Categoria: América Invisível

Coluna América Invisível. Editor responsável:

  • A HISTÓRIA DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA

    Republicado em parceria com: revista Avión Negro – revista de cultura politica Latino Americano

    Primeira entrevista com Mario Oporto: Patria Grande, modelos de integração regional e processos sincrónicos na América Latina

    La historia de la integración latinoamericana
    Por: Cristina Angelini

    No título do seu livro* sobre o pensamento argentino sobre a América Latina, menciona Moreno e Perón, mas que outras figuras políticas e intelectuais colocaria num lugar de relevo durante o período que vai desde a independência até meados do século XX?
    Antes de mais, seria muito interessante assinalar que a ideia da Pátria Grande, da unidade continental, da integração regional, não é uma moda, nem representa ideias do momento, mas faz parte de uma longa tradição argentina. Trata-se de um pensamento profundo deste lado do continente, uma grande contribuição que podemos dar.
    Se pensarmos naquelas referências políticas e intelectuais que podemos destacar no período que vai desde a independência até meados do século XX, eu apontaria, antes de mais nada, para aquelas arengas do processo de emancipação. Porque não nos referimos apenas a pensadores ou escritores, mas também aqueles que construíram a ideia da integração latino-americana na prática política. A Proclamação Tiahuanaco de Juan José Castelli, toda a ideologia Artiguista, os projetos de unidade expressos no Congresso de Tucumán por Manuel Belgrano, as proclamações de José de San Martín ou o Manifesto de Martín Miguel de Güemes fazem parte de uma enorme tradição que eu gostaria de destacar.
    Creio que o “Ensaio sobre a necessidade de uma federação geral entre os Estados hispano-americanos e o plano para a sua organização”, escrito por Bernardo de Monteagudo em 1824, escrito para o Congresso do Panamá, que Bolívar visionou como um congresso de unidade continental, é um dos destaques. Se eu tivesse de apontar um pioneiro intelectual no que seria um desenvolvimento orgânico da ideia de unidade latino-americana, pensaria em Bernardo de Monteagudo. Outro marco foi o diploma chileno Memoria sobre a conveniência e objeto de um Congresso General Americano, de Juan Bautista Alberdi, de 1844, que, juntamente com o de Monteagudo, me parece ser outro dos grandes trabalhos sistemáticos sobre a ideia de unidade. Também os harangues de Felipe Varela durante o conflito da chamada “Guerra da Tripla Aliança contra o Paraguai”, em defesa do Paraguai, os seus manifestos estão cheios de americanismo.
    Destacaria, naturalmente, Manuel Ugarte, porque tem uma obra volumosa e uma visita permanente a todo o continente americano. Poderíamos destacar dessa obra El Porvenir de América Latina de 1910 e La Reconstrucción de Hispano América, outros dos seus grandes escritos. Gostaria de destacar Manuel Ugarte, mas também o americanismo neutralista de Hipólito Yrigoyen. A Reforma Universitária em Córdoba, aquele manifesto de a Juventude Argentina de Córdoba aos homens livres da América do Sul (La Juventud Argentina de Córdoba a los hombres libres de Sudamérica) de 18 de Julho é também outro documento a destacar.

    José Ingenieros e Alfredo Palacios foram também figuras relevantes no pensamento americano e, claro, FORJA (Fuerza de Orientación Radical de la Joven Argentina) onde Arturo Jauretche, Raul Scalabrini Ortiz se destacam, e onde há um imenso pensamento da Pátria Grande. Não se pode compreender o pensamento nacional se não se acreditar que a nação é muito mais do que os países que nasceram na fragmentação da América após a independência. Entre os escritores desse período, creio que a obra de Jorge Abelardo Ramos é muito significativa e que a sua Historia de la Nación Latinoamericana é notável. Além disso, Juan Domingo Perón é, sem dúvida, digno de menção. O “Discurso proferido a 11 de Novembro de 1953 no Colégio Nacional de Guerra”, penso eu, é um documento chave para compreender que o pensamento que se reduziu a esta extraordinária ideia de que o ano 2000 nos encontraria ou unidos ou dominados.

