa que as pioras nos indicadores econômicos e sociais demandarão um significativo esforço “apenas” para retomar os patamares anteriores.Nesse cenário, qualquer um dos três líderes terá que apresentar um projeto de longo prazo concreto e factível, que irá certamente demandar um arcabouço legal e regulatório que o sustente.
Um dos líderes demonstrou anteriormente sua capacidade de gestão e articulação, entretanto, a perspectiva de permanência dele no poder levou a uma resposta de grupos sociais que tiveram capacidade de inviabilizar sua continuidade. O segundo líder, demonstrou, por sua vez, incapacidade administrativa e de proposição de uma agenda clara para o país. Nas tentativas de implementar ações de sua agenda liberal conservadora, a inabilidade política teve um custo elevado e resultado pífios. O terceiro é uma incógnita administrativa, não tendo demonstrado objetivamente resultados em sua curta passagem pelo executivo. A articulação política também não é um ponto forte de sua possível gestão, visto que a base de seu discurso confronta diretamente os interesses do grupo político conhecido com “centrão”. Muitos deles acusados criminalmente por esse terceiro líder.
O risco para a primeira liderança é de assumir em um cenário de destruição tamanha, que a fragilidade social obrigue-o a medidas altamente impopulares, e a pressão dos grupos derrotados (como ocorreu em 2014 e 2018) inviabilizem a articulação política. Nesse cenário os custos dos resultados pode destruir a base de apoio popular que estará altamente pressionada pela fome e pela inflação. O remédio conhecido é a alta na taxa de juros, que irá canalizar ainda mais os recursos do setor produtivo para o setor financeiro. O impacto será profundo sobre a concentração de renda no país e irá dificultar sobremaneira a condução de políticas sociais e investimentos.
O risco para a segunda liderança é vencer, dando continuidade ao seu próprio governo, que está implementando políticas altamente populistas, com impacto programado para 2023, em um cenário de alto risco, pois no caso de resposta fraca da economia no retorno da atividade pós pandemia, não haverá espaço fiscal para reverter o ciclo de inflação e estagnação econômica. O risco é de ter um longo período de incredulidade fiscal, somado a indicadores macroeconômicos negativos e uma forte pressão social relaciona da fome e inflação.
O terceiro líder tem como riscos a necessidade de arregimentar um conjunto de técnicos e gestores para a imensidão de posições dentro da máquina pública. E essa indicação depender fortemente dos quadros que hoje estão associados aos mesmos políticos que foram objeto de seus ataques em prol da moralidade. Nesse contexto, a incapacidade de apresentar um projeto claro de governo irá esvaziar a capacidade de indicação técnica para o governo e restando o seu loteamento em busca de governabilidade, reproduzindo por sua vez o modelo que terá sido amplamente criticado durante a campanha. Resta ainda como risco importante para esse candidato a líder, que ele expresse efetivamente os 20% a 30% que tem de potencial.
Me afastando um pouco do possível, partindo para o desejável. Gostaria de ver nas próximas eleições um programa de longo prazo para o país, tendo como foco a resolução dos problemas sociais, especialmente aqueles que assolam a população mais pobre, como a fome e a inflação. Nenhum dos líderes conseguirá reverter os resultados no intervalo de 4 anos, mas possivelmente alguns deles poderão agravar ainda mais a crise. Não consigo avaliar ainda a extensão de um agravamento das condições sociais que podem ocorrer após 2023. Por vezes, o país tem apresentado indícios de estar à beira de confrontos localizados entre a própria população. O governo federal, inclusive, tem instigado a criação desses momentos de “teste de estabilidade” social. Geralmente, recuando no momento final e deixando o estado de incerteza pairando no ar. Nesse sentido, já tenho minha opção entre os líderes postos, ainda restando alguma indeterminação com relação a se teremos efetivamente eleições convencionais.
Dentro desse cenário menos provável, ainda existe a possibilidade do desgaste econômico e social se agravar rapidamente durante o primeiro semestre de 2022, de maneira que só reste ao governo o exercício do discurso de ruptura que é testado frequentemente. E claro, resta sempre o imponderável, pois o Brasil é um país complexo e certamente minha capacidade cognitiva limitada não é capaz de antever todos os contextos possíveis. Mas do que é possível avaliar até o momento, temos um longo trabalho pela frente à partir de 2023, para construir efetivamente um país melhor.
