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  • A LUTA DE CLASSES EM TEMPOS PANDÊMICOS E O PANDEMÔNIO BRASILEIRO

    A LUTA DE CLASSES EM TEMPOS PANDÊMICOS E O PANDEMÔNIO BRASILEIRO

    Por: Thaís Pagano

    A pandemia de Covid-19, cujo nome é SARS-2, ou seja, “Síndrome Respiratória Aguda Grave – 2”, indica não ser algo novo ou sem precedentes, já que é a segunda do seu gênero neste século. Em 2003 a SARS 1 foi chamada de “a primeira doença desconhecida do século XXI”. Sendo assim, é possível realizar uma crítica à ausência de investigação da SARS 1 por parte dos governantes, o que poderia ter permitido a previsão do Coronavírus – COVID 19, bem como a disponibilidade de efetivos instrumentos para seu combate por parte da medicina.

    O contexto da pandemia evidencia em escala mundial, a debilidade da lógica neoliberal, que busca transferir aos sujeitos a responsabilidade de encontrar saídas para atender suas próprias demandas. Os indivíduos são culpabilizados por sua condição de vulnerabilidade e têm suas relações regidas pela economia de mercado. Nessa perspectiva, o Estado deixa de garantir o atendimento às necessidades da população e a oferta de meios de subsistência, assumindo políticas focalizadas e seletivas, legitimando relações clientelistas. Observa-se o agravamento da desigualdade social, a banalização da vida humana, consolidando assim o papel do Estado como “mínimo para o social e máximo para o capital”. As privatizações fortalecem a retração do Estado e marcam um cenário de mercantilização e regressão de direitos, sustentado no produtivismo capitalista, que degrada todos os horizontes da vida social, como a poluição das águas e ar, desmatamentos, precarização dos alimentos. O capital modifica as condições ambientais para sua própria reprodução.

    Nota-se um vírus ideológico desencadeado pelo Coronavírus, que envolve notícias falsas, teorias de conspiração, paranoias, racismo e xenofobia. As várias formas de enfrentamento à pandemia atual, mostram o retorno a recursos medievais como misticismos, pessimismo apocalíptico, fábulas, orações, profecias e fantasias como maldição. Essas questões sinalizam à necessidade de resgatar o método cartesiano e intensificar a valorização à ciência. A ineficiência global no trato com a saúde populacional está evidenciada especialmente no equívoco das medicalizações, na indisciplina quanto à produção de vacinas necessárias, na incapacidade quanto à administração de recursos e na oferta de medidas de proteção, o que provoca inevitavelmente o agravamento da situação. Uma vez que a saúde é um bem público, o estado de saúde de cada indivíduo depende da saúde do corpo social, que deve atuar por meio das instituições políticas e sociais. A restrição da liberdade de circulação é o reconhecimento de que a saúde é um bem público, porém a perversidade do sistema hegemônico não possui uma efetiva rede de proteção contra a contaminação e seus desdobramentos.

    A complexidade de uma epidemia está na articulação entre determinações naturais e sociais, de análise transversal, sendo preciso compreender os pontos em que as duas determinações se cruzam, por meio da rigorosidade dos estudos científicos. São inegáveis a luta pela liderança econômica mundial entre EUA e China, a ascensão do capitalismo chinês e sua intensa presença no mercado local e global. Na China é possível observar a ligação entre uma confluência entre a natureza e a sociedade que segue costumes mais rudimentares de higiene, por um lado, e uma difusão planetária deste ponto de origem transportado pelo mercado mundial capitalista e a sua dependência de mudança incessante, por outro. A pandemia é transversal e de rápida mobilidade, e é pela espécie humana que o percurso natural do vírus de uma espécie transita para outra.
    Vivemos em estado permanente de crise, uma vez que o capitalismo é pandêmico. O neoliberalismo, versão dominante do capital, é o causador do colapso social. O objetivo é não resolver a crise, pois isso exige a destruição do capitalismo. A pandemia desnuda o sistema do capital, não sendo ela um fenômeno natural, mas sim decorrente das relações sociais estabelecidas pelo capitalismo, cujo sistema é destrutivo, metabólico de funcionamento em que as partes que o constituem e o todo objetivam a valorização e o acúmulo da riqueza de forma privada. Isso mostra a virulência em seu sentido precarizante e destrutivo. O caráter parasitário do capital reside na paralisação da produção pela classe trabalhadora, já que sem o trabalho o capital não se valoriza e, por isso, não sobrevive. O arsenal tecnológico não cria riqueza, mas a potencializa com sua maquinaria industrial e assim depaupera a classe trabalhadora. A economia e sua produção em massa de objetos manufaturados estão sob a égide do mercado mundial, havendo grande rivalidade entre os centros imperialistas. Estados nacionais enfrentam a epidemia com o objetivo de salvar o capitalismo, ou seja, manter a ordem hegemônica, por meio do mecanismo da exclusão de qualquer reflexão crítica que conduza ao enfraquecimento do grande capital. A epidemia torna flagrante a contradição entre economia e política, aprofunda o enfraquecimento do sistema de saúde por parte do Estado e a conjuntura o obriga a gerir a situação, priorizando os interesses da burguesia. O funcionamento do mercado mundial teve redução do crescimento econômico, o que aponta para a necessidade de uma reorganização da economia global para que não se fique mais à mercê dos mecanismos de mercado.

