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Categoria: Volume III * nº. 2 * Fevereiro de 2023
Edição de Fevereiro de 2023 do Jornal América Profunda
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A REVOLUÇÃO IN FLUX – ALVARO LINERA E O MARXISMO LATINO-AMERICANO
Por: Firmino

Foto: Joel Alvarez Seguindo a tradição de Mariategui, o boliviano Alvaro Linera é um dos mais instigantes pensadores marxistas da atualidade. Teórico e militante, aplica o marxismo à realidade latino-americana, especificamente à realidade boliviana, como o fez Lênin ao aplicar o método marxista à situação concreta da Rússia no séc. XX, seguindo à regra a tese de que a ciência de Marx não é um dogma mas um guia para a ação, Linera aponta como sujeito histórico do processo revolucionário em curso na Bolívia os povos indígenas, portanto, em grande parte, o campesinato, ao contrário do que predizia o marxismo dogmático, cujo sujeito histórico é o operariado. A diferença entre Lenin e Linera é que para aquele a incipiente mas combativa classe operária russa seria a vanguarda da revolução que despontava no horizonte; e o campesinato russo, 80% da população, mas politicamente despreparado, apesar do histórico de revoltas, era apenas um aliado tático da vanguarda proletária – como estava explícito no chamado à aliança operário-camponesa, no programa do Partido Bolchevique.
O processo revolucionário boliviano se inicia na resistência ao projeto neoliberal implantado em toda América Latina e de forma ainda mais cruel na Bolívia, com a privatização da água ( a guerra da água) no início deste século. Linera aponta cinco fases deste processo que avança de um republicanismo-proprietário até o atual republicanismo comunitário, conduzido pelo MAS de Evo Morales ( Linera foi vice-presidente da Bolivia no primeiro mandato de Evo). A primeira fase foi caracterizada pela resistência popular às políticas neoliberais implantadas desde Washington e com o apoio da classe dominante boliviana, com a mobilização de um poderoso bloco popular urbano-rural em torno do movimento camponês indígena, que trouxe à tona a crise do Estado, cuja dominação foi posta em questão com o consequente aparecimento das contradições históricas da dominação burguesa-colonialista no país ( Estado monocultural versus sociedade plurinacional) e as contradições de curta duração, como as nomeia Linera – nacionalização das riquezas naturais versus privatização.
Na segunda fase, acentua-se a crise de dominância burguesa-colonialista, os de cima não conseguiam governar e os debaixo começavam a articular e exigir formas de autogoverno. A disputa pela ordem estatal paralisou a reprodução da dominação – que Linera denominou de “empate catastrófico”. Essa situação perdurou de 2003 a 2008.

Foto: TELESUR A terceira fase foi caracterizada pela sublevação do povo. Os dominados passavam à ofensiva, quebrando o impasse e levando Evo Morales à presidência, dando início à quarta fase do processo revolucionário, ou o momento jacobino da revolução, em que as classes antagônicas se radicalizam e medem suas forças. Em 2008 acontece a tentativa de golpe pela classe dominante, com apoio do imperialismo americano. O povo derrota os golpistas graças a grande mobilização, ocupando estradas, assumindo o controle de fato das cidades e neutralizando as forças de repressão da burguesia-colonialista. Derrotado o golpe, o bloco popular índigena-camponês se consolida no aparelho de Estado. Tem início a quinta fase revolucionária que se prolonga até hoje com as nacionalizações e a divisão da renda nacional entre todos os bolivianos, com o controle econômico nas mãos do Estado e a grande burguesia sob controle democrático da população ( As classes dominantes, embora politicamente derrotadas, não perderam sua força nem o apoio foraneo e tentaram novamente um golpe de Estado, mais uma vez derrotado, depois da hesitação inicial das forças populares).
Esta quinta fase é caracterizada pelas “ tensões criativas” entre os movimentos populares, segundo Linera, na sua caminhada rumo a um socialismo comunitário do bom viver. Agora afloram as contradições dentro do próprio bloco popular governante, com as reivindicações cada vez maiores dos trabalhadores ainda encontrando dificuldades de atendimento dentro de um Estado herdado da estrutura colonial. A tensão entre interesses particulares dos dominados e os interesses gerais dentro do bloco popular governante, levando por vezes a impasses dos quais a burguesia colonial tenta se aproveitar para dividir a massa popular e seu governo.
Creio que apresentei, em linhas gerais, e muito brevemente, a quem não conhece, o processo que levou a uma das mais fecundas elaborações marxistas da atualidade. Os erros e omissões são de minha exclusiva responsabilidade. Mas quem quiser conhecer o pensamento de Linera, há livros dele traduzidos para o português.
Firmino Torres, observador.
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Intensidades
Por: Wilson Ramos

