Autor: Editor

  • No bang-bang do Brasil, os eleitores decidirão se o país virará Guantánamo ou virará um berço de esperança pra América Latina, tudo em 14 dias.

    Por: Felipe Mongruel

    Há 6 anos mergulhados num golpe civil que destituiu a legítima presidenta Dilma Rousseaf, o Brasil enfrenta uma avalanche arreganhada de corrupção, empobrecimento das classes mais baixas, desemprego e um morticínio de quase 700.000 vidas perdidas pelo negacionismo da vacina, pelo incentivo ao uso de Cloroquina e demais remédios cientificamente provados como não eficazes, tudo isso capitaneado pelo maior impostor que já pisou nesta terra, Jair Bolsonaro.

    Porém, para contar essa história é necessário fazer uma rápida volta ao passado do país:

    Tudo tem início na Ação Penal 470, conhecida popularmente como Mensalão, um amplo processo de perseguição jurídica ao Partido dos Trabalhadores, ainda em 2005, na primeira gestão do presidente Luís Inácio Lula da Silva, que levou pra cadeia os mais próximos dirigentes do partido e os mais próximos ao presidente. O argumento utilizado foi de que o Partido dos Trabalhadores comprava votos no Congresso Nacional, de deputados federais, para aprovarem projetos de lei oriundos do Poder Executivo.

    Nunca nada foi provado, apenas sugerido, que certas instituições como o Banco do Brasil ou Caixa Econômica Federal, dois bancos públicos desviavam dinheiro da sua parte de marketing para a compra de determinados Deputados.

    O primeiro laboratório de Lawfare(perseguição jurídica para assassinato de reputações) retirou da possibilidade sucessória do partido dos Trabalhadores, o maior cérebro na luta contra a Ditadura, desde a década de 60, o mineiro Jose Dirceu, então presidente da Casa Civil do Brasil, o segundo posto mais alto do comando executivo, atrás apenas do presidente.

    O Julgamento de tais ações acontece só em 2012, já na metade final do primeiro mandato de Dilma. Lula tinha saído do governo em dezembro de 2009, dando lugar a sua sucessora Dilma Rousseaf com 87% de aprovação da população, pelos incontáveis feitos à pratica Social, criando 18 universidades Federais, levando de mais de 3.000 estudantes universitários para mais de 8.000, realizando o sonho de milhões de empregadas domésticas e pedreiros que pela primeira vez na vida de suas famílias formavam um filho médico, engenheiro ou advogado; fazendo a transposição do Rio São Fransisco levando água para milhões de brasileiros do Nordeste brasileiro que há décadas viviam com a seca e com a escassez; fazendo o maior e mais amplo projeto de casas populares; levando luz para todos; levando dente na boca dos banguelas, sonho no coração dos pobres e trabalho nas mãos das famílias.

    Ainda em 2013, mais precisamente em junho, começaram manifestações de rua na cidade de São Paulo, chamado “não é só por 0,20 centavos” relativos o aumento das passagens de ônibus na capital paulista. Foi o primeiro grande ato de interferência da Direita, que nunca ganhou as ruas, dentro de pautas esquerdistas, financiando partidos e “atores” um tanto neutros, de possibilitar pautas confusas que levaram milhões de brasileiros às ruas, pra exigir o que ninguém sabia ao certo. Foram atos preparados pra ir minando a tentativa de sucessão de Dilma Rousseaf.

    Em 2014 então, a guerra dos meios de comunicação foram pra incentivar a população a reivindicar problemas sociais num “modelo FIFA” relativo aos estádios que estavam sendo construídos pra Copa do Mundo, mesmo assim, numa eleição apertadíssima Dilma vence seu adversário Aécio Neves, ex-governador do Estado de Minas, por pouquíssima vantagem.

    Ato contínuo sua posse em segundo mandato, o perdedor das eleições, alega fraude na Urnas. Dali pra frente, o Brasil mergulhou num Esgoto de uma Frente Ampla. Só que frente ampla feita pela Direita, de sinal trocado, de classe média concursada em Funcionalismo Público de altos salários mas que detesta pobre e ama ser lacaia da Classe Dominante. Grandes Corporações de Classes, as Forças Armadas e principalmente, o grande incentivador e fomentador disso tudo: As Igrejas Neo-Penteconstais.

    Em 2014, começa no Brasil, uma Operação feita pelo Ministério Público Federal, chamada Operação Lavajato, com o apoio interminável dos grandes veículos nacionais de comunicação, a operação baseada na operação jurídico-politica italiana “Mani Pulitti”, tem seus protagonistas Sergio Moro, ex-juiz da Vara que concentrava todos os processos relativos a supostos desvios da Petrobrás, a maior empresa brasileira, com maioridade acionária do Estado, para levar à cadeia dezenas de pessoas, tudo com mais alto requinte de processos de exceção, sem garantias de Defesa e rasgando a Constituição Federal e do lado parceiro Deltan Dallagnol, o procurador chefe da Operação que trabalhava junto com o juiz da causa.( www.museudalavajato.com.br ) Tudo isso fica revelado pela Vaza-Jato, série de reportagens da Intercept Brasil. (https://theintercept.com/series/mensagens-lava-jato/)

    O LAwfare atinge seu Estado máximo, através de Delações Premiadas, das quais só eram válidas as que citassem o Presidente Lula, de vazamentos ilegais de informações, de grampos e espionagem em escritórios de advocacia e de arroubos de Classe Média invadindo as ruas com a camisa da seleção brasileira, gritando “ Chega de Corrupção” o Brasil afunda-se num oceano degradante de mentiras, falácias e um ufanismo patético e canalha que vem a gerar a semente do grande ódio.

    Na eleição de 2018, com Dilma Rousseaf retirada do cargo de presidente da República num óbvio golpe das elites, num grande acordo nacional entre a classe dominante e depois de uma prisão completamente ilegal e criminosa que deixou preso por 580 dias, ou 1 ano e 7 meses, o maior brasileiro vivo e que caminha para ser o maior brasileiro da história: Luís Inácio Lula da Silva, o Brasil enverga sua espinha pra Ultra-Direita e nasce o mostro Bolsonaro.

    Obedecendo a cartilha trumpista e de seu criador Steve Bannon, uma disseminação em massa de desinformação assola o país. As famosas Fake-News ganham a casa das famílias brasileiras e  a Democracia no Brasil vira uma disputa entre aqueles que ainda acreditam numa Democracia Progressista e uma seita cega e odienta.