    Quanto ao Brasil, considerando as características daquele que ocupa a cadeira presidencial – o pandemônio, o enfretamento à pandemia tem se mostrado desastroso desde o princípio. O presidente da república, que já incialmente minimizou os riscos do coronavírus, de maneira incessante repudia as orientações da Organização Mundial da Saúde, contraria as medidas sanitárias, desrespeita a dor dos enlutados, menospreza o estado de saúde das pessoas infectadas pelo vírus ao imitá-las com falta de ar, desincentiva a vacinação, promove confronto político com governadores, espalha notícias falsas, estimula o uso de medicamentos com ineficácia comprovada cientificamente (Kit COVID), nega a compra de vacina da Pfizer, permite o vencimento de teste de covid 19, sem contar a vergonha mundial em seu discurso enganoso na Assembleia Geral da ONU.

    Muitos pronunciamentos marcaram seu trajeto na condução pandêmica do país: “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre.”; “Tudo agora é pandemia, tem que acabar com esse negócio, pô. Todos nós vamos morrer um dia, aqui todo mundo vai morrer. Não adianta fugir disso, fugir da realidade. Tem que deixar de ser um país de maricas.”; “Isso vai ser uma gripezinha ou nada.”; “Eu não sou coveiro!”;”Se você virar um jacaré, é problema seu. Se você virar Super-Homem, se nascer barba em alguma mulher aí, ou algum homem começar a falar fino, eles (Pfizer) não têm nada a ver com isso.” “Esse vírus trouxe uma certa histeria. Tem alguns governadores, no meu entender, eu posso até estar errado, mas estão tomando medidas que vão prejudicar muito a nossa economia”; ” (com menos de 100 mortes); “Parece que está começando a ir embora essa questão do vírus.” (com 1.200 mortes). Não à toa é classificado como genocida por quem tem o mínimo de apreço à dignidade humana.

    É possível extrair conhecimento tanto de situações de crise quanto daquelas consideradas dentro da “normalidade”. A epidemia evidencia a necessidade de uma mudança radical, global e urgente. O sistema capitalista é perverso, mata mas precisa preservar vidas, afinal quem irá produzir e consumir? Essa experiência mostra que o vírus é democrático por não fazer distinção, porém é essencial frisar que todos estão na mesma tempestade, mas não no mesmo barco. As embarcações são completamente diferentes. É possível que a pandemia nos faça refletir sobre união e solidariedade, sem que tenhamos um percurso de construção de uma sociedade de fato justa e igualitária? Sabe-se que existem outras catástrofes em curso, decorrentes da ininterrupta interferência do homem na natureza: seca, calor, tempestades, que exigem coordenação global eficiente.