    Diferencia-se entre pan-americanismo e latino-americanismo como dois paradigmas diferentes de integração. A doutrina de Wilson, a doutrina do quintal, e o funcionamento da OEA seriam exemplos deste primeiro paradigma. Quais seriam os exemplos, tanto no passado como no presente, do paradigma da integração latino-americana?
    Sempre houve uma tensão e um dilema sobre como construir a unidade do continente. Esta unidade foi chamada por vários nomes: Hispanoamérica, Iberoamérica, Indoamérica, Panamerica, ou a ideia do Panamericanismo que incluía os Estados Unidos. É uma questão chave para resolver se a unidade do continente inclui o império que contém este continente ou se é o que acreditamos, a unidade daqueles povos herdeiros da coroa espanhola, da coroa portuguesa e também herdeiros de outras metrópoles estrangeiras que foram subordinadas, que fazem parte da periferia latino-americana, e que geram uma unidade original.
    Esta unidade, que foi finalmente chamada América Latina, teve muitos exemplos de organização regional. Poderíamos destacar algumas delas, como o Mercado Comum do Sul, Mercosul, constituído em 1991 pelo Tratado de Assunção e originalmente constituído pela Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai, com a adesão de outros membros com plenos direitos. A tentativa da Venezuela de aderir, a Cimeira de Brasília, e a assinatura do protocolo de adesão pela Bolívia. Este é um espaço que reúne 75% do Produto Interno Bruto da América do Sul. A Comunidade Andina foi outra expressão da busca da unidade, composta pela Bolívia, Colômbia, Equador e Peru. É talvez o processo de integração mais antigo da região, uma vez que as suas experiências tiveram início em 1969, quando vários acordos de comércio livre estiveram verdadeiramente na vanguarda da integração.

    Houve outras tentativas importantes como a Comunidade das Caraíbas composta por quinze países, quase todos eles colónias inglesas e muitas de língua inglesa, onde vêem nesta ideia das Caraíbas, de comunidade, aquele sonho que Francisco Morazán teve no século XIX de unir a América Central. Isto é também algo que devemos destacar.
    Depois, como grande órgão político, a União das Nações Sul-Americanas (UNASUR), nascida na Cimeira das Ilhas Margarita, na Venezuela, em 2007, como herança da Comunidade Sul-Americana de Nações, formada por doze países sul-americanos, é uma organização de concentração política com um total de 400 milhões de habitantes e uma área de mais de dezassete milhões de quilómetros quadrados. Se regressarmos à América Central, podemos pensar no Sistema de Integração Centro-Americana denominado SICA, estabelecido em 1991 em Tegucigalpa na Cimeira dos Presidentes da América Central. Um esforço imenso para integrar a região.
    A ALBA (Aliança Bolivariana para os Povos da nossa América) foi outra tentativa de significado político, uma iniciativa promovida pela Venezuela para integrar os países da América Latina e das Caraíbas, baseada na solidariedade e na ideia de complementaridade das economias nacionais, proposta pelo Presidente Hugo Chaves, como alternativa à “Área de Livre Comércio das Américas” (ALCA) promovida pelos Estados Unidos; creio que esta foi outra experiência muito interessante na procura da integração.
    A Comunidade dos Estados da América Latina e Caraíbas (CELAC) é outra das grandes tentativas, esforços e espaços de integração que procuram a coordenação política, a cooperação e a integração destes Estados. A CELAC, que foi criada em Dezembro de 2011 na Cimeira dos Estados da América Latina e Caraíbas realizada em Caracas, é outra das grandes instituições que nos faz pensar hoje numa possível unidade. Portanto, perante políticas como a OEA ou a ALCA, ou a Aliança para o Progresso, a busca da supremacia hegemónica dos Estados Unidos sobre a região e o continente, a América Latina e as Caraíbas sempre procuraram caminhos alternativos e independentes, para se considerarem como uma nova alternativa e procurarem diferentes ferramentas e diferentes mecanismos para as suas realidades, como as Caraíbas, o mundo andino, a Bacia do Prata, a Bacia Amazónica e as suas diferentes unidades.