    Depois de solto da prisão, Luís Inácio Lula da Silva reconquista seus direitos políticos numa decisão da Suprema Corte Brasileira que declara o ex-juiz Sergio Moro que aliás ( largou a carreira de 22 anos como magistrado pra servir ao Governo Bolsonaro, aquele que ele mesmo ajudou a existir e ocupou o cargo de ministro de justiça) suspeito e incompetente em todos seus processos.

    Lula volta ao tabuleiro de xadrez e em grandes costuras políticas, vai trazendo seus históricos adversários de centro-direita pra seu bojo. Avança na candidatura do seu nome e vai ganhando aliados Brasil à fora. Enquanto isso, o Governo Federal, metralhado por denúncias e escândalos de toda natureza vai implementando um clima de guerra, principalmente na liberação total de compra de armas pela população, envolvendo o crime organizado e a policias.

    O Brasil virou um grande filme de faroeste, onde o maior partido de Esquerda da América Latina atravessou o rio mais caudaloso de inverdades e ataques e agora está chegando do outro lado limpo e com 6 milhões de votos de vantagem no primeiro turno das eleições pra grande disputa de 30 de outubro. Onde será decidido que país queremos, o da escuridão das salas de tortura, ou da claridade das portas da esperança. A luta de classes entre ricos e pobres nunca foi tão nítida. 33 milhões de brasileiros estão no estado de miséria e passam fome, enquanto 126 milhões tem problemas de insegurança alimentar. Só os batalhadores brasileiros vencerão esses anos de chumbo. Com raça e coragem nas ruas, esperança na cabeça, Lula no coração e 13, o número do PT, nas urnas.

    Que venham os dias de glória, antes que o Brasil acabe numa Guantánamo de proporções gigantescas.

     

  • A revolução da saúde como promotora do fim da “guerra contra as drogas”?

    Por: Rodrigo G. M. Silvestre

    Fonte da Imagem: https://ideiasradicais.com.br/a-historia-mostra-que-a-guerra-as-drogas-falhou/

    O Presidente Joe Biden anunciou, no dia 06 de Outubro de 2020, um perdão a todas as pessoas que estejam privadas de liberdade e processadas por simples porte de maconha na esfera federal. Essa é uma aparente conquista do campo progressista, com um passo na direção a descriminalização federal da substância.

    Os Estados Unidos tem diversos estados que já legislaram sobre o uso recreativo e de saúde dos produtos derivados de Cannabis sp., mas a legislação federal ainda guarda um regramento bastante rigoroso com relação a esses produtos. Classificam ainda como substância Classe 1, como a heroína, que não tem utilidade terapêutica e usos em saúde. Esse foi um dos pontos solicitados na fala do Presidente Biden, que os órgãos de regulação reavaliem a classificação dos produtos de Cannabis sp. para reconhecer sua utilização na indústria de saúde.

    Para os latino-americanos, o que significa essa manifestação progressista do Presidente do EUA? Porque do ponto de vista prático a medida atingiu cerca de 6.500 pessoas que se enquadram na proposta de perdão, bem como nenhuma pessoa que efetivamente está privada de liberdade no país e será atingida pelo perdão presidencial.

    Essa é então uma ação mais de sinalização que de efeito real. A guerra às drogas, que a décadas é a política determinante nos Estados Unidos, tem profunda reflexão nos países latino-americanos. A imposição do combate a indústria de drogas, nos Estados Unidos, não era proporcionalmente severa para habitantes do território dos EUA como é para os habitantes dos territórios produtores de drogas, como Colômbia e Bolívia. Será então que o posicionamento do presidente americano é uma sinalização para o arrefecimento dessa política?

    O que ocorre mais recentemente é que a indústria de saúde tem trabalhado fortemente com a introdução de produtos à base de Cannabis sp. e isso tem levado a um questionamento sobre a utilidade da manutenção da atual regulação. Os empreendimentos baseados em produtos de Cannabis sp. por exemplo, tem sérios problemas para utilizar o sistema financeiro federal no EUA, pois a legislação entende que os lucros obtidos nessa atividade precisam ser enquadrados dentro da lei antidrogas.

    Pode-se então concluir que a motivação para a atual postura seja mais para sensibilizar os eleitores jovens com relação aos candidatos democratas nas eleições legislativas que se aproximam nos EUA. Somada a uma motivação tipicamente americana, que é promoção e facilitação da atividade empresarial, especialmente com capacidade para dominar mercados externos a partir do posicionamento do governo federal americano. Bem menos, portanto, pela sinalização de uma postura menos controladora dos EUA em relação aos países latino-americanos.

    O Brasil tem também flertado com a essa mudança progressista induzida pela indústria de saúde. O tamanho da população a ser atendida por esse tipo de produtos tem criado crescente interesse na regulamentação da atividade no país e também pela aquisição centralizada pelo SUS.

    Especialmente duas Resoluções da Diretoria Colegiada (RDC) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) regulamentam atualmente a utilização dos produtos derivados de Cannabis sp. no país (RDC Anvisa n.º 327/2019 resolução e RDC nº 335, de 24 de janeiro de 2020). Também existem nas casas legislativas projetos como o PL 399/2015 na Câmara do Deputados e o PL 4776/2019 no Senado Federal. Todas essas regulamentações tem em comum o atendimento aos interesses crescentes da indústria de saúde na oferta desse tipo de produto.

    Todas essas evoluções no campo da saúde têm colocado em xeque o enquadramento dos produtos derivados de Cannabis sp. com não tendo utilidade terapêutica, portanto, minando fortemente os argumentos apresentados ao longo de anos sobre o “terrível efeito” do consumo de substâncias como CBD e THC.

    Em paralelo a essa evolução na área de saúde, o Brasil realizou alterações progressistas em sua legislação. Por exemplo, é possível relembrar que o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que a autoridade policial pode lavrar Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) e requisitar exames e perícias em caso de flagrante de uso ou posse de entorpecentes para consumo próprio. Ou seja, que na presença de pequena quantidade de drogas, o usuário, ao ser levado a delegacia pode receber a opção pelo TCO ao invés de ser processado criminalmente.

    Esse é um ponto fundamental, pois a discricionariedade do ato de opção pelo TCO é fortemente influenciada pelos preconceitos e estereótipos sociais. Sendo necessário dizer que a população periférica, preta, parda e pobre é objetivamente mais penalizada por escolhas da autoridade policial. Esse mesmo viés é reconhecido na declaração do Presidente Biden, pois afeta de maneira semelhante a população norte americana.