Foto: Jean Cattufe/ Getty Images Um futebolista brasileiro encontra-se preso em Barcelona sob acusação de estupro de uma jovem de 23 anos no banheiro de uma boate. Trata-se de um homem profundamente cristão. A ponto de tatuar Jesus no próprio corpo. Ele seria um exemplo de excesso de cristianismo? Ele é bolsonarista. Seria um exemplo de fascismo cristão no Brasil?
Responder a essas perguntas não é fácil e traz um enorme risco de ferir susceptibilidades, pois a fé nos mitos, por definição, é irracional. Acabamos sempre voltando para a eterna discussão entre essência e excesso.
O problema não estaria na essência do capitalismo, dizem alguns, mas apenas no seu excesso, ou seja, no neoliberalismo ou no ultra-liberalismo, a forma mais intensa de capitalismo. Deram o golpe em 2016 para implantar o ultra-liberalismo sem limites de Guedes e Bolsonaro. E hoje vivenciamos as consequências deste capitalismo em sua forma mais intensa.
Outros, pelo contrário, sustentam que em ambos os casos a questão residiria na essência dessas duas maneiras de existir em sociedade, muito compatíveis entre si. O capitalismo seria essencialmente injusto, e não apenas o seu excesso seria perverso. Essa mesma modulação pela intensidade serviria também para a crítica de todas as religiões e de algumas igrejas cristãs de um modo bastante escancarado.
Dizem mais: essas duas maneiras de existir muito intensas (o ultra cristianismo e o ultra liberalismo) seriam complementares e reciprocamente constitutivas. Uma seria funcional para a outra.
Reformulando a questão: o problema estaria na essência destes dois mimetizados sistemas de valores que caracterizam a contemporaneidade ocidental? Ou a dimensão da nossa tragédia decorreria apenas da modulação na intensidade da fé em cada uma dessas crenças hegemônicas no Brasil bolsonarista?
O futuro que estamos construindo depende muito destas respostas.
Como trataremos coletivamente os excessos talvez seja até mais urgente e necessário do que discutirmos as essências desses dois sistemas de valores que caracterizam o fascismo bolsonarento. Mas em algum momento, até para que consigamos nos libertar desse obscurantismo medieval, teremos que ter a coragem de criticar as essências desses sistemas de opressão fundados na irracionalidade.
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Após 14 dias do novo governo, Lula se torna o maior brasileiro da História do Brasil, mas a fumaça de um Golpe Institucional parece cada vez mais perto
Por: Felipe Mongruel

Foto: Tânia Rego/ Agência Brasil O dia primeiro do ano veio sacramentar a vitória histórica do ultimo 30 de outubro. Pela terceira vez na história desse país, seremos governados pelo maior exemplo, melhor símbolo e melhor representatividade dos trabalhadores desta nação.
Numa eleição apertadíssima, onde a situação se encontrava com toda a ordem do arcabouço descarrilhado do falso patriotismo e da falsa fé, pregada por falsos cristãos, dentre eles pastores neopentecostais mergulhados em gritarias e verdinhas norte-americanas, Bolsonaro, o atual ex-presidente da Republica se esconde na sua caserna.
Matreiramente, o presidente da República derrotado, não aparece, some, se esconde de seu povo e faltando dois dias para acabar seu governo embarca num voo sentido Miami-Flórida.
Vem o dia da posse, o Brasil profundo é reerguido com celebração das mais diferentes ordens, resultando no ápice de quem entrega a faixa presidencial é uma catadora de lixo do estado de São Paulo. Ao lado dela, professores, um jovem deficiente físico, um representante da Vigília Lula Livre, Seu Flávio e, por último, mas não menos importante, o cacique Raoni, celebrando a presença dos povos originários na maior festa Popular já vista no planalto central.
Acontece que uma semana após, um grupo escoltado pela Policia Militar do Distrito Federal causa a maior violência institucional já vista nestas terras. Bandidos, vândalos e desordeiros sob o pretexto de patriotismo, materializam a máxima do “por trás de um patriota, há sempre um canalha” que invadem a Praça dos Três Poderes e quebram tudo que veem pela frente. Invadem o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal.
Não precisa enxergar longe pra saber que tudo isso foi orquestrado pela mesma turba que ganhou, no voto, as eleições de 2018. E que tudo que fizeram, foi criar uma realidade paralela. Uma seita, um estado de fundamentalismo no país.
Lula ergue-se politicamente com o fato, uma vez que não chama a GLO(Garantia de Lei Ordem) fato esse que seria uma armadilha pro atual presidente, e colocaria a frente da administração os militares.
Decerto que muitas digitais estão presentes nesta sequência de crimes. Desde o Golpe contra presidente Dilma, capitaneado pelo senhor Sergio Moro e o senhor Deltan Dallagnol, junto de seus asseclas do MPF de Curitiba, representantes da direita concurseira que assaltou grande parte do funcionalismo público da nação, num embuste chamado Lavajato e, principalmente, de uma parte considerável das Forças Armadas, leia-se General Vilas Boas, Braga Neto, Pazuelo e afins.
O momento pede inteligência, tanto pra saber se defender destes ataques golpistas quanto para avançar nas pautas sociais que foram colocadas às cinzas desde 2016. A inteligência na defesa da nação passa, inescapavelmente, pela localização, investigação e julgamento dos agentes golpistas e, principalmente, pelo esclarecimento de ação ou omissão dos oficias das forças armadas. O país já anistiou 21 anos de golpe militar para torturadores e demais assassinos e agora, com a gota d’água do bolsonarismo, o povo clama em seu nome por SEM ANISTIA, doa a quem doer aos responsáveis por tanta dor.
Assim como a população pueril que insiste em respirar num país que se repete, sempre para pior, as demais classes econômicas devem entender que não foi pela picanha que Lula foi eleito, mas para retirar dezenas de milhões de famintos que se acotovelam por pedaços de ossos nas grandes cidades.
O Brasil do futuro, é reconstruído sem esquecer seus débitos e com dureza para seguir os passos que o elevem como ator principal no cenário global. E para isso, a prioridade é o combate a fome, de todos e todas. Sem dó, perdão e anistia pra estes que tentam mudar a realidade do povo, pelas telas do celular e com bandeiras furta cor sobre os ombros.
Chega de fome e chega de militar decidindo os futuros da nação. Queremos oportunidades, sem perder dignidade nem negociando nossa história.