    Que saibamos construir novas figuras políticas, realizar rigorosa crítica, elaborar novas narrativas sobre a saúde pública, educação, ciência e de fato fundar uma nova política. É preciso uma mudança radical, uma organização global que possa regular e controlar a economia, constituir uma sociedade alternativa, para além do Estado-Nação, baseada na solidariedade e cooperação global, reconhecer efeitos potencialmente benéficos da pandemia para rever nossas prioridades e construir alternativas para a criação de outras formas de sociabilidade. O coronavírus também pode induzir-nos a pensar em alternativas à nossa obsessão por veículos individuais. Só se pode salvar liberdades através de mudanças radicais num capitalismo global que se aproxima do seu próprio colapso. É de singular importância alimentarmos nossa resistência por meio de espaços de discussão e produção de conhecimento. O debate político deve ser coletivo, para além das pautas identitárias, priorizando no momento aquilo que nos iguala que é a preservação da vida.

    É urgente o fortalecimento do SUS como política pública, universal e gratuita, sendo garantido seu efetivo investimento, com medidas que considerem a saúde como atribuição dos poderes públicos. É nosso dever enquanto sociedade civil pressionar os governantes a assumirem a responsabilidade pelo atendimento à saúde da população. As políticas públicas como saúde e educação devem agir de forma integrada. Para que a solidariedade vivenciada na pandemia não seja transitória, é preciso repensar nosso universo da cultura, visando uma real transformação social.

    O vírus tem a capacidade de abalar todas as certezas. A aptidão de adaptação se altera fortemente com a pandemia, exigindo mudanças drásticas. Incorporamos que não há uma alternativa de existência além daquela imposta pela ideologia do capitalismo. Absorvemos e reproduzimos seus valores, garantindo assim a reprodução da vida social nos moldes do poder hegemônico, por sermos moldados e adestrados ao longo da vida. Porém, a crise também nos mostra que uma outra vida é possível, sem consumismo e desperdício, priorizando aspectos muitas vezes ignorados pela alienação da vida cotidiana. É preciso coletivamente discutir e construir alternativas, incorporando isso em nossa cultura. O sentimento de solidariedade não simplesmente surgirá em nossas relações, ele demanda exercício de construção paulatina. A democracia precisa de capacidade política para responder às emergências, por meio da busca de soluções na democracia participativa nos bairros e comunidades com educação voltada à solidariedade e cooperação.

    Aqui no Brasil temos um duplo desafio: derrotar o vírus e o verme messias. São necessárias toneladas de ivermectina para combater o pandemônio do bolsonarismo e varrer da nossa história o fascismo que assola a população brasileira e que representa uma severa ameaça global. Povo na rua, vacina no braço e comida no prato!

    As reflexões aqui apresentadas foram inspiradas no material intitulado Coronavírus e a Luta de Classes, lançado pela Editora Terra Sem Amos, em 2020, que reúne textos de Mike Davis, David Harvey, Alain Bihr, Raúl Zibechi, Alain Badiou e Slavoj Žižek.

  • Des-controladas.

    Des-controladas.

    Por: Ana Flávia Bassetti

    “descontrolada! a senhora está totalmente descontrolada. linda, não precisava nem abrir a boca. outro aborto que aconteceu na história brasileira. burra. se encontro na rua, soco até ser preso. toda poderosa. histérica! ela é louca. raciocina brilhantemente como homem. bruxa! você é secretária de qual secretário? prostituta! porque ela é muito ruim, porque ela é muito feia, não faz meu gênero, jamais a estupraria. eu não sou estuprador, mas, se fosse, não iria estuprar, porque não merece. nojenta. deviam ganhar menos. as mulheres têm mais sensibilidade para as questões sociais e vão ocupar cargos na área de assistência social. mocinha, se inscreve no Big Brother, põe um silicone e tenta algo na TV ou na indústria pornô. os homens recorrem à violência porque se sentem intimidados e não aceitam que as mulheres, no geral, são mais fortes e melhores. abortista! as mulheres têm uma natural propensão para as atividades das artes, da cultura, do lazer onde, gerando emprego, elas podem ter renda e melhorar sua condição de vida. é assim que nós vamos fazer a política da mulher. agressiva! quer dar furo. arrogante! se eleita, quem administrará a cidade não será ela, mas seu marido. quem você quer provocar com esse batom vermelho? você é casada? elas não fazem questão de estar na CPI. você é muito burra, meu Deus, como pode. meu anjo, cala a boca! está nervosa. anticristã! se foi um erro das lideranças não indicarem as mulheres, a culpa não é nossa. rude. acho que as mulheres já foram mais respeitadas e mais indignadas, né? não precisa ficar aí gritando. calma, não precisa ficar nervosa. tu é patricinha mimada, poderia estar comprando bolsa no shopping. se você está com essa agenda tão cheia assim, com filho pequeno, etc. como quer ser prefeita? você tem tesão em mim? você quer ser homem? vou te tratar como homem. é mulher, tem que falar mesmo. está querendo aparecer. política não é muito da mulher. quem é essa cachorrinha? essa menininha vai para a cozinha lavar louça. safada! mulher agressiva e arrogante. doida! despreparada. descontrolada!”