    O Brasil também observa ansiosamente os desfechos do julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que tentou pela última vez retomar, em 06 de novembro de 2019, a análise do Recurso Extraordinário nº 635.659, que propõe a descriminalização do artigo 28 da Lei nº 11.343/2006. Com três ministros já tendo realizado seu voto, especialmente o relator, que recomenda a substituição das medidas privativas de liberdade para sanções na esfera administrativa. Muito ainda falta para a conclusão do processo e também para saber como as medidas efetivamente irão impactar as pessoas no país.

    Cada vez mais a sociedade caminha para tratar as questões das drogas como problemas de saúde pública e não de segurança pública. Isso terá impactos relevantes na forma como lidamos com o encarceramento no país, em especial dos contingentes que são colocados à margem do sistema capitalista hegemônico. Mas a velocidade como que as medidas chegam efetivamente a impactar a vida das pessoas latino-americanas, parecem ainda aquém de qualquer nível satisfatório. Não é plausível que o interesse público tenha que ser sempre rebocado pela livre iniciativa para romper as barreiras de pensamentos, regulações e legislações.

  • VIAJE

    POR: Nilson Monteiro

    (crônica a Neruda)

     

    Onde andas, poeta, como fantasma

    grunhindo as tábuas do convés?

     

    Onde passeias, leve, pipa entre as cores

    dos varais e das casas penduradas nas escarpas?

     

    Onde choras, líquido, em meio

    às ondas largas e geladas do Pacífico?

     

    Onde, plantas, mágico, teu coração

    nas pedras, gelatinas de ostras endurecidas?

     

    Onde, esfarinhas, versejador, tua alma

    em estrelas, uvas bêbadas, cafés franceses?

     

    Onde, fincas, amante, as âncoras

    na vida, feira livre, de teu povo?

     

    Onde, espalhas, boiadeiro, as crinas

    de teus cavalos, relinchos selvagens?

     

    Onde, anjo, sem alas, sem religião,

    feito de renda branca da cordilheira,

    tateias a pele desses muros?

     

     

    Aqui, poeta,

    aqui entre livros, mapas, bússolas, bananeiras

    cerâmicas

    e escadas,

    as pessoas te chamam neste inferno de paixões

    de anjo

     

     

    Nesta cidade feita de ruelas,

    peles, ondas, vinho, fumaça,

    bodegas, teias, dores,

    empanadas, penhascos que arranham o céu,

    choclo e palta nos beiços dos pratos,

    pisco e pinga nos copos,

    funiculares ensandecidos

     

    Descubro, num átimo, que amo

    o atômico explodir da vida,

    pedaços de gente esparramados

    ao pé do cerro

    sortidos em meio ao sebo do porto,

    sentimentos espalhados sem cercas

     

    Descubro que amo

    cada arrulho de seus colegiais,

    meias de lã, gravatas inglesas

    achadas no passado,

    maritacas de azul

    gritando alegrias e mirando futuros

    nas rachaduras da arquitetura

     

    Descubro que amo

    cada lágrima que desce

    nas fendas molhadas da montanha,

    vidro, cristal safira que fura os olhos

    para embrulhar-se nos lençóis do Pacífico

     

    Descubro que amo

    cada suspiro de teu ar,

    o cheiro pastoso de teu mercado,

    cada célula de teus mariscos,

    cada ensaio de vôo

    de teus copos suados

     

    Descubro que amo

    cada farelo de tuas pedras

    cada dor de seu paraíso

    cada ritmo de teus versos

    cada sentimento de entranhas,

    das putas e das guitarras,

    de ventanas, de pinturas

    em paredes sem casca

     

    Onde, poeta, é permitido sonhar

    com este prelúdio salgado

    desta sinfonia doce que

    deram o nome de Neruda?

     

    Aqui,

    neste chão agarrado em Valparaíso,

    madeira de porão do mar

    tua casa de degraus

    de mastros eriçados,

    La Sebastiana.

     

    Nilson Monteiro é jornalista, poeta e escritor. Fundador e Membro Honorário da Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina e ocupa a cadeira 28 da Academia Paranaense de Letras.

  • VIAGEM

    POR: Nilson Monteiro

    (crônica a Neruda)

     

    Onde andas, poeta, como fantasma

    grunhindo as tábuas do convés?

     

    Onde passeias, leve, pipa entre as cores

    dos varais e das casas penduradas nas escarpas?

     

    Onde choras, líquido, em meio

    às ondas largas e geladas do Pacífico?

     

    Onde, plantas, mágico, teu coração

    nas pedras, gelatinas de ostras endurecidas?

     

    Onde, esfarinhas, versejador, tua alma

    em estrelas, uvas bêbadas, cafés franceses?

     

    Onde, fincas, amante, as âncoras

    na vida, feira livre, de teu povo?

     

    Onde, espalhas, boiadeiro, as crinas

    de teus cavalos, relinchos selvagens?

     

    Onde, anjo, sem alas, sem religião,

    feito de renda branca da cordilheira,

    tateias a pele desses muros?

     

     

    Aqui, poeta,

    aqui entre livros, mapas, bússolas, bananeiras

    cerâmicas

    e escadas,

    as pessoas te chamam neste inferno de paixões

    de anjo

     

     

    Nesta cidade feita de ruelas,

    peles, ondas, vinho, fumaça,

    bodegas, teias, dores,

    empanadas, penhascos que arranham o céu,

    choclo e palta nos beiços dos pratos,

    pisco e pinga nos copos,

    funiculares ensandecidos

     

    Descubro, num átimo, que amo

    o atômico explodir da vida,

    pedaços de gente esparramados

    ao pé do cerro

    sortidos em meio ao sebo do porto,

    sentimentos espalhados sem cercas

     

    Descubro que amo

    cada arrulho de seus colegiais,

    meias de lã, gravatas inglesas

    achadas no passado,

    maritacas de azul

    gritando alegrias e mirando futuros

    nas rachaduras da arquitetura

     

    Descubro que amo

    cada lágrima que desce

    nas fendas molhadas da montanha,

    vidro, cristal safira que fura os olhos

    para embrulhar-se nos lençóis do Pacífico

     

    Descubro que amo

    cada suspiro de teu ar,

    o cheiro pastoso de teu mercado,

    cada célula de teus mariscos,

    cada ensaio de vôo

    de teus copos suados

     

    Descubro que amo

    cada farelo de tuas pedras

    cada dor de seu paraíso

    cada ritmo de teus versos

    cada sentimento de entranhas,

    das putas e das guitarras,

    de ventanas, de pinturas

    em paredes sem casca

     

    Onde, poeta, é permitido sonhar

    com este prelúdio salgado

    desta sinfonia doce que

    deram o nome de Neruda?