Eu gostaria muito de uma nova liderança, especialmente uma que não representasse o velho homem branco, cisgênero e cristão. Mas é ele que está representado nos três potenciais candidatos da liderança brasileira de 2023. Precisamos pensar o futuro e colaborar para o surgimento de diferentes tipos de liderança. Precisamos ir além do vórtice autodestrutivo que ingressou a território latino-americano e para isso precisamos de ideias e valores diferentes daqueles propostos pela atual conjuntura. Se queremos construir um continente verdadeiramente unido, precisamos também de lideranças que sejam capazes de realizar essa articulação.
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DÁ COLONIZAÇÃO DOS ALIMENTOS À COLONIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO
Por: Rodrigo G. M. Silvestre
Nossa ancestralidade guarda profunda relação com como nos alimentamos. A origem de nossa nutrição, forma como a obtemos, preparamos e consumimos diz muito sobre nossa cultura. Nesse sentido, a colonização sul-americana é marcada tanto pela usurpação de produtos como o milho e a batata, que tanto serviram à expansão e manutenção humana como a conhecemos, quanto pela introdução de hábitos alimentares estranhos que, além de dissociar o latino-americano de sua cultura, ainda introduziu provisões calóricas de maneira inadequada que levaram contingentes inteiros da desnutrição direto para a obesidade.
A contemporaneidade, trouxe um paralelo interessante entre a nutrição alimentar e a aquisição e consumo de informação. Nela, talvez, resida a nova forma de dominação que os territórios colonizados vivenciam.
No livro “A Dieta da Informação: uma Defesa do Consumo Consciente, de Clay A. Johnson, essa comparação é feita. O autor aponta que o ser humano moderno gasta 11 horas do seu dia em consumo constante de informação. Não apenas se alimentando, mas devorando informações continuamente expelidas pelos eletrônicos de que tanto se gosta. Desta forma, segundo o autor, da mesma forma que podemos nos tornar morbidamente obesos de tanto ingerir açúcar, gordura e farinha, também nos transformamos em glutões de textos, mensagens instantâneas, e-mails, feeds RSS, downloads, vídeos, atualizações e tuítes.
Ele conclui por apontar que o ser humano moderno enfrenta uma tempestade de distrações, sendo bombardeados por notificações ininterruptas e tentados por pequenas doses de informações apetitosas. Assim, da mesma forma que o excesso de alimentos pouco saudáveis pode resultar na obesidade, muita informação sem conteúdo pode facilmente nos tornar ignorantes.
Para os latino-americanos, esse risco é ainda maior, porque pode tornar-se ignorante e “obeso” de informações que sequer são de seu contexto ou reflitam sua cultura. Como o cacau que sai da Bahia para tornar-se chocolate na indústria suíça, e retorna despersonificado para consumo em uma população ribeirinha, no Pará, que mal tem água tratada, mas que rapidamente torna-se obesa pelo consumo “fácil e acessível” de produtos hiper processados. O resultado negativo ficará para o Sistema Único de Saúde (SUS) enquanto os lucros serão repatriados para o paraíso fiscal mais vantajoso.
Paralelamente, o mesmo fenômeno ocorre com a informação, pois as plataformas de redes sociais de capital internacional pouco ou nada se importam com quem consome maciçamente suas informações, desde que contabilize em grande número sua interação e possa manter os vultosos contratos publicitários de que dependem. O engordamento do latino-americano não se dá ao mesmo tempo que a distribuição dos lucros extraordinários que essas inovações proporcionam.
É fundamental discutir nossos hábitos de consumo, especialmente se pretende-se recuperar os valores de vida saudável e feliz que nossos ancestrais valorizavam. A colonização do pensamento é ainda mais nefasta que a colonização alimentar (embora venham juntas e interrelacionadas). É preciso combatê-la pelo resgate do conteúdo e da diferenciação entre o que pertence ao nosso contexto cultural e o que não pertence.
A velocidade do consumo da informação, assim como a velocidade no consumo de calorias, só resulta em malefícios para corpo e mente.
Não é indiferente consumir 100 calorias de abacate plantado no território, e 100 calorias de chocolate produzido pela indústria multinacional. Não só pela natureza da nutrição, mas também pelo que representa o acesso a cada um desses tipos de produto. Igualmente, não é igual consumir 100 bytes de informação produzida pelo jornalista ou autor local e consumir 100 bytes enviados pelo robô de inteligência artificial do Facebook. Cada um representa um contexto de acesso muito diferente.