    Na história da Nossa América há processos sincrónicos como, por exemplo, o primeiro impulso à independência, a ordem conservadora no final do século XIX, o primeiro processo de expansão democrática no início do século XX, os nacionalismos populares no pós-guerra, etc. Quais são, na sua opinião, as razões profundas deste sincronismo e quais são as suas consequências?
    A história da Nossa América é, sem dúvida, caracterizada por processos sincrónicos simplesmente porque partem de uma base de unidade. Saliento três problemas que percorrem toda a história do nosso continente e que devem ser considerados como um todo. Um é o problema da desigualdade, que é uma questão de herança colonial, estrutural para a América Latina, aquilo a que poderíamos chamar a questão social. O outro é a questão nacional, a questão de romper com o colonialismo e ser capaz de construir alternativas independentes e autónomas, com as suas próprias decisões nacionais. Isto está ligado à questão da unidade, porque a herança colonial nos deu desigualdade, fragmentação e colonialidade. Portanto, para resolver os problemas das desigualdades estruturais na América Latina, ao longo do tempo e com características históricas diferentes, procurou-se a emancipação, e esta emancipação está directamente ligada à construção de uma sociedade mais justa. Se a sociedade perde tudo o que produz para os estrangeiros e não se emancipa a si própria, é muito difícil construir sociedades igualitárias. O grande dilema que sempre surgiu na América Latina foi se isto poderia ser feito sozinho em cada país, em que o continente se tornou fragmentado, balcanizado, ou se a opção era a unidade. Portanto, repito, há um triângulo entre a unidade, a questão social e a questão da emancipação nacional que marcharam juntos e marcharam juntos na independência, porque os exércitos lutaram juntos desde o início. O primeiro governante patriótico do Rio da Prata, que agora se chama Argentina, foi um boliviano de Potosí, Cornelio Saavedra. Por sua vez, um natural de Corrientes, José de San Martín, nascido no actual território do que agora chamamos Argentina, precedeu o Peru, e um venezuelano dos exércitos bolivianos, Sucre, governou a Bolívia. Assim, os exércitos lutavam juntos e os homens nascidos em todos os cantos da América do Sul misturaram-se ali e era um exército de sul-americanos que ia derrotar definitivamente os espanhóis em Ayacucho.
    Dentro de dois anos, no dia 24, recordaremos o bicentenário dessa batalha que deu à América a sua independência definitiva. Nesta busca de unidade, o sincronismo é também uma contrapartida, porque existe um projecto fragmentário do que eram os Estados oligárquicos governados pelos proprietários das minas, da agricultura e da pecuária no final do século XIX. Mas houve também momentos sincronizados na luta pela democratização desta sociedade, os projectos a que chamaríamos reformista democrático, como o radicalismo argentino e chileno, ou a APRA peruana (Alianza Popular Revolucionaria Americana), ou o Batllismo uruguaio, ou as lutas anti-imperialistas como a de Sandino na Nicarágua ou a de Farabundo Martí em El Salvador, ou todos os processos que tentaram ir além da igualdade política e civil para procurar a igualdade social, da qual a revolução mexicana no início do século foi o paradigma. Há também uma longa história e uma longa luta pela terra e pela emancipação do povo indígena, pela revolução agrária que poderia ir de Artigas à revolução mexicana no século XIX e início do século XX. Isto será reproduzido novamente com os nacionalismos populares do pós-guerra, porque a experiência do peronismo na Argentina, como a do Varguismo no Brasil ou a de Cárdenas numa nova etapa da revolução mexicana, o demonstrará.
    As profundas razões para este sincronismo são que existe um modelo oligárquico a que se opõe um governo popular. Como os projectos oligárquicos agiram em paralelo e ligados a restrições de representação política e inserção num mercado internacional que deu a este continente o lugar de produtor de algumas matérias-primas, houve sempre uma oposição que propunha a unidade à fragmentação, à desigualdade propôs sociedades com justiça social, à colonialidade propôs autonomia, emancipação e independência, ao modelo de monoprodução agromineral que propôs indústria, e aos projectos de repúblicas oligárquicas opôs-se à democracia, pelo que este sincronismo era inevitável.

    Republicado em parceria com: revista Avión Negro – revista de cultura politica Latino Americano

     

  • A Batalha dos 100 dias

    Por: Rodrigo G. M. Silvestre

    Desde o dia 08 de Janeiro o país vive o clima de golpe de Estado. A atmosfera é de comoção e solidariedade em defesa da democracia por um lado. De outro, é de afloração do desejo de retomar o controle político do país pela força.

    A mobilização da direita tem um objetivo claro, travestido de defesa do Estado conservador: impedir que o governo Lula obtenha qualquer resultado até os 100 primeiros dias de governo. Essa marca simbólica é importante, porque sinaliza para a sociedade as prioridades do governo, mas principalmente, sua capacidade de articulação e liderança dos diferentes grupos sociais.

    A relação do governo Lula com o parlamento já teve sua prova de fogo na aprovação de espaço fiscal para os programas sociais e principais compromissos de campanha. Mas é fundamental lembrar que o congresso apenas autoriza o orçamento para as atividades, o financeiro para pagar as contas precisa vir da arrecadação. Essa por sua vez precisa da recuperação da atividade econômica, emprego formal, comércio internacional etc.

    Depender de um judiciário atuando sistematicamente para garantir que o executivo possa operar terá um custo exorbitante para o Presidente Lula, de maneira que se não obtiver resultados até os 100 dias, então haverá espaço para as críticas da direita derrotada e consequentemente combustível para novos atos golpistas.

    A composição dos ministérios, especialmente do primeiro e segundo escalão, embora célere, cumpriu a promessa de um governo amplo e plural. Com isso, também significa que será preciso gerenciar uma miríade de interesse muitas vezes antagônicos. Essa tarefa, terá que ser feita em última instância pelo próprio presidente Lula. Ele tem a capacidade singular de articulação e liderança que o país precisa, mas não é capaz de fazer sozinho as atividades para consecução dos projetos de governo.

    É preciso formar agora um “exército” de profissionais que ocupem os níveis intermediários do governo federal e possam dar vazão aos dizeres e pensamentos do quadro de notáveis que se formou no primeiro e segundo escalão. Como se pode dizer, muitas vezes não pela falta de “generais” que se concluí bem a missão, mas pela presença de soldados eficientes. Afinal, são eles que irão de fato empunhar as armas e encarar o adversário.