    São todas citações de falas recentes de homens sobre mulheres ou a elas dirigidas em espaços políticos brasileiros. 

    Interrompidas. Descredibilizadas. Ignoradas. Desautorizadas. Silenciadas. Questionadas. Abafadas. Silenciadas. Menosprezadas. Assediadas. Violentadas. Atacadas por serem mulheres. 

    Ora, o machismo e a misoginia tiveram papel de destaque no impeachment da Presidente Dilma, no ambiente político formal e fora dele. A violência política de gênero é largamente usada pelos homens como ferramenta de poder. Olha que ainda ocupamos pouquíssimo espaço! E quanto mais avançamos, mais esta violência tende a se intensificar. 

    Bom, que guardem saliva! Nada, absolutamente nada, indica que recuaremos ou nos calaremos.

    “Minha palavra é de mulher, mas vale. Não é só palavra de homem que vale, não.”                                                                                                                     Marielle Franco

     

    Imagem: Leolinda Daltro, baiana, professora, defensora da educação laica nos povos indígenas. Era, claro, também hostilizada: chamavam-na “mulher do diabo”. Criou o primeiro partido político feminista do Brasil, o Partido Republicano Feminino, em 1910. As mulheres só puderam participar oficialmente da vida política brasileira, votando e sendo votadas, em 1932.

  • ANÁLISE DE CONJUNTURA: UMA TAREFA CONSTANTE

    ANÁLISE DE CONJUNTURA: UMA TAREFA CONSTANTE

    Por: Thaís Pagano

    Pensar criticamente a América Latina requer um olhar atento para o seu processo histórico, sua constituição como capitalismo periférico e sua condição de subalternidade, essencial ao sistema imperialista. Dessa forma, é inevitável refletir sobre a transformação de seus recursos naturais e humanos, inicialmente em capital europeu e, depois, norte-americano. O mecanismo global capitalista tratou de estabelecer paulatinamente seu modo de produção e a estrutura de classes, por meio de relações marcadas pela opressão e exploração, garantindo o desenvolvimento do capital mundial às custas do subdesenvolvimento dos países latino-americanos.

    Especificamente sobre o Brasil, seu contexto de crise econômica e política vem garantindo a ampliação e consolidação do conservadorismo ultraliberal, fortalecido pelo discurso do fundamentalismo religioso das igrejas pentecostais, tendo como destaque um conjunto de medidas que agravam a questão social, que atinge negativamente a vida dos trabalhadores. Nesse sentido, é possível identificar os esforços do capital financeiro em assegurar as privatizações, o desmonte de políticas públicas e sociais, e o assolamento de direitos sociais e trabalhistas. O regime de acumulação na ordem capitalista se assenta na exploração da classe que vive do trabalho e na expropriação das riquezas das regiões periféricas, em harmonia com a geopolítica dos centros mundiais de poder. A ascensão do conservadorismo reacionário tem marcado o solo brasileiro de forma singular há cinco anos e ameaçado permanente e violentamente a democracia.

    São nas mazelas sociais, próprias das sociedades capitalistas, expressas na miudeza do cotidiano, que a conjuntura se revela. Sendo assim, para compreender os acontecimentos políticos que nos permeiam, é fundamental realizar análise de conjuntura, que é uma leitura especial, crítica e profunda da realidade, feita em função de um propósito. Independente de nossa vontade ou percepção, essa análise já faz parte de alguma maneira do nosso dia-a-dia, quando fazemos pesquisas para tomada de decisões, como a compra de produtos no supermercado, matrícula do filho na escola ou a saída de um emprego. Essas decisões são decorrentes de avaliações realizadas a partir das informações e conhecimentos que dispomos.