     

    Aqui,

    neste chão agarrado em Valparaíso,

    madeira de porão do mar

    tua casa de degraus

    de mastros eriçados,

    La Sebastiana.

     

    Nilson Monteiro é jornalista, poeta e escritor. Fundador e Membro Honorário da Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina e ocupa a cadeira 28 da Academia Paranaense de Letras.

     

     

     

  • Hoje dobrei as tuas roupas pela última vez.

    Por: Ana Flávia Bassetti

    O despertador tocou, como sempre, às oito. Quarta-feira. Ontem, tinha prometido a mim mesma que no dia seguinte iria para a aula de funcional das nove. Estava tudo programado: despertador, me permitir uma soneca de cinco minutos, olhar para a Madá, dar bom dia, me aninhar um pouquinho com ela e, então, levantar, tomar uma proteína, levá-la para o xixi já com as roupas da academia que ficaram sobre a cama ontem porque foi dia de musculação e não suei muito, voltar, escrever pelo menos dois dos quatro textos que tenho que entregar até sexta, ao cair do sol sair com a Madá de novo, voltar, tomar duas taças de vinho e me permitir, agora sim, chorar enquanto repasso todos os motivos pelos quais eu devo ir embora da sua vida, criar coragem, te mandar uma mensagem para combinar de conversar e enfim resolver as coisas e poder começar meu luto com dia marcado para terminar. Voltar a viver sem você.

    O despertador tocou e os cinco minutos de soneca permitidos se transformaram em três horas. O sono dissolve a dor pontiaguda que eu sinto quando penso no que tenho que fazer e torna-se dilacerante quando penso nos motivos pelos quais eu ainda procuro motivos para não fazê-lo. Agora acordei e ela voltou. A Madalena não está. É estranho, pois ela tem se tornado cada vez mais dorminhoca nas manhãs, quase nunca se levanta antes de mim. Agora lembro que, no despertar de algumas sonecas de cinco em cinco minutos que aconteceram por três horas, tinha quase que intuído uma agitação pela casa, sem forças para procurar saber o que acontecia. Levanto, o pijama de inverno e as meias estão no chão, como de praxe quando faz frio e eu preciso colocar pijamas em camadas para me esquentar no início da noite e ir arrancando suas partes durante a madrugada. Talvez os alívios em fases sejam melhores do que aqueles que vêm de uma vez. Mas as dores, também?

    Em Curitiba faz muito frio desde sexta, desde que eu falei com você pela última vez. Parece que o clima fez questão de forjar o cenário ideal para eu chafurdar de modo teatral na minha dor. Coloco o roupão, abro as cortinas, sinto vergonha de estar levantando só agora. Vou para sala. Vou fazer um café e vai dar tudo certo, produzo até mais tarde e ainda dá tempo do vinho, ainda dá tempo de chorar. Olho para a Madalena no sofá. Ela me olha com aqueles olhinhos de quem fez uma coisa que não queria fazer, mas teve que fazer. Eu a entendo. Penso que é mais fácil para ela do que para mim fazer uma coisa que não quer fazer, mas precisa fazer. Olho para o tapete da sala. Um persa bem colorido, comprado em uma promoção porque tinha pequenos defeitos. Eu gosto dos defeitos dele, os defeitos doam um ar de  originalidade para as coisas. Para as pessoas também, e eu acredito muito que é nos defeitos que acontece o encontro. Mas e quando os defeitos do outro puxam os nossos para fora? O tapete também tinha a função, quando comprei, de dar um ar meio cabaré à sala. Talvez ele nem faça mais sentido, por causa do que eu me permiti sonhar com você. Sou bem mais de um domingo de jardim, amigos e crianças do que do cabaré, hoje. Quero ser.

    Entre as cores bem vivas do tapete, um cocô dividido em duas fases: uma porção grande de merda dura, normal, dessas que as mães se orgulham quando veem, imagino, não só porque sugerem um funcionamento saudável do intestino, mas porque dão bem menos trabalho para limpar; junto dela uma outra porção mais líquida, de cor amarelada, para nada como uma merda saudável. Imediatamente: “ela sabe que alguma coisa está acontecendo”. Foi você quem me disse que o intestino era mais coração que o próprio coração? Me dói pensar que a tenho negligenciado esses dias, tenho estado impaciente. Mas também, o clima desde sexta não tem ajudado.

    Na primeira vez que você veio à minha casa foi um festival de diarreia da Madá como nunca tinha acontecido, e os cocôs de aspecto não saudável duraram por, pelo menos, um mês. Eu sempre soube que era emocional e você, a princípio, disse que era paranoia minha, mas depois concordou.

    Ela sabe que alguma coisa está acontecendo. Os bichinhos sentem. Talvez ela só sinta insegurança por notar uma atmosfera diferente e temer por mudanças que a afetem. Ela já sofreu bastante. Será que ela lembra do sofrimento ou os cachorros esquecem das dores quando por fim amados, ou novamente amados? Será que eu já senti essa dor que estou sentindo e esqueci? Será que o corpo falho que, quando submetido a algum tipo de estresse, transforma a merda saudável em merda problemática e ruim de limpar é o mesmo que lindamente nos faz esquecer das dores mais profundas que sentimos um dia? E será que, então, o meu será capaz de me fazer esquecer essa dor horrível de ter que ir embora te amando? Bom, mesmo que ela não seja sensível assim eu sei que ela sabe que alguma coisa está acontecendo porque as lambidas no meu rosto nunca foram tão salgadas, de certo. Ou porque sente saudades tuas.

    Limpo a merda física do tapete. Não brigo com a Madá – nem pensar! – ela não tem culpa. Muitas vezes a gente não tem culpa pelas merdas que faz, porque a gente tinha que fazer ou porque era só o que a gente podia fazer no momento. Penso em você, agora com essa espécie de compaixão. Não sei se é compaixão ou é meu organismo – falho ou lindo? – me fazendo criar cenários onde posso ficar com você.
    Café, cigarro, jogo fora o resto do café para pegar um pouco mais, mais quente, e fumo um cigarro a cada vez que faço isso até o café acabar. A academia já era. Tudo bem, ainda tenho dias suficientes para ir as três vezes na semana que havia combinado comigo mesma. Leio um post aleatório no instagram: “Erivelto trabalha consertando dragões”. Oi? Leio de novo: “Erivelto trabalha consertando fogões”. Será que eu faço isso? Será que eu transformo fogões que precisam de reparos em dragões quebrados? Dá pra consertar um dragão? Olho no relógio do fogão: estou atrasada. Penso em como vou arrumar o relógio do fogão quando a luz cair de novo. Eu tinha tentado arrumá-lo inúmeras vezes sem sucesso e, por fim, me resignado a ficar sem ele. Mas, você chegou e o arrumou. E arrumou de novo depois daquele domingo quando ficamos sem luz, fomos para a sua casa e tomamos sorvete no carro até a chuva passar.