    A Batalha dos 100 dias será decisiva, para saber como serão os próximos anos do governo Lula, mas principalmente, como serão as chances do bolsonarismo retornar reavivado em 2028. Toda atenção para os próximos movimentos é fundamental.

    Vivemos tempos onde ações parece previsíveis, mas ao mesmo tempo inevitáveis. O anima que se criou no país não parece mais poder ser contido. A não ser que se estabeleça uma agenda de projetos e ações que tenha resultados incontestáveis. Promova a reinclusão social e a ressocialização de uma parcela de milhões de pessoas. Pessoas essas que aparentemente não compactuam com as ações extremistas adotas em 08 de janeiro.

    Rodrigo “Corujo” Silvestre: economista, jornalista e comentarista do jornal América Profunda

    Crédito do Vídeo: Cristenio

  • A necessidade de resgate dos empreendedores e empreendedoras do Brasil

    Por: Rodrigo G. M. Silvestre

    O Brasil possuí cada vez mais pessoas que precisam empreender para sobreviver. Essa massa de pessoas não encontrará no curto prazo postos de trabalho formais, aqueles que garantam sua dignidade e inserção social satisfatória. Por essa razão é fundamental que os diálogos da esquerda possam atualizar os discursos para contemplar esse enorme contingente de cidadãos.

    As práticas de apoio do Estado à atividade empreendedora tem focado quase que exclusivamente no empreendedorismos tecnológico inovador. São moldadas por uma falsa percepção de que há espaço para todos e todas na economia capitalista competitiva. Nesse caso, bastaria uma boa ideia e muita competência para que o resultado seja produzido. É a ideia da meritocracia neoliberal, onde o homem sozinho pode vencer o sistema e, independente de sua classe ou posição social, galgar as benesses da livre concorrência.

    Sabemos hoje, que esse tipo de visão é excludente e que apenas mascara os privilégios dos empreendimentos que são feitos pela própria elite detentora do capital. Não é provável que as oportunidades sejam aproveitas da mesma forma, dado os diferentes contextos onde elas surgem. É preciso uma intervenção do Estado, não apenas para dirimir as imperfeições do mercado, mas para liderar o processo de mudança social. Marina Mazzucato chama isso de Estado Empreendedor.

    Para o Brasil, que é um país empreendedor por natureza, não há Estado mais apropriado do que aquele que direciona a atividade econômica com base nas necessidades reais e objetivas de sua população. Em linha com esse argumento a pergunta do correspondente do jornal América Profunda foi feita ao pensador Emir Sader sobre qual o desafio de incluir no discurso da esquerda o grupo de empreendedores e empreenderas brasileiros.

    O evento foi promovido pelo SINDICATO DOS TRABALHADORES EM EDUCAÇÃO PÚBLICA DO PARANÁ (APP Sindicato) e pode ser revisto na integra no portal da entidade. Aqui colocamos o recorte com a pergunta e a resposta feita pela participação do Jornal América Profunda para provocar a reflexão.

  • Rediscutindo o Empreendedorismo na Esquerda

    Por: Rodrigo G. M. Silvestre

    O Brasil possuí uma massa de milhões de pessoas desempregadas e um enorme contingente indivíduos que desenvolvem alguma atividade empreendedora para cobrir suas necessidades cotidianas. De acordo com o relatório Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2021, realizado pelo Sebrae em parceria com o Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP) o Brasil tem 43 milhões de empreendedores, volume que compreende os que já têm um negócio formalizado ou, no último ano, realizaram alguma ação com intenção de ter um empreendimento no futuro. Dentre esses, cerca da metade são empreendedores por necessidade.

    Nesse sentido, é preciso vencer os velhos paradigmas da esquerda no Brasil que tem verdadeira dificuldade de lidar com essa população. Apresentando a visão de que a atividade empreendedora é a antítese da formação da identidade de classe entre os trabalhadores. Porém, não é concebível que esse contingente de 43 milhões de pessoas possam ingressar no mercado de trabalho nos atuais moldes da economia nacional. Desta maneira, a coexistência com a “classe” de empreendedores, especialmente os por necessidade, deve estar no cerne da discussão de qualquer governo popular, especialmente nos anos que se seguirão. Estes serão marcados por um cenário econômico hostil, com variáveis macroeconômicas deterioradas e forte pressão sobre o orçamento público.

    Se por um lado empreendedorismo não forma uma unidade em torno do conceito de “classe trabalhadora”, por outro ele pode gerar uma unidade que abarque a noção de “consciência social”. Onde o desenvolvimento das atividades produção e comercialização de bens e serviços possam ser estabelecidas de maneira humanizada. Com um resgate dos valores sociais que estão em franca ameaça no contexto atual.