A colonização alimentar e de pensamento são as formas de dominação permanente que nós latino-americanos precisamos questionar de maneira permanente e aguerrida. Só pela produção local de alimentos e informações, mesmo que inseridas em uma perspectiva global é que poderá nos tornar realmente uma região livre e atuante.
Os movimentos atuais de desinformação, que levaram a humanidade da pós-verdade, para a não-verdade, têm suas raízes na colonização alimentar (entre outras). Desde que nos convenceu que a “batata francesa” ou o “milho da Monsanto” nunca nos pertenceu. E que graças à indústria e a colonização tivemos acesso a essas iguarias que hoje tanto consumimos.
Pela outra frente de batalha, a desinformação vem introduzir em nossos viciados por informação, obesos de pensamentos vazios, uma colonização que propõe que os latino-americanos não tem espaço na geopolítica internacional, que devem apenas aguardar passivamente os contramovimentos conservadores que chegam em profusão pelas redes sociais. Dele decorre que os líderes arrogantes, pseudo-liberais e conservadores dos hábitos de misoginia, xenofobia e beligerância, são parte de um processo natural. Dele não poderíamos escapar, pois é o acesso que os colonos permitem, com sua potência financeira e institucional.
Ledo engano, a américa-latina é, em muitos casos, o berço desses hábitos e nesse resgate reside a força para a luta. A retomada da consciência sobre a ancestralidade comum, sobre as divergências e principalmente para quais os rumos para uma identidade comum, é o caminho para a descolonização e para o exercício total da potência dos povos latino-americanos!
Sejamos saudáveis no consumo de alimentos e informações e vamos reconstruir nossas relações com essas dimensões de nossas vidas para realizar de fato um projeto comum de felicidade!
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DE LA COLONIZACIÓN DE ALIMENTOS A LA COLONIZACIÓN DE LA INFORMACIÓN
Por: Rodrigo G. M. Silvestre
Nuestra ascendencia está profundamente relacionada con la forma en que comemos. De dónde proviene nuestra nutrición, cómo la obtenemos, preparamos y consumimos dice mucho sobre nuestra cultura. En este sentido, la colonización sudamericana está marcada tanto por la usurpación de productos como el maíz y la papa, que sirvieron tanto para la expansión y el mantenimiento humano como lo conocemos, como por la introducción de hábitos alimenticios extraños que, además de disociar el Latinoamericana de su cultura, incluso introdujo provisiones calóricas inadecuadas que llevaron a contingentes enteros de la desnutrición directamente a la obesidad.
La contemporaneidad ha traído un interesante paralelismo entre la nutrición alimentaria y la adquisición y consumo de información. En él, quizás, reside la nueva forma de dominación que experimentan los territorios colonizados.
En el libro de Clay A. Johnson The Information Diet: A Defense of Conscious Consumption, se hace esta comparación. El autor señala que los seres humanos modernos dedican 11 horas de su día a un consumo constante de información. No solo alimentarse, sino devorar información continuamente expulsada de los dispositivos electrónicos que tanta ama. Así, según el autor, así como podemos volvernos obesos mórbidos por ingerir azúcar, grasas y harinas, también nos volvemos glotones de textos, mensajería instantánea, correos electrónicos, feeds RSS, descargas, videos, actualizaciones y tweets.
Concluye señalando que el ser humano moderno se enfrenta a una tormenta de distracciones, siendo bombardeado por notificaciones sin parar y tentado por pequeñas dosis de información apetitosa. Entonces, así como un exceso de alimentos poco saludables puede resultar en obesidad, demasiada información sin contenido puede fácilmente hacernos ignorantes.
Para los latinoamericanos, este riesgo es aún mayor, porque pueden volverse ignorantes y “obesos” de información que ni siquiera pertenece a su contexto o refleja su cultura. Como el cacao que sale de Bahía para convertirse en chocolate en la industria suiza, y regresa despersonalizado para el consumo en una población ribereña de Pará, que apenas tiene agua tratada, pero que rápidamente se vuelve obesa por el consumo “fácil y accesible” de productos hiperprocesados. El resultado negativo será para el sistema local de salud mientras que las ganancias serán repatriadas al paraíso fiscal más ventajoso.
Al mismo tiempo, ocurre el mismo fenómeno con la información, ya que las plataformas de redes sociales con capital internacional poco o nada se preocupan por quién consume masivamente su información, siempre que den cuenta de una gran cantidad de sus interacciones y puedan mantener los enormes contratos publicitarios en de los que dependen. El engorde del latinoamericano no ocurre al mismo tiempo que el reparto de los extraordinarios beneficios que brindan estas innovaciones.