    Você arrumou o meu fogão. Eu consigo consertar o teu dragão?

    Tenho que me desapegar das lembranças, tenho uma reunião online importante, em menos de meia hora agora. Tudo bem, o banho vai ser sem lavar o cabelo já que não fui para a academia. Ligo o chuveiro e vejo a sua escova de dentes e o vibrador que mora entre os frascos de shampoo desde que você foi embora. Ele também me ajudou a decidir fazer o que tem que ser feito, mesmo que doa muito e apesar da tua presença no banheiro em forma de bilhetes espalhados pelos azulejos. “Uma casa, um quintal, nossa família, música, comida e carinho”. Dói uma dor que vem na garganta. Tenho que fazer passar. Me apego à visão de uma eu muito aflita sempre te esperando, na casa do bilhete no azulejo. Era verdade esse bilhete? Vou até o quarto de vestir para deixar a escova de dentes com as suas outras coisas que ainda estão aqui. Também quero separar a roupa antes de tomar banho já que está frio e eu tenho, nesses dias, tido dificuldade para me concentrar na linearidade das escolhas cotidianas. A gente faz uma coisa enquanto pensa na próxima coisa que tem que fazer e quando está fazendo essa coisa a gente pensa na próxima. Funcional. Funcional como eu tenho que ser agora.

    Vou até o quarto e lá estão as roupas de cama e toalhas da chácara dos seus pais dobradas desde a semana passada. As manchas de café, vinho e feijão deixadas pelos dias felizes nos panos de prato. Lá também estão o seu conjunto de moletom preto que eu adorava vestir e sua camisa cinza que eu acho bonita. Me pergunto porque você só a usou comigo da última vez que nos vimos. Penso que nunca mais vou te ver com a camisa cinza bonita. Um pé de meia…onde está o outro? Eu tinha tirado essas roupas da secadora ontem de manhã, elas estavam misturadas às minhas. Elas eram de quando a gente estava misturado. Na ocasião, fiz questão de dobrá-las de um jeito que pudessem ser guardadas numa sacola para te entregar. Bem displicentemente, como eu queria que você achasse que é o que eu sinto, como eu queria me sentir em relação a você, de um jeito que você visse o que perdeu, já que transformou as roupas bem dobradas em roupas apenas postas de um jeito para caber em uma sacola. Vejo a meia de lã do seu filho, tricotada provavelmente pela sua mãe, pendurada no varal. Não coloquei na secadora para não estragar. Dor. Volto a sentir compaixão, agora de mim. A lembrança do cuidado que eu amava ter com vocês. Decido dobrar as roupas do mesmo jeito que cuidava da gente: com todo o carinho e satisfação dos quais nem sabia ser capaz. Vou dobrar como aquela eu que amei conhecer, aquela que voltou a sonhar e aprendeu a fazer planos. Lembrei do que contou uma amiga sua que eu gosto bastante, ainda que tenhamos tido tão pouco tempo. Ela disse que no seu antigo relacionamento as roupas eram lavadas separadamente ou cada um lavava as suas roupas, algo assim. E, logo depois, você passou a lavar as roupas aqui. Pela coincidência de não ter máquina de lavar e eu sim, ou quem sabe não só por isso. E eu passei a dobrar as suas roupas quando elas ficavam secas junto com as minhas e você não estava. E eu gostava. Não se tratava de fazer um serviço, nem tinha a ver com a minha necessidade infantil de ser boa para ser amada. Se tratava de curar as tuas mágoas passadas. Se tratava de te amar. Então, hoje pela manhã, dobrei as tuas roupas pela última vez.

    Já é noite. Vou até o quarto de vestir para, enfim, colocar uma roupa quente e confortável e ficar pronta para tomar o vinho e permitir as lágrimas, agora livres dos sorrisos funcionais do dia. Vejo suas roupas em cima da cama, muito bem dobradas. Ao lado delas, as minhas: roupas limpas misturadas com roupas já usadas, todas elas largadas e amarrotadas. E através dessa metáfora meio cafona e muito triste percebo tudo o que eu vinha fazendo por você e, sobretudo, tudo o que tenho feito de mim. Aborto as novas lágrimas. Escrevo. É assim que me desnudo, é assim que me entendo, é assim que me curo. E agora, escrevendo esta exata linha, apesar da dor, sinto que estou aqui. Voltei a ser. Um pouco mais em mim, sinto a confiança que preciso para te ver, para resolver. E, se você se esquivar, tenho esta crônica para te mandar. Ainda que, talvez, você nunca vá ler.

  • A necessidade de resgate dos empreendedores e empreendedoras do Brasil

    Por: Rodrigo G. M. Silvestre

    O Brasil possuí cada vez mais pessoas que precisam empreender para sobreviver. Essa massa de pessoas não encontrará no curto prazo postos de trabalho formais, aqueles que garantam sua dignidade e inserção social satisfatória. Por essa razão é fundamental que os diálogos da esquerda possam atualizar os discursos para contemplar esse enorme contingente de cidadãos.

    As práticas de apoio do Estado à atividade empreendedora tem focado quase que exclusivamente no empreendedorismos tecnológico inovador. São moldadas por uma falsa percepção de que há espaço para todos e todas na economia capitalista competitiva. Nesse caso, bastaria uma boa ideia e muita competência para que o resultado seja produzido. É a ideia da meritocracia neoliberal, onde o homem sozinho pode vencer o sistema e, independente de sua classe ou posição social, galgar as benesses da livre concorrência.

    Sabemos hoje, que esse tipo de visão é excludente e que apenas mascara os privilégios dos empreendimentos que são feitos pela própria elite detentora do capital. Não é provável que as oportunidades sejam aproveitas da mesma forma, dado os diferentes contextos onde elas surgem. É preciso uma intervenção do Estado, não apenas para dirimir as imperfeições do mercado, mas para liderar o processo de mudança social. Marina Mazzucato chama isso de Estado Empreendedor.

    Para o Brasil, que é um país empreendedor por natureza, não há Estado mais apropriado do que aquele que direciona a atividade econômica com base nas necessidades reais e objetivas de sua população. Em linha com esse argumento a pergunta do correspondente do jornal América Profunda foi feita ao pensador Emir Sader sobre qual o desafio de incluir no discurso da esquerda o grupo de empreendedores e empreenderas brasileiros.