    Essa consciência é necessária não apenas no Brasil, mas em toda a América Latina, que precisa de uma integração e identidade coletiva cada vez mais forte. Sem ela o continente sul-americano corre o risco de ter suas condições sociais ainda mais degradadas, dada a dinâmica geopolítica que se desenhou, especialmente após a Guerra da Ucrânia, que sinaliza uma alteração dos centros de poder econômico mundial do eixo Estados Unidos e Europa, para um eixo que terá certamente a China e outros territórios da Ásia como entes relevantes.

    Em todos os territórios latino-americanos, em especial no Brasil atual, os empreendedores seguem invisíveis perante o Estado. As ações de promoção do empreendedorismo tecnológico inovador, que são chamativas para o público em geral, não representam de fato o tipo de atividade que precisa de proteção. Não é o modelo do Vale do Silício que precisamos replicar em solos tupiniquins, mas um modelo pensado nas necessidades e limitações que são encontradas na realidade econômica brasileira e latino-americana.

     

  • Capitalismo e catador de lixo

    Por: Fernando Eurico L. Arruda Filho

    Como o catador de lixo está inserido no sistema capitalista

    How the garbage collector is inserted in the capitalist system

    Defensor Público do Maranhão

    lopes.arrudafilho@gmail.com

    Resumo

    A lógica do sistema capitalista é a ampliação do valor de troca das mercadorias. Com a priorização da embalagem das mercadorias, em detrimento do efeito prático destas, perfaz-se a lógica esquizofrênica da cadeia incessante da obsoletização dos produtos, os quais possuem cada vez mais uma menor vida útil. O reaproveitamento dos produtos ingressa nessa reprodução ampliada do capital para ter valor de troca, por isso o interesse do capital na reciclagem. No segundo momento do circuito econômico, configura-se a mais-valia do catador de lixo, o qual é inserido na sistemática, como reciclador, em condições aviltantes, ficando à mercê de atravessadores e sucateiros. A lucratividade desse segundo ciclo advém da precarização do catador. Para amenizar essa situação, devem ser instituídas a coleta seletiva e associações e cooperativas de catadores, além de campanhas publicitárias educativas para a coleta a partir dos domicílios e a efetivação da Lei 12.305/10 (Política Nacional de Resíduos Sólidos).

    Palavras-chave: 1. Capitalismo. 2. Obsoletização. 3. Catador.

    Abstract

    The logic of the capitalist system is the expansion of the exchange value of goods. With the prioritization of the packaging of goods, to the detriment of their practical effect, the schizophrenic logic of the incessant chain of obsolescence of products, which have an increasingly shorter useful life, is made. The reuse of products enters this expanded reproduction of capital to have exchange value, hence the interest of capital in recycling. In the second moment of the economic circuit, the added value of the garbage collector is configured, which is inserted in the system, as a recycler, in demeaning conditions, being at the mercy of middlemen and scrap dealers. The profitability of this second cycle comes from the precariousness of the collector. To alleviate this situation, selective collection and associations and cooperatives of collectors should be instituted, in addition to educational advertising campaigns for collection from households and the implementation of Law 12,305/10 (National Policy on Solid Waste).

    Keywords: 1. Capitalism. 2. Obsolete. 3. Waste picker.

    O catador como elemento necessário para um sistema que o expele

    Hoje se prega muito o discurso do meio ambiente sustentável. Uma das principais recomendações da Agenda 21 da ECO 92 foi a reciclagem de resíduos sólidos, com vistas à diminuição dos problemas ambientais, economia de energia e evitar desperdício. A reciclagem é o reaproveitamento do que se desperdiça. É a recuperação das potencialidades de uso do produto através de processos de transformação físico-químicos, tendo o produto, ao final, valor de troca. Assim, o reaproveitamento diminui a degradação ambiental.

    Como a fabricação prioriza a embalagem em detrimento do efeito prático do produto, o descarte de rejeitos na natureza assumiu proporções inimagináveis na nossa sociedade essencialmente consumista. Por isso a importância da reciclagem.

    O catador de lixo é uma simples peça de uma engrenagem bem mais complexa e grandiosa. A lógica esquizofrênica capitalista segue a seguinte ordem quanto ao ciclo dos produtos: 1ª) fabricação; 2ª) consumo; 3ª) rejeito; 4ª) catação; 5ª) reutilização; 6ª) nova fabricação; 7ª) novo consumo; e 8ª) novo rejeito. Ou seja, o circuito econômico é a industrialização, o consumo e o descarte (resíduo sólido), numa cadeia incessante.

    O elemento fundante do sistema capitalista é a obsoletização das mercadorias que significa a diminuição cada vez maior da vida útil dos bens de troca. O ciclo de reprodução capitalista se alimenta do aumento do mercado de troca, surgindo, a partir disso, o mercado cada vez maior dos ferros velhos. Com a taxa decrescente de utilização do valor de uso das mercadorias, acelera-se a produção e o posterior descarte. O capitalismo se autorreproduz por esse motor.