Es fundamental hablar sobre nuestros hábitos de consumo, sobre todo si pretendemos recuperar los valores de una vida sana y feliz que valoraban nuestros antepasados. La colonización del pensamiento es incluso más dañina que la colonización por alimentos (aunque se unen e interrelacionan). Es necesario combatirlo recuperando el contenido y la diferenciación entre lo que pertenece a nuestro contexto cultural y lo que no.
La velocidad del consumo de información, así como la velocidad del consumo de calorías, solo resulta en daño para el cuerpo y la mente.
No es indiferente consumir 100 calorías de aguacate sembrado en el territorio, y 100 calorías de chocolate producido por la multinacional. No solo por la naturaleza de la nutrición, sino también por lo que representa el acceso a cada uno de estos tipos de productos. Asimismo, consumir 100 bytes de información producida por el periodista o autor local no es lo mismo que consumir 100 bytes enviados por el robot de inteligencia artificial de Facebook. Cada uno representa un contexto de acceso muy diferente.
La colonización de alimentos y pensamientos es la forma de dominación permanente que los latinoamericanos debemos desafiar de manera permanente y feroz. Solo a través de la producción local de alimentos e información, incluso si se inserta en una perspectiva global, puede realmente convertirnos en una región libre y activa.
Los actuales movimientos de desinformación que han llevado a la humanidad de la posverdad a la mentira tienen sus raíces en la colonización de alimentos (entre otros). Desde que nos convenció de que la “papa francesa” o el “maíz de Monsanto” nunca nos pertenecieron. Y que gracias a la industria y la colonización tuvimos acceso a estos manjares que tanto consumimos hoy.
En el otro frente, la desinformación introduce en nuestros adictos a la información, obesos con pensamientos vacíos, una colonización que propone que los latinoamericanos no tengan espacio en la geopolítica internacional, que simplemente esperen pasivamente los contramovimientos conservadores que llegan profusamente por las redes sociales. De ello se desprende que los líderes arrogantes, pseudoliberales y conservadores con hábitos de misoginia, xenofobia y beligerancia son parte de un proceso natural. No podíamos escapar de ella, ya que es el acceso que permiten los colonos, con su poder financiero e institucional.
Un error, América Latina es, en muchos casos, la cuna de estos hábitos y en ese rescate radica la fuerza para la lucha. ¡La reanudación de la conciencia sobre el ancestro común, sobre las divergencias y especialmente hacia los caminos hacia una identidad común, es el camino hacia la descolonización y hacia el pleno ejercicio del poder de los pueblos latinoamericanos!
¡Seamos saludables en el consumo de alimentos e información y reconstruyamos nuestras relaciones con estas dimensiones de nuestra vida para llevar a cabo un proyecto común de felicidad!
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LA REVOLUCIÓN BRASILEÑA II O cómo los hambrientos matarán al neoliberalismo
Por: Felipe Mongruel
Los brasileños somos conocidos en todo el mundo por ser alegres, bailarines y grandes tamborileros. Además de ser caipirinistas y maestros de la “embassadinha”, se nos atribuye este pecado de “fanfarrones” porque ganamos mucho dinero con el tráfico de cocaína, con la prostitución infantil y con los regateadores flacos que van a Europa como productos del gran capital. Léase: 39kg de cocaína en el avión presidencial, niños de 12 años prostituyéndose en la costa de Maceió y el ridículo del presidente Bolsonazi en una foto con el pastoso Neymar.
Mientras todo esto sucede, millones de personas pasan hambre y revuelven la basura en el Brasil del “puente al futuro”. He dicho decenas de millones que van a la cloaca de la burguesía que, con sus discursos cínicos y llenos de hipocresía venden huesos de buey para comerse a las clases bajas.
Fundieron la investigación en Brasil, fundieron los recursos naturales, fundieron los empleos y los trabajadores y ahora, a un año de las elecciones presidenciales, los fiscales y el juez que encarcelaron al mayor brasileño vivo, Luis Inacio Lula da Silva, declaran que van a entrar en política. Se van a tirar a la sartén de la democracia creando agendas limpias y malolientes. Brasil no está limpio ni huele bien. La vida humana huele a sangre y la democracia está pintada del mismo color.
Ha llegado el momento de combatir los brioches que intentan hacernos tragar, sin siquiera existir, con el mismo condimento. Ha llegado el momento de llamar a las clases progresistas del país a defender sus vidas y las de los demás con el mismo poder con el que encarcelaron a Lula o destituyeron a Dilma.