    O evento foi promovido pelo SINDICATO DOS TRABALHADORES EM EDUCAÇÃO PÚBLICA DO PARANÁ (APP Sindicato) e pode ser revisto na integra no portal da entidade. Aqui colocamos o recorte com a pergunta e a resposta feita pela participação do Jornal América Profunda para provocar a reflexão.

  • Amores líquidos e algoritmos. Sobre quebrar o coração e os mecanismos (in)sensíveis de venda das redes.

    Por: Ana Flávia Bassetti

    No final do ano passado perdi, inesperadamente, dois clientes que pagavam mais da metade do meu salário. No mesmo dia, recebi uma compra feita pela internet: um maiô e uma blusa num total de R$489 que resultaria em, no máximo, vinte minutos de satisfação dos meus desejos. Olhei para aquilo e vi que era um absurdo. Além de não fazer parte da minha realidade, eu precisava de fato daquelas coisas? Foi quando estabeleci o seguinte propósito para o ano que chegava: não compraria nada de absolutamente supérfluo. Com um sorriso de satisfação de canto de boca, pensei: “o que esse algoritmo sacaninha vai me oferecer agora? Hein, hein, hein?”. Claro que eu não tenho interesses estritamente supérfluos, mas eles são os que mais rendem para a máquina, certo? Bom, desde então ele tentou várias coisas, mas sem muito foco. Me oferecia de seguro para cachorro até curso de psicanálise. Sim, eles estão nos escutando e metrificando o tempo todo, mas acho que a minha vida andava mesmo mais eclética e aleatória.

    Foi quando, no começo de maio, me apaixonei. Perdidamente. Dessas coisas que, em pouquíssimo tempo, você tem certeza que é pra sempre porque você quer que seja. Você quer tanto que dê certo porque você quer tanto, que você quer logo que a pessoa venha com as merdas todas dela e quer ir com todas as suas e vamos resolver juntos e ser felizes para sempre! Há um mês me encontrava apaixonada. Feliz. Realizada. Satisfeita. Claro que nem tudo são flores, mas estava mais crente na vida do que nunca na vida e, consequentemente, menos consumista do que nunca.

    Então, sabe o que o fucking algoritmo fez? Ele não me deixou esquecer em nenhum momento do que eu poderia perder. Como seria ruim se eu perdesse. E, claro, o que fazer para não perder. E ele nem precisava! Como boa ansiosa depressiva, eu sabia que, a qualquer momento, poderia cavar minha ruína sozinha (ou não, vai saber…). Mas acho que ele ajudou. Ah! Ajudou! Até comentei com meu namorado na época (engraçado usar “na época” para um mês atrás, Bauman explica?) sobre os conteúdos patrocinados que começaram a aparecer na minha timeline (ainda é timeline que fala?). Coisas como “faça ele sonhar todos os dias com você”, “como segurar um homem”, “descubra se ele te ama de verdade em 10 passos”, “10 posições para fazer na cama e esquentar as coisas”, “baixe agora o app e descubra se você está sendo traída”…dessas para pior…

    E eu, mesmo que a carcaça diga muitas vezes o contrário, nunca fui lá muito segura. Alguém é?

    E também, neste exato momento, estou na fase de procurar culpados. Peço que não me julgue.

    Depois de um mês de êxtase e alegria, havíamos nos desencontrado e, exatamente no dia 04 de junho, como em muitas outras tantas vezes na minha vida, saí decidida a provar para o mundo que era melhor sozinha, sem sucesso. Não que eu não seja boa sozinha, mas quando tento provar saibam que a merda está feita. Saibam não, saiba de uma vez por todas você, Ana Flávia! Bom, fato é que levei um golpe emocional seguido de um golpe financeiro: caí naquele da troca de cartões de banco, sabe? Eu, muito inocente e pseudo alegre saindo da festa e ainda ouvindo na minha mente inquieta resquícios de “juro que não vai doer se um dia roubar o seu anel de brilhante, afinal de contas dei meu coração e você pôs na estante…. aí de mim que sou romântica”, fui comprar mais uma cerveja desnecessária de um ambulante e bum!, já era. Muito dinheiro pelo ralo. E mesmo depois de, enfim, ter uma parte recuperada (do dinheiro, não dá dignidade) e de conversas com amigos na tentativa de entendimento de que o dinheiro, como os homens, vem e vai e que esses casos têm a ver, de alguma forma, com a desigualdade social que nos assola, ainda me sinto uma merda.

    Hoje, quase cicatrizada depois de uma semana me refastelando em lágrimas pelos golpes tomados, ouvindo música caipira para ter um pouquinho mais de fé no mundo e tentando sentir um cheiro de mato no bouquet do vinho barato (para quem?) do mercado, eis que o algoritmo vem me aterrorizar novamente. Calma, não me julgue tão cedo. Sim, uma semana é pouco, mas as coisas têm sido assim né? Tem um autor do qual eu gostava mas que agora vai na Fátima Bernardes e que eu não gosto mais por isso – porque tem esse meu lado escroto e pseudo intelectual que desmerece as coisas que, de alguma forma, se adaptam a este mundo escroto e funcional – que diz que a conta que a gente paga ao finalizar um relacionamento é de 10%. Nada a ver com a música sertaneja. Segundo ele, ao final de cada história a gente tem uma conta de 10% do tempo que ela durou para pagar em dor de cotovelo. Ou seja, se você ficou com alguém durante um mês, vai sofrer por três dias. Acho bom pensar assim. E estava aqui tentando me convencer disso, já que já se passaram sete dias. E nessa, tentando me convencer a seguir em frente, tenho ainda que lidar com o algoritmo me dizendo como trazer ele de volta em dez dias, como dar um chá de sumiço para ele correr atrás (tem e-book deste, inclusive), qual a mensagem exata que eu devo mandar para que ele se re-apaixone. Mas, ao que parece, este é só o começo. A coisa tá bem desenvolvida. Quando comecei a denunciar esses posts patrocinados como fraudulentos, começaram a aparecer coisas mais, poderia dizer, “elaboradas”, como por exemplo sobre como o chá de sumiço não funciona porque, afinal, “você quer que ele fique pelos motivos certos, certo?”. É quase como uma dialética sangrenta de venda que usa dessa nossa tão atual dificuldade de lidar com as frustrações da vida e da consequente busca por respostas prontas para coisas para as quais não há. O amor existe. Ele é bom. E ele, muitas vezes, dói. Não existem respostas fora. Não existem! Será que, nem no momento desta dor mais genuína, não podemos não comprar nada?