    O capital se preocupa somente com sua reprodução ampliada. Não se importa com o destino das mercadorias e o aproveitamento delas. É uma contradição imanente ao próprio sistema capitalista o qual gera novas necessidades e mercadorias a todo instante. Para o mecanismo capitalista, o produto tem que ser vendável, não necessário ao consumo humano. São despiciendas a utilidade ou mesmo o próprio desperdício. A sistemática ampara-se sempre numa evolução sem quaisquer limites.

    Marcelino Gonçalves bem elucida essa questão:

    Neste sentido a produção capitalista não visa primordialmente a satisfação da necessidade dos produtores diretos, ou de qualquer outro membro da sociedade. O seu fim é garantir o ímpeto de reprodução do capital através do consumo, e esta é a racionalidade, a razão que lhe dá sentido. Daí, pouco interessar a utilidade ou o desperdício das mercadorias por quem as adquire, desde que ela cumpra a sua função no sistema do capital. (GONÇALVES, 2006, p. 105)

    A mercadoria tem que ter valor de troca através de uma transação comercial de modo que a partir disso se evidencia a utilidade da mercadoria pelo seu ato de venda. Para o capital, a mercadoria tem que ser menos usada, pois, assim, será logo descartada e substituída por outra para seguir o ciclo de venda de outras peças. O produto tem que se inserir num tempo cada vez diminuto de sequência de troca.

    O capital não objetiva a satisfação das necessidades humanas, senão não existiriam famintos no mundo. As mercadorias são cada vez mais frágeis e descartáveis. Quanto mais for diminuída a vida útil da mercadoria, mais o capital se amplia. Isso eleva a produtividade, apesar de o consumo se fincar em número concentrado de pessoas.

    Como o consumo é o ápice do processo capitalista, é através dele que o capital se amplia e se reproduz, originando a taxa de utilização decrescente da vida útil das mercadorias cuja expressão é o desperdício, como aponta mais uma vez Marcelino Gonçalves:

    O desperdício é expressão da taxa decrescente de utilização, que abrevia a vida útil das mercadorias e gera uma grande quantidade de resíduos, de coisas que não servem mais para quem as dispensa. No entanto, sabemos que esse objeto, agora sem utilização, não perdeu as suas características físico-químicas, nem sua forma corpórea deixou de ser fruto de trabalho humano socialmente organizado. O que acontece é que ele está no momento de seu descarte, posto fora de um contexto social e econômico que lhe dava sustentação enquanto objeto útil e ingressa em outro contexto socioeconômico e político. (GONÇALVES, 2006, p. 107)

    A racionalidade, portanto, é do desperdício, ocasionando a destruição do meio ambiente. Karl Marx assenta que a produção das mercadorias reproduz o próprio sistema capitalista. E qual o interesse do capital na reciclagem? Por que a reciclagem faz parte de uma outra engrenagem que sustenta uma reprodução ampliada do capital?

    Um dos problemas decorrentes do consumismo é a geração de resíduos sólidos e o reaproveitamento destes é a solução para um meio ambiente saudável e sustentável. Além disso, no que diz respeito ao trabalho, o catador de lixo participa de uma outra dimensão social e econômica em toda essa estrutura do capital. É o circuito econômico da reciclagem, com a compra e venda, transporte, armazenamento e pré-processamento dos produtos mais procurados: papel, plástico e metais, por terem mais poder de troca.

    Para que esse segundo momento econômico exista, o trabalho do catador de lixo é essencial.

    O trabalho de catação, que dá vida a um sistema que o expele, é feito em ruas, lixões, cooperativas e usinas de triagem e compostagem. O catador é a base de uma segunda etapa do circuito econômico do capitalismo, pois reciclam os materiais rejeitados.

    Essa reciclagem é realizada em condições aviltantes, sem vínculo formal e remuneração digna, gerando grande margem de lucro àqueles que se apropriam do trabalho do catador de lixo. A lucratividade diminuiria se ocorresse o fornecimento de chapéus, botas, luvas, óculos e máscaras aos catadores, além da construção de diversos outros aparatos em prol dos catadores.

    Para Marx, a produção no capitalismo dá-se pela mais-valia. Segundo ele, o valor da mercadoria produzida tem que ser maior que a soma dos valores das mercadorias, meios de produção e força de trabalho exigidos para a produção daquela.

    Ou seja, para o capitalismo, uma mercadoria só é considerada um produto do trabalho humano quando ela preencher uma relação de troca. Como não poderia ser diferente, no processo de reciclagem também ocorre a mais-valia, que é a apropriação do trabalho humano. O trabalho do catador de lixo é extremamente vilipendiado, sobrepujando sobremaneira a mais-valia.