    A análise de conjuntura é um ato eminentemente político, por isso nunca é neutro e desinteressado. É uma tarefa complexa que exige capacidade de perceber, compreender, descobrir sentidos, identificar demandas, relações, tendências, projetar ações a partir de dados e informações, com o objetivo de desvendar a trama das relações sociais. É um retrato dinâmico da realidade, que mistura conhecimento e descoberta, possibilitando uma leitura intensa da realidade política, econômica e social. Feita sob a ótica das classes populares, pode instrumentalizar a organização da luta coletiva e política dos trabalhadores, por meio da investigação dos acontecimentos considerando-os determinados histórica e socialmente, buscando se constituir enquanto elemento de transformação da realidade social. Ela é um instrumento que permite identificar os interesses e as necessidades em jogo, ponderando as articulações e dimensões locais, regionais, nacionais e internacionais dos fenômenos.

    Algumas categorias são essenciais para realizar análise de conjuntura, são elas: acontecimento – fatos que adquirem sentido especial para um indivíduo, grupo, classe social ou país; cenário – espaço no qual as ações da trama social se desenvolvem; atores – indivíduos, classes e grupos sociais, instituições, como sindicatos, partidos políticos, jornais, rádios, igrejas; relações de força – relação estabelecida entre os atores, que pode ser de confronto, domínio e subordinação ou de equilíbrio, diálogo, igualdade e cooperação; articulação entre estrutura e conjuntura – acontecimentos e ações desenvolvidas pelos atores sociais, situadas em determinadas estruturas,  têm relação com o processo histórico, com as relações sociais, econômicas e políticas, estabelecidas ao longo do tempo, interferindo na conjuntura.

    O acirramento da desigualdade social, em especial nos países da América Latina, território subjugado pelo poder imperialista, nos impele a buscar caminhos para transformar o contexto latino-americano e isso só é possível com o conhecimento de sua realidade multifacetada. Sendo assim, a análise de conjuntura é uma ferramenta fundamental para que os movimentos sociais populares na América Latina possam superar suas limitações teóricas e organizativas, pois ela propõe uma espécie de intervenção política, definindo estratégias capazes de avaliar as forças que participam da dinâmica social que estão em constante mutação, diferenciando as disposições de ordem subjetiva (vontade) das de ordem objetiva (real).

    Em tempos de capital financeirizado, expressão da nova hegemonia liberal-financeira, se faz urgente o fortalecimento de processos de resistência para a construção de outras formas de sociabilidade, que combatam a pauperização, a subordinação, a exploração dos trabalhadores, a desigualdade social, a criminalização dos movimentos sociais e que garantam a socialização da riqueza socialmente produzida, a efetivação de direitos, bem como a consolidação da democracia e da cidadania.

  • EDITORIAL

    EDITORIAL

    Caros Leitores, sejam bem vindos ao Jornal virtual América Profunda, seu jornal mensal de atualidades latino-americanas, mesmo que essas atualidades se remetam a séculos e séculos de construção histórica e fenomenológica do ser latino-americano. O titulo do jornal ganha esse nome em referência à obra mais conhecida do argentino Gunther Rodolfo Kush, um filósofo que tentou sempre traduzir e evidenciar as origens latinomaericanas em contraposição ao que nos foi colonizadamente inserido, seja no aspecto moral, religioso, cultural e/ou filosófico.

    Sugerir-se viver a partir de si mesmo, antes de assimilação cega de culturas estrangeiras como sendo a verdade absoluta, superando a vida submissa, resignada e subserviente é fundamental para reconhecer os valores do que já se tem, que é cultura própria.

    Buscar tais elementos como constitutivos de um povo que, em grande medida, foi explorado e permaneceu inerte; o que veio e continua vindo de fora, além da imposição, é aceito por haver acostumado a um ritmo de vida passiva. Portanto, clama repensar sua posição; clama oferecer os elementos próprios daqui, deste lugar, para que sejam pensadas novas maneiras. Como nos lembram alguns filósofos, é preciso pensar de outro modo. É isso que os autores deste jornal nos propõem: pensar de outro modo, pensar de outro lugar (do aqui) e fazer valer o que aqui é vivido.