    Uma voz de alento de uma cara amiga vinda pelo direct (ah! como amo paradoxos) diz que as pessoas só fazem com a gente o que permitimos. E eu, com um tanto de fé em mim e na humanidade, adiciono que os algoritmos também

  • Rediscutindo o Empreendedorismo na Esquerda

    Por: Rodrigo G. M. Silvestre

    O Brasil possuí uma massa de milhões de pessoas desempregadas e um enorme contingente indivíduos que desenvolvem alguma atividade empreendedora para cobrir suas necessidades cotidianas. De acordo com o relatório Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2021, realizado pelo Sebrae em parceria com o Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP) o Brasil tem 43 milhões de empreendedores, volume que compreende os que já têm um negócio formalizado ou, no último ano, realizaram alguma ação com intenção de ter um empreendimento no futuro. Dentre esses, cerca da metade são empreendedores por necessidade.

    Nesse sentido, é preciso vencer os velhos paradigmas da esquerda no Brasil que tem verdadeira dificuldade de lidar com essa população. Apresentando a visão de que a atividade empreendedora é a antítese da formação da identidade de classe entre os trabalhadores. Porém, não é concebível que esse contingente de 43 milhões de pessoas possam ingressar no mercado de trabalho nos atuais moldes da economia nacional. Desta maneira, a coexistência com a “classe” de empreendedores, especialmente os por necessidade, deve estar no cerne da discussão de qualquer governo popular, especialmente nos anos que se seguirão. Estes serão marcados por um cenário econômico hostil, com variáveis macroeconômicas deterioradas e forte pressão sobre o orçamento público.

    Se por um lado empreendedorismo não forma uma unidade em torno do conceito de “classe trabalhadora”, por outro ele pode gerar uma unidade que abarque a noção de “consciência social”. Onde o desenvolvimento das atividades produção e comercialização de bens e serviços possam ser estabelecidas de maneira humanizada. Com um resgate dos valores sociais que estão em franca ameaça no contexto atual.

    Essa consciência é necessária não apenas no Brasil, mas em toda a América Latina, que precisa de uma integração e identidade coletiva cada vez mais forte. Sem ela o continente sul-americano corre o risco de ter suas condições sociais ainda mais degradadas, dada a dinâmica geopolítica que se desenhou, especialmente após a Guerra da Ucrânia, que sinaliza uma alteração dos centros de poder econômico mundial do eixo Estados Unidos e Europa, para um eixo que terá certamente a China e outros territórios da Ásia como entes relevantes.

    Em todos os territórios latino-americanos, em especial no Brasil atual, os empreendedores seguem invisíveis perante o Estado. As ações de promoção do empreendedorismo tecnológico inovador, que são chamativas para o público em geral, não representam de fato o tipo de atividade que precisa de proteção. Não é o modelo do Vale do Silício que precisamos replicar em solos tupiniquins, mas um modelo pensado nas necessidades e limitações que são encontradas na realidade econômica brasileira e latino-americana.

     

  • A IRMÃ MAIS VELHA DA LIBERDADE

    ESCRITO POR JOÃO MARTIN XAVIER DA SILVA

    “Con su Permiso”, segue algo que vivencio, desde não saber o que saber  significava. Apesar do título ser quase uma chamada publicitária, jamais a manchete da 1@ pagina e muito menos “trending topics” soar quase tão “NAIIFF” que mereça uma primeira estrofe ERA UMA VEZ…

    O que segue   tem o peso de correntes de ferro, o barulho de um disparo, um grito mudo da mãe que perde um filho, o timbre particular do choro de uma mulher, um pai ou uma criança. Tem cheiro da pólvora desde as ocas, pelos quilombos que continua e ecoar sem fim pelas favelas da máquina neoliberal de moer carne humana. Tem a mesma estrela do “CHERIFE”, que empurrou, para dentro de grandes navios mulheres e homens, Marias, Terezas, muitos João y Juanes;  negros, brancos, amarelos, vermelhos e verdes.A estrela Brilhante do “CHERIFE”, também era a última que judeus, na Alemanha viam antes de serem sumariamente assassinados.

    … Desde minha infância, Piá, guri, pibe e não a dos porta retratos, nem a de brincar na rua Mamoré, em la calle Elcano Rivadavia com meus amigos da rua, o com mis primos em las tan soñadas vacaciones en Capital Federal, do pinhão a empanada, “culito pa’riba” como decia mi abuela Cristina Maria. Desde que me lembro por gente, quando na presença da injustiça, quase perfeita no reflexo da ácida lágrima de uma mãe que só é pobre quando não tem as armas para defender seus filhos, sempre que as insuperáveis toneladas que a opressão com seu pé pesado no pescoçodos povos brasileiro e argentino lationoamericanos

    Seja o brilhante sapato do general seja o coturno de um marreco ou a caneta de um deputado, vereador, senador da república…, deles e por fim, “last but not least” o cheiro de enxofre que sinto quando a ganância dos homens nubla a já vendada justiça e acaba com a migalha de paz, as quais, as mulheres e homens de bens se agarram para cruzar o deserto cotidiano da falta de oportunidades de levar uma vida digna.

    Ou seja, sempre que a INJUSTIÇA em qualquer das formas acima, or else, encurrala minha humanidade me vejo em uma praça.

    Na verdade apesar de ser um pesadelo, tem um pouco de sonho… e acabo nessa plaza que está entre avenida Pueyrredón y la facultad de arquitectura de la Universidad de Buenos Aires. Como toda plaza porteña tem bancos, pombas, cheiro de “garrapiñada” y um carrossel (calecita). Abuelos, estudiantes, madres con bebés, trabajadores, enamorados de primera o muchas viajes enfin gente brincando na praça.

    E isso! saio do curral e vou parar nessa praça…

    Onde sempre vejo uma pequena menina, sim, ela é uma menina mas é curiosamente bem menor que suas amigas. Sim, cada vez que a injustiça me choca e mumifica acabo encontrando essa pequena menina que não envelhece, acho que a primeira vez que a vi tinha 6 anos, hoje tenho 46 e ela continua bem pequena, bem menina.

    Não lembro exatamente, o que me levou a conversar-nos a não ser minha mal vestida mas intrépida curiosidade. Ela se chama liberdade, LIBERTAD.

    Como toda conversa aos pés del cerro catedral ou as margens do rio Tapajós na nossa distante Rondônia o papo começa pelo clima, vai chover? Vai nevar?

    Mas logo esta frágil mais indestrutível menina me guia por esse sentimento de injustiça e disso lembro bem porque foi a primeira vez que ela me falou sobre sua irmã mais velha? A Revolução.

