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Brasil confirma avanço da democracia com prisão definitiva do núcleo da trama golpista de 8 de janeiro
Por: Rodrigo G. M. Silvestre
O dia 25 de novembro de 2025 entrou para a cronologia institucional do país como a data em que o núcleo central da tentativa de golpe de Estado, desnudado pelos ataques de 8 de janeiro de 2023, teve suas condenações tornadas definitivas e passou a cumprir pena em regime fechado. Nesse momento, em que um ex-presidente da República e altos oficiais são recolhidos ao sistema prisional por crimes contra o Estado Democrático de Direito, a democracia brasileira deixa de ser apenas um arranjo normativo para se afirmar como prática que reage, responsabiliza e cobra consequências de quem a tentou subverter.agenciabrasil.ebc+3
Ao longo de décadas, o país conviveu com a memória incômoda de quartéis que se sobrepunham às urnas e de atos institucionais que calavam vozes, interditavam biografias e exilavam dissensos. A ideia de que militares, políticos e agentes públicos formavam um círculo imune à responsabilização por atentados contra a ordem constitucional era, para muitos, um dado quase naturalizado da história nacional. Ver esse mesmo Estado aplicar a lei penal ao seu mais alto comando político e a generais envolvidos na conspiração golpista rompe um ciclo de impunidade que atravessou gerações e reescreve o lugar das Forças Armadas e do poder civil no imaginário coletivo.mpf+2
Não houve epifania, tampouco gesto isolado: o trânsito em julgado é o ponto de chegada de uma investigação extensa, de provas reunidas em camadas, de delações, perícias, mensagens, reuniões, minutas e atos que mostraram que o 8 de janeiro não foi desvario espontâneo de uma multidão, mas o capítulo final de um projeto de ruptura desenhado com método. O julgamento do chamado “núcleo crucial” expôs, peça por peça, essa engrenagem que buscou desacreditar o sistema eleitoral, capturar segmentos das Forças Armadas e criar o ambiente propício para um decreto de exceção que desse verniz jurídico a um golpe clássico. Quando as últimas possibilidades recursais se esgotam e a decisão se torna definitiva, não é apenas um processo que se encerra; é uma narrativa de negação da derrota eleitoral que encontra seu limite na Constituição e na jurisdição de um tribunal que, sob críticas e pressões, escolheu afirmar a autoridade do voto.gazetadopovo+3
Nesse 25 de novembro, o embarque silencioso de viaturas rumo a presídios federais, quartéis adaptados ou unidades específicas, com cada condenado encaminhado ao destino definido na execução penal, compõe uma cena discreta, quase burocrática, mas carregada de significado. Em vez de tanques nas ruas, circulam mandados de prisão; em vez de pronunciamentos em cadeia nacional rompendo a legalidade, despachos judiciais determinam que sentenças sejam cumpridas. Nas reações divididas entre celebração, indignação e temor, aparece uma democracia que não se pretende vingativa, mas que não aceita mais tratar atentados contra suas bases como simples divergências políticas.cnnbrasil+5
Para além das fronteiras, o caso brasileiro passa a integrar o repertório de exemplos de como regimes constitucionais podem responder a aventuras autoritárias usando as próprias ferramentas do Estado de Direito: investigação, defesa, contraditório, julgamento público e responsabilização efetiva. Em um mundo em que a erosão democrática costuma avançar por dentro das instituições, o encarceramento definitivo de líderes civis e militares por crimes contra a democracia, após um processo longo e escrutinado, transforma o país que conviveu com golpes e anistias em laboratório de um outro tipo de lição: a de que a clemência institucional não pode ser confundida com esquecimento e que o perdão político, quando indiscriminado, cobra sempre sua conta futura. Nesse 25 de novembro de 2025, o Brasil mostra que a história não se apaga, mas pode, enfim, ser invertida de sentido.tvtnews+2
- https://agenciabrasil.ebc.com.br/justica/noticia/2025-11/stf-determina-execucao-das-penas-de-bolsonaro-e-mais-reus-do-nucleo-1
- https://www.gazetadopovo.com.br/republica/moraes-determina-conclusao-julgamento-bolsonaro-abre-caminhoara-execucao-pena/
- https://www.cnnbrasil.com.br/politica/saiba-onde-ficam-os-locais-de-prisao-de-bolsonaro-e-dos-demais-condenados/
- https://www.bbc.com/portuguese/articles/cz0nme79gzzo
- https://apublica.org/nota/stf-decide-fim-do-processo-que-condena-jair-bolsonaro/