    Na primeira edição você vai encontrar análises conjunturais sobre a violência neoliberal a um continente que se despedaça por ações cada vez mais arbitrárias e reacionárias como é o caso do Brasil; encontrará também o papel central do maior movimento  mundial sócio/politico existente, o movimento feminista, e as agruras vividas pelas mulheres deste continente; análise a cerca de uma nova America Latina possível com base nos textos de Alvaro Garcia Linera; crônicas e demais opiniões a cerca do ser existencial latinomericano e suas características riquíssimas e sólidas que nos fazem transcender às volências colonialistas, seja pela música que nos abunda, seja pela culinária que nos une, seja pela poesia que nos fortifica. Até pela nossa história, que nos sangra mas ao mesmo tempo nos estimula a criar nosso sol de cada dia, também encontraremos aqui. E por falar em sol, a estrela que nos guia pra romper as correntes do imperialismo onde criamos e resignamos novos horizontes será sempre do tamanho dos nossos sonhos e dos nossos amores, porque a América Latina é uma mulher mãe, guerreira, forte, amante e ardente que luta pelos seus filhos e pelo seu lar, como as sementes lutam pela potência de um dia ser árvore e os homens lutam para um dia serem livres.

    Em frente América Profunda, cresce-te e anda! Independente e altiva, será o berço de uma linguagem contrária ao arbítrio, sensível à localização e utópica por um planeta justo, digno e de igualdade social.

    Viveremos e Venceremos.

  • Se não agora, quando?

    Se não agora, quando?

    Por: Ana Flávia Bassetti

    Tempos sombrios como o que estamos vivendo pedem foco. Mas, sobretudo, pedem luta. E não há luta política que não seja conjunta. Não há conjunto sem afinamento. Não há afinamento sem diálogo. É necessário transformar, de dentro para fora. Não, não é simples. Já começo dizendo que o meu olhar parte de uma lupa sensível voltada para um universo muito íntimo. Mas é o meu universo, é o que vivo e, meus caros, não há verdades minhas que não saiam das vísceras. Vísceras que só entendem o que já sentiram na pele ou ruminaram empaticamente no coração. 

    Venho falar de um tema que há algum tempo divido com amigas e, ainda que timidamente, amigos de noites e conversas fecundas. Estou ambientada num pequeno reduto da esquerda curitibana que tanto me acolhe, mas que também tanto me frustra enquanto mulher. Na mesa há uma pauta que nos une: a avalanche vil de uma política que nos magoa, nos sufoca, nos revolta e nos confraterniza. Porém, a cisão é iminente logo as luzes se demoram. No caminho entre a mesa em que dividimos a pauta, o cinzeiro e os copos até qualquer tipo de relacionamento mais íntimo a tragédia se anuncia. A esquerda ainda escuta samba. E viva! A esquerda masculina hetero cis ainda tem saudades da Amélia. Trágico! 

    Existe uma fraternidade (se não é o bom e velho português nos desnudando) que se autoprotege e que não inclui as mulheres mas que, ao contrário, usa a misoginia como argamassa afetiva do seu laço. Freud explica a brotheragem! Em “Psicologia das massas” ele fala que o sentimento mais importante para a sensação de pertencimento identitário e consequente coesão de um grupo é o repúdio. Eu não estou exagerando. A misoginia, afinal, toma várias facetas: do discurso antifeminista declarado – e até feminicídio – à exaltação das mulheres, mas enquanto objeto. 

    Nas regras da “casa dos homens”, vale não se envolver (publicamente, claro) com a ex de um amigo para poupar-lhe qualquer desgaste, mas não vale se posicionar contrariamente a um gaslighting público para proteger uma amiga de uma injustiça e quiçá outros danos internos. No primeiro caso, a mulher é colocada como propriedade: um objeto com o qual se pode interagir, mas nunca abrir espaço para qualquer tipo de conexão. No segundo caso, o consentimento que o silêncio traz produz o resultado organicamente: a mulher que sempre fica como a louca, que causa confusão. Vale manter as mulheres do grupo a uma distância que permita que o homem continue no centro, usando de forma sacana uma herança de camadas e camadas de rivalidade feminina mantida funcionalmente a favor do patriarcado. É estratégico! Afinal, uma feminista incomoda muita gente, duas feministas desmascaram muito coisa. 