    Liberdade é a caçula de quatro filhos que o Amor e a Humanidade tiveram 2 hombres y dos mujeres.

    La menina, fala com tanto orgulho da irmã que ilumina o pesadelo, como ver na escuridão, ao entender e sentir a fria e áspera mão da injustiça.

    Bom, os lindos cabelos vermelhos da Revolução, segundo a caçula, quase não vieram ao mundo. Porque sua mãe teve hemorragia e por mais serena que Dona Humanidade fosse, disse a mãe da pequena Liberdade que pariu sua primogênita do sangue e que parte do temperamento muito forte da irmã, são indissociáveis da sua natureza.

    Aqui posso terminar sem explicar porque se eu fosse você não leria este artigo até o fim se você se sente livre quando teu igual está preso.

    Se chegou ate aqui e não “deu liga” pode parar. Porque esta provocação e para quem não admite a INJUSTIÇA e pode fazer algo contra ela, afinal:
    NO HAY REVOLUCIÓN SIN SANGRE, MAS COMO SOMOS UM POVO ORDEIRO E NÃO SANGUINÁRIOS COMO FAZER A REVOLUÇÃO QUE NOSSO POVO MAIS HUMILDE PRECISA ?

    Todos, na surrealista matemática da falsa democracia, a maioria, sabem o que é uma INJUSTIÇA e imagino que, como eu, sofrem.

    Lógico! o limite da dor, é o desemprego, a família, e não porque o emprego seja mais importante que a família: a bom entendedor …

    Na verdade, a maioria NÃO trocaria nem num programa de auditório nem na surdina a liberdade dos outros, dos que não tem; por uma casa própria, um belo carro, férias; desde que, também a conta do banco cresça . E NÃO SE ASSUSTE PEQUENO OU GULOSO, PACATO OU HISTÉRICO GAFANHOTO.

    É SIMPLES. NÃO SOMOS COVARDES IMAGINO QUEM NÃO SABEMOS COMO INICIAR UMA REVOLUÇÃO PARA RECUPERAR E O QUE É NOSSO, PORQUE O ESTADO NÃO É DOS POLÍTICOS NEM DOS RICOS. É DO POVO, E NÃO SE ENGANE, TAMBÉM NÃO É DA NAÇÃO. É DO POVO, É NOSSO DOS BRASILEIROS E DOS ARGENTINO.
    E VC BUSCA A OPORTUNIDADE DE DAR UM GOLPE NA CARA DESSA “JUSTIÇA” VENDADA, DA INJUSTIÇA ESCANCARADA. que como master mind de um filho da puta de um político mau caráter que só entrou na vida pública pelo privado, para enriquecer as custas do erário ou seja E Do  do sangue do povo, e para ter mais poder para dedicar USAR o voto de SEU eleitor, para roubar e vencer sua particular guerra contra seus desafetos políticos, seja em qual arrabal esse.
    Afinal, VC É SE IDENTIFICA MAIS COM QUAL DAS ALTERNATIVAS ABAIXO

    1. O QUE EU GANHO COM ISSO?????
    2. ONDE ASSINO OU COMO PARTICIPO DA PRIMEIRA REVOLUÇÃO NÃO ARMADA DO BRASIL

    ESTA TERTÚLIA FOI PARA OS LETRA B, DE BRASIL.

    A  LUTA CONTINUA,  CONFIRA NA PRÓXIMA  EDIÇÃO:

    OS MELHORES  AMIGOS DA IRMÃ MAIS VELHA  DA  LIBERDADE:  A REVOLUÇÃO

  • A SOLIDARIEDADE É A MAIOR REVOLUÇÃO HUMANA

    Por: Felipe Mongruel

    A SOLIDARIEDADE É A MAIOR REVOLUÇÃO HUMANA

    Em tempos de propagação autoritária e autocrática no mundo, os termos políticos ganham novas formas, numa avalanche de confusões teóricas e sistêmicas, numa guerra híbrida (força + linguagem) para obtenção de poder. Poder este que muito se confunde com um acúmulo capitalista e uma sede infinita por novas fontes de preservação destes privilégios, leia-se aqui, a procura no espaço de novos palcos de onde deixar suas pegadas ambiciosas por parte de particulares bilionários que alimentam mesmo a ideia de deixar o caos pra trás, deixar o caos para a massa pobre e fétida do planeta Terra, este deserto de líderes e cada vez mais um deserto de vida.

    No Brasil, regredimos incontáveis décadas após o “anti-sistêmico” demolidor de concorrentes, Jair Bolsonaro, a legitima besta apocalíptica. No campo ambiental e de preservação, na seara da ciência e da tecnologia, no campo da saúde e da educação e até na pasta econômica, Bolsonaro faz terra arrasada do país que ostenta mais golpes na Republica desde sua fundação.

    As estratégias para vencer a democracia eleitoral foram calçadas como luvas anatômicas para uma sociedade que se alimentava e se alimenta em achar culpados e criar justiçamentos. Caminham par e passo com a analfabetização televisiva que a mídia voraz e direitista deixou pelo país. E erra quem pensa que depois desse absurdo criado, ela voltou atrás em seus meios e restringiu os meios para que o propagassem.

    Na maior empresa de telecomunicações do país, a rede e complexo Globo, seus dotes de golpismo andam ombreados às oportunidades de pautas mais influentes em outros campos políticos, quando por exemplo, tratam do racismo estrutural num torturante reality show de ambições individuais e rinha de vaidades.

    A direita, seja a oportunista-autoritária, seja a oportunista-hipócrita agem sempre pelo mesmo ceio: o mérito individual.

    Mesmo depois do maior desastre político já visto num país grande, ainda mais apequenado pela maior pandemia do século, as correntes capitalistas e individualistas são largadas. Seja pelo auge do sistema financeiro, seja pelo bruto processo que o agrobusiness coloniza.

    Depois de tudo, a raça humana que vive no Brasil não consegue aplicar os conceitos mais importantes do raciocínio do cabeludo da Galiléia que foi capturado como símbolo para atender os fins dos poderosos durante esses 2000 anos. Raciocínio este, simplesmente da solidariedade coletiva infindável.

    E é com esse sonho de uma ambiência que a sociedade se divida por inteiro, se ajude por inteiro, se salve e se proteja por inteiro, num cuidado excessivo e desmedido com àquele que não conhece ou que nunca viu antes que encorajo os leitores neste 2022. Meu sonho de revolução é uma revolução socialista, mas principalmente solidária, para que todos saibam que uma vida coletiva, como num favo de abelhas, protege, cuida, satisfaz e é extremamente eficiente, sem privilegiar qualquer abelha, todas fazem mel.