- https://www.mpf.mp.br/pgr/noticias-pgr2/2025/atos-antidemocraticos-stf-condena-todos-os-oito-reus-do-nucleo-principal-da-trama-golpista
- https://www.andes.org.br/conteudos/noticia/jair-bolsonaro-e-preso-em-brasilia-dF-sTF-mantem-prisao-preventiva-nesta-segunda-241
- https://paraibaonline.com.br/brasil/2025/11/25/trama-golpista-veja-as-penas-de-cada-condenado/
- https://tvtnews.com.br/1-vez-militares-presos-por-crimes-contra-democracia/
- https://g1.globo.com/politica/noticia/2025/11/25/trama-golpista-entenda-como-o-papel-do-placar-da-condenacao-de-bolsonaro-e-seis-reus-influencia-a-chance-de-embargos-infringentes.ghtml
- https://www.migalhas.com.br/quentes/445110/moraes-determina-prisao-dos-generais-augusto-heleno-e-paulo-sergio
- https://www.brasildefato.com.br/2025/11/25/stf-declara-fim-da-acao-da-trama-golpista-e-bolsonaro-ja-pode-cumprir-pena-definitiva/
- https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2025/11/7300384-nas-entrelinhas-bolsonaro-e-generais-presos-em-regime-fechado-e-um-novo-paradigma.html
- https://g1.globo.com/google/amp/politica/noticia/2025/11/25/trama-golpista-veja-o-que-disseram-as-defesas-dos-reus-apos-moraes-ordenar-o-inicio-do-cumprimento-de-penas.ghtml
- https://agenciabrasil.ebc.com.br/justica/noticia/2025-08/saiba-o-que-dizem-reus-da-trama-golpista-em-alegacoes-finais-ao-stf
- https://www.cnnbrasil.com.br/politica/trama-golpista-em-tres-pontos-relembre-o-que-baseia-acao-penal/
- https://www.global.org.br/blog/quando-golpistas-sao-responsabilizados-a-democracia-brasileira-ganha/
- https://www.facebook.com/UOLNoticias/posts/onde-cada-condenado-do-n%C3%BAcleo-1-da-trama-golpista-vai-cumprir-pena/1263971869092025/
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Crise e contranarrativa: como a pauta do aborto eclipsou o alívio no IR e expôs o jogo político de 2026
Por: Rodrigo G. M. Silvestre
A derrubada, pela Câmara dos Deputados, da resolução do CONAMA que garantia o aborto legal em casos de violência sexual colocou o País diante de uma comoção política e social. O movimento, impulsionado pela bancada ligada ao PL e pela ala mais conservadora do Congresso, revogou uma norma que regulamentava o que o próprio Código Penal já previa desde 1940. O resultado foi imediato: a reação massiva nas redes sociais e na imprensa — especialmente em veículos progressistas — transformou o tema em um dos maiores focos de repercussão negativa do ano.
O detalhe é que o episódio coincidiu com o anúncio, pelo Governo Federal, da ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até 5 mil reais. Uma medida profundamente popular, responsável por aliviar a carga de milhões de trabalhadores, acabou quase esquecida no noticiário. A agenda positiva, cuidadosamente planejada pelo Planalto, foi engolida pela indignação gerada pela pauta moral.
Esse tipo de sobreposição não é inédito. Durante o governo Lula, por exemplo, a aprovação da nova política de valorização do salário mínimo, que garantia aumentos reais acima da inflação, ocorreu na mesma semana em que a oposição levantou o polêmico debate sobre o marco temporal das terras indígenas — um embate jurídico e ideológico que rapidamente dominou os noticiários. Em outra ocasião, a sanção do programa “Desenrola Brasil”, voltado à renegociação de dívidas de famílias de baixa renda, coincidiu com a apresentação de propostas da direita para flexibilizar o Estatuto do Desarmamento, gerando ruído e deslocando o foco público da conquista econômica para a pauta da segurança.
Os paralelos revelam um padrão político: a disputa pelo controle do discurso público. Enquanto o governo tenta consolidar suas vitórias econômicas e sociais, a oposição opera em torno de temas morais, identitários ou polêmicos o suficiente para monopolizar a atenção da opinião pública e deslocar o debate. Essa guerra de narrativas, ancorada em estratégias de agenda e contra-agenda, deve se intensificar à medida que o País se aproxima das eleições presidenciais de 2026 — quando o domínio do discurso poderá valer tanto quanto o resultado nas urnas.
Mas essa dinâmica não é exclusividade da direita. Nos últimos anos, momentos de fortalecimento de setores conservadores também foram sufocados por mobilizações eficazes da esquerda, que conseguiu transformar pautas populares da oposição em crises ou debates morais ampliados. O jogo da comunicação é bidirecional — e cada campo político aprendeu a operar sobre o território emocional do outro.