    Não lembro quem foi que disse: “não há nada mais parecido com um machista de direita do que um machista de esquerda”. E eu ainda alerto para o perigo refinado do segundo. Ora, minhas luzes de emergência acendem facilmente diante de um extremo direitista com sua misoginia escancarada. Mas ainda demoro a perceber o quanto ainda faço berço para a base (maternal?) da esquerdomachia. É difícil dissecar o machismo inteligentemente velado. Tão sutil, tão concreto, tão canalha. É fácil mandar um hetero-top escroto para as cucuias, sem dó. Difícil mesmo é lidar com um parceiro de ideias e ideais que, muitas vezes por pura repetição, nos pega no âmago. E pode nos destruir. Vos digo, então, com conhecimento de causa e causos: não passarão! 

    É sobre isso que eu quero falar. Não só aqui. Não quero ser emissora, quero fazer parte. Paro este texto em súplica: vamos falar sobre isso! Pode soar torpe falar de qualquer coisa que não pareça estar estritamente relacionada à desesperança do momento presente. Mas, para que alguma coisa emerja dos nossos sonhos de boteco, para que nossas pretensões eleitorais tomem forma, para que nossos ideais sociais fecundem, precisamos nos afinar! Sendo assim, este texto é para dentro, mais do que tudo. É para os amigos de luta e jornada. É mais do que um pedido de reflexão e de ajuda. É um pedido de “vamos juntos!”. Mando um “sinto muito”, posto que enfim me nego à culpa, à você companheiro que se sinta ultrajado, ofendido e até incompreendido. Mas, peço licença para a provocação, você é o alvo maior do pedido encarecido que aqui humildemente derramo: você sente isso porque ainda conserva (conservador?) o modus operandi que te serve e que – eis o mais triste da (tua) história – também te destrói. Te destrói de dentro para fora. Te destrói porque te mantém refém de uma masculinidade tóxica que inibe o teu ser em plenitude. O índice de suicídio só cresce entre os homens. É verdade que as mulheres tentam mais, mas até na hora de morrer o cabra tem que ser macho, não é mesmo? E te destrói porque atrasa, e muito, a tua luta que é nossa. 

    Se doeu, te digo: não há mudança açucarada. Se movimentou qualquer coisa aí dentro: me coloco à disposição. Não como seio ou ventre, mas como ombro, ouvidos e coração. Para, afinal, continuarmos juntos, só que lado a lado.

     

    (ilustração: Charles Dana Gibson)

  • Qual foi o Brasil de Paulo Freire e qual é o Paulo Freire do Brasil de hoje.

    Qual foi o Brasil de Paulo Freire e qual é o Paulo Freire do Brasil de hoje.

    Por: Felipe Mongruel

    Antes de falar de Angicus (Rio Grande do Norte, Brasil) preciso falar que Paulo Reglus Neves Freire, ou simplesmente Paulo Freire, desde 2012 é o Patrono da Educação Brasileira mesmo que cães tentem ladrar ao contrário. Se não pelas centenas de analfabetos que um dia Paulo resolveu alfabetizar em Angicus num curso de 40 horas, pelo método horizontal de profundidade critica e de olhar atento do indivíduo pra dentro de si.

    Na relação som e imagem, Paulo Freire descobriu que os substantivos demostrados com sua função na vida humana tinham o poder de compreensão do seu papel no mundo. Por exemplo, “farinha”, “tijolo” sendo demonstrados no dia-a-dia do sertanejo, atrelados aos seus efeitos com outros substantivos, “trabalho”, “pobreza”, não só ensinavam mas educavam. Construíam, pensavam e libertavam.

    Através de seu método de libertação, o advogado socialista foi convidado pelo prefeito do Recife da época (estamos falando da década de 50) Miguel Arraes, para ser o secretário de educação da capital do São Fransisco. Assim também, na gestão estadual do futuro governador Arraes, Paulo o acompanhou e, em diante, o Brasil de Paulo Freire era um país de sonhos e de corrida independente e soberana.