    Quanto à mais-valia, Marx pontua:

    Mas a renda pressuposta de toda classe proprietária tem que surgir na produção, e, portanto, ser de antemão uma dedução do lucro ou dos salários […] Para que se aumente o valor do lucro, tem que haver um terceiro cujo valor se reduza. Quando se afirma que o capitalista gasta 30 dos 100 em matéria-prima, 20 em maquinaria, 50 em salário e que logo vende estes 100 por 110, desconsidera-se que, se tivesse desembolsado 60 pelo salário, não haveria obtido lucro algum, salvo que obtivesse mais que os 110, uns 8,2%, etc. Ele troca seu produto por outro cujo valor está determinado pelo tempo de trabalho nele empregado. Vendeu um produto de 20 dias de trabalho, digamos, e obtém um dia por cada dia. O excedente não surge da troca, ainda que tão somente nela se realize. Surge de que deste produto que consome 20 dias de trabalho, o obreiro só obtém o produto de 10, etc., dias de trabalho. Na mesma medida em que cresce a força produtiva do trabalho, decresce o valor do salário. (MARX, 2006, p. 77)

    Assim, a operação quanto aos resíduos recicláveis é o outro circuito econômico com um contexto socioeconômico e político bem diferente do primeiro. E qual a lucratividade de um ciclo econômico que trata de algo que foi descartado? O lucro advém de uma precarização cada vez maior das relações de trabalho nas quais o catador está imerso, o qual fica sempre à mercê de sucateiros e atravessadores.

    Qualquer esforço no sentido de mudar essa lógica para dar ao catador melhores condições de trabalho é meramente paliativo, pois, no contexto em que o capitalismo se encontra, miséria e deterioração ambiental estão se consolidando mais e mais. A recuperação dos resíduos sólidos objetiva somente reinserir um novo produto no mercado de consumo, sem qualquer outra satisfação, como afirma Marcelino Gonçalves: “(…) a recuperação do valor de uso real e efetivo, no caso dos materiais contidos nos resíduos recicláveis, não objetiva prioritariamente a satisfação de uma determinada necessidade social” (GONÇALVES, 2006, p. 117).

    Trabalho e natureza são capturados pelo capitalismo e as consequências disso são degradação ambiental e precarização do trabalho dos catadores. E quais as possíveis soluções?

    Foto de João Paulo Guimarães. Lixão de Pinheiro-MA

    Possíveis soluções

    O poder público municipal tem papel protagonista na amenização desse aviltamento do catador. É obrigação municipal criar centrais de triagem para a comercialização dos resíduos sólidos e inserir os catadores no processo produtivo da reciclagem, conforme a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/10).

    Necessária a efetivação de políticas públicas em favor dos catadores já estabelecidas legalmente. Além das condições seguras e higiênica para o exercício do ofício e a inclusão no mercado formal de trabalho, o catador precisa trabalhar com um produto de qualidade. Tem que haver uma reparação anterior dos produtos orgânicos e inorgânicos a fim de evitar contaminação. Isso significa economicidade.

    O descarte, portanto, tem que ser de qualidade. Numa ponta do ciclo encontra-se o catador o qual deve estar preparado para receber aquele produto. Por isso a importância da constituição de cooperativas e associações de catadores para as quais devem ser destinados os materiais pertinentes. No início do trânsito, o produto já não pode estar contaminado. As cooperativas e associações devem estar equipadas com o maquinário suficiente para o tratamento do produto. O catador deve ter o treinamento necessário para utilizar as máquinas e se inserir nesse circuito produtivo.

    Os produtos descartados são de três espécies: matéria orgânica, rejeito e material reciclável. O trabalho feito em cooperativas e associações de catadores é a triagem, prensagem e estocagem para posterior venda. Para que a recuperação dos resíduos sólidos tenha mais eficácia, é imprescindível uma coleta seletiva cujo fundamento é encaminhar os materiais recicláveis para as cooperativas e associações de catadores, além de não os misturar com os resíduos orgânicos.

    Com a coleta seletiva e o devido tratamento dos materiais, o resíduo chegaria mais limpo para os catadores, os quais disporiam de produtos mais comercializáveis e com melhor preço.

    Tudo isso passa pela construção de aterros sanitários para os quais devem ser destinados os rejeitos (produtos inservíveis). Mas, antes desse escoamento, o produto deve ser encaminhado para usinas de triagem e compostagem, para recuperação dos recicláveis e armazenamento dos resíduos orgânicos, a fim de que o catador tenha um produto passível de ser transformado para ser recolocado no ciclo das trocas de consumo.

    Entretanto, qualquer política que inclua o catador na engrenagem produtiva do capital deve ter como pano de fundo uma campanha de conscientização sobre o programa de coleta seletiva de resíduos sólidos a partir dos domicílios. Para se chegar a um a efetivo descarte seletivo, é imprescindível o envolvimento de toda a sociedade. A consolidação de uma consciência cidadã referente à seletividade dos produtos que irão ao “lixo” é a medida primeira para que todo esse esforço tenha sucesso.

    É imprescindível o dispêndio financeiro com campanhas publicitárias educativas para conscientizar a população sobre a coleta seletiva. Isso não beneficia somente o catador, mas todos, haja vista que se terá uma cidade mais limpa e um meio ambiente menos degradado.