Um dos exemplos mais marcantes foi a tentativa de avanço do projeto de redução de impostos sobre combustíveis, capitaneado pelo então bloco liberal do Congresso. A proposta prometia um efeito direto no preço ao consumidor em pleno período de alta inflacionária, mas acabou perdendo espaço na mídia após o surgimento das denúncias sobre o uso irregular de emendas do relator. A narrativa sobre o “orçamento secreto” dominou a cobertura por semanas, transformando o que seria uma vitória política em mais um episódio de desgaste ético para o campo aliado ao PL.
Outro caso foi a votação da PEC que visava restringir decisões monocráticas do Supremo Tribunal Federal, proposta inicialmente vista como uma resposta institucional legítima por boa parte do eleitorado de direita. O debate, porém, foi rapidamente deslocado após uma articulação de influenciadores progressistas associar o projeto a um suposto “ataque à democracia”. A retórica ganhou corpo nas redes, impulsionada por celebridades e militantes, até que a discussão sobre os méritos técnicos da proposta praticamente desapareceu do radar público.
Mais recentemente, um movimento semelhante ocorreu durante o lançamento da proposta de reforma administrativa defendida por alas conservadoras. Apesentada como uma tentativa de modernizar o serviço público e ampliar a eficiência do Estado, a pauta acabou soterrada por uma sequência de protestos impulsionados por sindicatos e movimentos sociais, que emplacaram o discurso de que a medida “destruiria direitos” e serviria de “pretexto para privatizações”. O efeito político foi imediato: o governo recuou na tramitação e o debate racional sobre o tema foi substituído por slogans e polarização.
Esses episódios, somados aos anteriores, reforçam que a disputa central da política brasileira não se dá apenas em votos, mas na capacidade de dominar o ciclo narrativo. Em um país em que a arena digital dita as emoções do dia, quem pauta o debate público — seja enaltecendo conquistas ou transformando vitórias alheias em crises — molda também a percepção de poder. É nesse tabuleiro que se desenha o embate de 2026: não apenas entre projetos de governo, mas entre as máquinas de discurso que definem o que o país pensa e sente a cada semana.
Os três principais elementos da guerra de narrativas que tendem a impulsionar a eleição de 2026 no Brasil são: polarização, construção de versões concorrentes dos fatos e a disputa pelo canal dominante de comunicação.
1. Polarização radical
A polarização política e ideológica tornou-se a força motriz das narrativas contemporâneas. Ela transforma adversários em antagonistas, levando a debates marcados por embates calorosos e dificuldades em promover diálogo genuíno. O ambiente social, em vez de divergências pontuais, passa a ser dividido em campos opostos, com posições incompatíveis e antagônicas, tornando qualquer solução para os conflitos uma tarefa complexa.
2. Competição por versões dos fatos
A guerra narrativa é, acima de tudo, uma disputa pela imposição de versões sobre os acontecimentos reais. Cada lado busca não apenas dar sentido aos fatos, mas reformular episódios de acordo com seus valores e interesses, tornando sua “verdade” dominante perante corações e mentes. As campanhas, partidos e militâncias tentam capitalizar sobre interpretações específicas, ofuscando logros do adversário ao mesmo tempo em que promovem as suas próprias perspectivas.
3. Controle dos meios de comunicação
O terceiro elemento é a luta pelo domínio dos canais comunicacionais capazes de repercutir e amplificar narrativas. Esse controle abrange tanto as relações públicas tradicionais quanto as redes sociais e mídias digitais, onde o uso de fake news, pós-verdades e teorias da conspiração se tornou comum. Quem pauta a agenda social, define o ciclo noticioso e mantém uma militância engajada, conquista terreno na disputa real pelo imaginário coletivo e pela definição dos grandes temas da eleição.
Esses três elementos — polarização, disputa de versões dos fatos e domínio dos canais de comunicação — são os instrumentos centrais da guerra narrativa, e devem ser utilizados intensamente por todas as forças políticas em 2026, influenciando não apenas resultados eleitorais mas também a memória pública sobre cada acontecimento.
https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/francisco-razzo/guerra-de-narrativas/
https://fundacaoastrojildo.org.br/revista-online-cenario-eleitoral-e-guerras-de-narrativas/
https://ojs.ufgd.edu.br/arredia/article/view/17916
https://bjr.sbpjor.org.br/bjr/article/viewFile/251/250
https://revistaz.letras.ufrj.br/narrativas-conflagradas-e-a-polarizacao-politica-contemporanea/