No veo otra forma que una bofetada a mano abierta a estas basuras de cuello blanco que se venden como los guardianes contra la corrupción. Son mentirosos descarados que utilizan sus privilegios como medio para una nueva esclavitud. Se trata de Auxilio Brasil. Otro escándalo de esta gente que terminó con un proyecto de política pública -Bolsa Familia- para realizar un acto electoral de esclavitud social.
En el Brasil apocalíptico, de las fakenews y del patetismo de la extrema derecha, es el neoliberalismo aplastante el que manda. Y es esto lo que debe ser asesinado. El neoliberalismo asfixiante.
No hay lugar para acumular más capital en manos de unos pocos. No hay lugar para poner a tanta gente hambrienta y sin trabajo. No hay lugar para más yates sin impuestos y arroz y frijoles a 30 reales. No hay lugar para que los ricos digan a los pobres cómo deben comportarse. Ya no hay lugar para que los blancos digan para qué sirven los negros o para que los hombres digan dónde deben estar las mujeres y cómo deben vestir.
Ya no hay lugar para el capitalismo, ha llegado la hora de un experimento socialista en tierras tupiniquim. El resto es salud.
Marchemos por la división de la riqueza entre todos los brasileños. Y que Marx y Lampião nos ayuden.
Traducción realizada con la versión gratuita del traductor www.DeepL.com/Translator
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DA REVOLUÇÃO A BRASILEIRA II Ou como os famintos degolarão o neoliberalismo
Por: Felipe Mongruel
Nós brasileiros somos conhecidos mundialmente como alegres, dançarinos e ótimos batuqueiros. Além de fazedores de caipirinha, mestres em embaixadinha, nos atribuem essa pecha de “fanfarrões” porque ganha-se muito dinheiro com o tráfico de cocaína, com a prostituição infantil e com magricelos dribladores que vão pra Europa como produtos do grande capital. Leia-se: 39kg de cocaína no avião presidencial, garotos de 12 anos que se prostituem na orla de Maceió e o ridículo presidente Bolsonazi em foto com o pastoso Neymar.
Enquanto tudo isso acontece, milhões de pessoas passam fome e reviram lixo no Brasil da “ponte pro futuro”. Eu disse dezenas de milhões que vão pro esgoto da burguesia que, com seus discursos cínicos e cheios de hipocrisia vendem ossos de boi a comer as classes mais baixas.
Derreteram a pesquisa no Brasil, derreteram os recursos naturais, derreteram os empregos e os trabalhadores e agora, há um ano da eleição presidencial os promotores e o juiz que prendeu o maior brasileiro vivo, Luis Inacio Lula da Silva, declaram que vão entrar pra política. Vão se jogar na frigideira da democracia parindo pautas limpinhas cheirosas. O Brasil não é limpinho e cheiroso. A vida humana tem cheiro de sangue e a democracia é pintada com a mesma cor.
Chegou a hora de combatermos os brioches que tentam nos fazer engolir, sem mesmo que existam, com o mesmo tempero. Chegou a hora do chamamento as classes progressistas do país que defendam suas vidas e as demais com a mesma potência com que eles encarceram Lula ou retiraram Dilma.
Eu não vejo a outra forma que não o tapa na cara de mão aberta desses pulhas do colarinho branco que se vendem como os guardiões contra a corrupção. Mentirosos deslavados, fazem do uso de seus privilégios os meios para a nova escravização. Que ganha o nome de Auxilio Brasil. Outra patifaria desses sujeitos que acabaram com um projeto de politica pública- Bolsa Familia- para fazerem um ato eleitoral e de escravagismo social.
No Brasil apocalíptico, da fakenews e do patetismo da extrema-direita quem manda é o neoliberalismo avassalador. E é ele quem deve ser assassinado. O neoliberalismo sufocante.
Não há lugar pra acumular mais capital na mão de poucos. Não há lugar pra botar tanta gente faminta e sem emprego. Não há lugar pra mais iates sem impostos e arroz e feijão a 30 reais. Não há mais lugar pra rico dizer como pobre deve se portar. Não há mais lugar pra branco dizer qual preto presta ou lugar pra homem dizer aonde a mulher deve ficar e como se vestir.
Não há lugar mais pro capitalismo, chegou a hora de uma experiencia socialista em terras tupiniquins. O resto é saúde.
Marchemos pra divisão das riquezas entre todos os brasileiros. E que Marx e Lampião nos ajudem.