    Na prática, muitos governantes ficam desestimulados com a enorme despesa pública para o funcionamento de centrais de triagem. Por isso a falta de investimento na coleta seletiva, de maneira que a conscientização do cidadão, através de boas campanhas publicitárias educativas, é o caminho mais eficiente e menos oneroso para que toda essa arquitetura tenha sucesso e o produto chegue ao catador com mais qualidade.

    Por outro lado, devem ser implementadas as políticas públicas da Política Nacional de Resíduos Sólidos estabelecidas pela Lei 12.305/10, a qual consagra todos os direitos dos catadores. Apesar da dificuldade estrutural que o sistema capitalista impõe, como já dito, tem que haver a inclusão dos catadores nesse trajeto econômico para que eles alcancem autonomia através de uma associação ou cooperativa, pois não podem viver somente de assistencialismo.

    Com o Novo Marco Regulatório do Saneamento Básico (Lei 14.026/2020), a execução de ações direcionadas à reutilização, reciclagem e valorização dos resíduos sólidos deve ser efetivada com a participação dos catadores, não somente de empresas privadas de reciclagem.

    Enfim, é nesse sentido que se pode dizer que assim se resgatará uma dívida histórica com os catadores e aos quais será dada uma situação menos dramática.

    Referências

    GONÇALVES, Marcelino Andrade. O trabalho no lixo. 2006. Tese (Doutorado em Geografia) – Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, São Paulo, 2006. Pág. 105

    MARX, Karl. Elementos Fundamentales para la Crítica de la Economía Política (Grundrisse) 1857-1858. vol. 3. Madri: Siglo Veintiuno Editores, 13. ed., 2006.

  • Conurbanos*. Aquí y ahora

    Conurbanos*. Aquí y ahora

    Por: Horacio Bouchoux

     

    Conurbanos de ausencia. De romanticismos suburbanos perimidos. El tiempo y las sucesivas expulsiones te cambiaron el paisaje.

    Calles pobladas de piberíos persiguiendo pelotas, devenidos lodazales donde despojos de realidad se apiñan, desangelados hasta para el poeta. Que ya ni él te nombra.

    Conurbanos de presencia. Omnipresencia de lo que falta, de lo que aún no pudimos o no supimos. De lo que se escapa de las palabras bien dichas. Amorosamente dichas.

    Pintorescas esquinas adoquinadas que se hundieron en paisajes fangosos, y que invaden periódicamente un destino que se les niega.

    Sures y oestes que de puntos cardinales de lo bellamente descripto por artistas sensibles, transmutaron en guaridas de aquello que se teme.

    Repertorio de lo indomable, reservorio de lo monstruoso para las almas bienpensantes y, sobre todo, bienvivientes, que ya no pintan suburbios color pastel.

    Herencias de cándidas melenas de novias que, del recuerdo, emergieron como soeces prendas íntimas, expuestas en otros ritmos no asumidos aun como propios.

    Rumores de estación que se desperfumaron en gritos y empujones, en vahos de vagones atestados de frustraciones que cada tanto explotan.

    Repensar profundamente esto. Comprender y amar. Aquí y ahora. Única posibilidad de futuro. Ahí es donde se juegan nuestros mañanas vivibles.

    Desde la canción y las efectividades conducentes. Desde la solidaridad parroquial o el revolucionarismo aggiornado. Desde la simple crónica o la militancia.

    Desde donde sea. No hay futuro pensable ni deseable sin que haya espacio para el lugar de dignidad y de protagonismo que demanda ese suburbio inabordable.

    Despojados de preconceptos atávicos. De nuestras propias anteojeras. Prudentemente lejos de los libros leídos y de los cuentos oídos entre llantos.

    Abrir los caminos para que aquello que se vislumbra imposiblemente heterogéneo, que se imagina amorfo, asuma la condición de Sujeto. Con mayúsculas.

    Sujeto sin otra vanguardia más que la que nazca de sí mismo, de sus propias contradicciones, complejidades, bellezas y miserias.

    Sujeto que no siga caminos pretrazados por los eternos escribas de emancipaciones soñadas en otras geografías y contextos.

    Aquí y ahora. Comprender y amar. No hay ningún pequeño nosotros sostenible sin ese nosotros gigante, que nos abrace a todos.

    Conurbanos. Urgente

    *En Argentina, el conurbano bonaerense se trata del área más densamente poblada, unida a la ciudad de Buenos Aires, está compuesto por 24 partidos independientes de la ciudad Capital. Se conoce también como el Gran Buenos Aires y su crecimiento y desarrollo fue producto del proceso de industrialización del país. De acuerdo a su proximidad con Buenos aires se agrupan estos partidos en varios cordones. La población del conurbano bonaerense está caracterizada por una amplia mayoría de sectores populares.