    Estava provado que a velocidade do método de alfabetização aliado à educação crítica dos significados da vida real era um potente transformador democrático na sociedade.

    Começava a década de 60 no Brasil e uma profunda polarização política no país acontecia. Em 2 de abril de 1963, foi realizada a última aula na cidade de Angicus-RN, onde o método tinha nascido. O evento de então contou com a presença de dois personagens importantes para o prosseguimento da história: João Goulart, então presidente da República e o General Castelo Branco comandante do 4º Exército. No ano seguinte, João Goulart, ou simplesmente, “Jango”, decretou o PNA- Programa Nacional de Alfabetização- chamando Paulo Freire para ser o responsável pelo programa que detinha o intuito de alfabetizar 5 milhões de brasileiros e brasileiras onde, na época, analfabetos não podiam votar, e por óbvio, tal medida seria uma expansão de muita relevância para o número de eleitores no colégio eleitoral brasileiro.

    Entretanto, como a classe dominante nunca dorme, o programa que estava previsto pra ser oficialmente iniciado em 13 de maio de 1964 não aconteceu. Em 1º de abril daquele ano, se instalava a ditadura militar no Brasil que carregou 21 anos da nossa história, além de milhares de pessoas mortas e desaparecidas para os porões da tortura, da censura, do reacionarismo e da arbitrariedade.

    O General Castelo Branco foi instituído presidente, o PNA extinto e Paulo Freire preso.

    Após a prisão de 70 dias, Paulo começava a sua vida no exilio: Bolivia, Chile, depois Estados Unidos e posteriormente Suíça.

    No Chile, Freire trabalhara com educação de campesinos para o governo chileno e é de lá que lança sua principal obra, datada de 1968, PEDAGOGIA do OPRIMIDO, que foi traduzido para dezenas de línguas mundo a fora. No mesmo ano, o Brasil instalava o AI-5 (Ato institucional nº 05.) fechando o Congresso Nacional e recrudescendo o espirito autoritário.

    Freire sai do Chile em 1969, pouco antes do golpe militar de lá (1973) e se muda para os Estados Unidos, onde vai lecionar na Universidade de Harvard.

    Em 1970, Freire parte pra Genebra, na Suíça, onde trabalhou como Consultor do Conselho Mundial de Igrejas visitando mais de 30 países. No ano seguinte liderou o IDAC- Instituto de Ação Cultural, promovendo trabalhos de Justiça Social na Itália, Suíça e África.

    Já em 1975, Freire chega ao continente africano onde participa do processo de descolonização de países como Moçambique, Guiné-Bissau, Angola entre outros. A década 70 no Brasil acaba com a Lei de Anistia, promovendo o retorno do educador à pátria mãe.

    Em seguida, Paulo Freire passa a dar aula em universidades públicas e privadas de São Paulo e é um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores, em 1980. Dá-se início ao Movimento das Diretas Já e durante o governo de José Sarney que herdou a cadeira presidencial após a súbita morte de Tancredo Neves em 1985, Paulo perde sua esposa Elza no ano seguinte e em 1988, enfim, é promulgada a Constituição Federal da Republica do Brasil, conhecida como Constituição cidadã.

    Nas primeiras eleições diretas, a maior cidade da América do Sul, São Paulo, elege a nordestina Luiza Erundina como prefeita e Paulo Freire ocupa o cargo de secretário municipal na sua gestão.

    O advogado pernambucano Paulo Freire, educador e revolucionário, detentor de 48 títulos honoris causa, 3º maior autor citado em obras de educação no mundo, inventor do maior e mais libertador processo educacional do Brasil deixou de bater seu coração em 2 de maio de 1997. Porém bate forte o coração revolucionário, bate forte o coração libertador, o coração daquele que expande e verdadeiramente fez nascer em nós o agente transformador das causas sociais e do pensamento crítico.

    Em 2018, o Brasil elegeu Jair Bolsonaro presidente da República, como uma de suas pautas: a criminalização e a destruição da obra de Paulo Freire. O ataque feito a Freire é o ataque à emancipação social e à justiça social. As agressões à obra de Freire nada mais são do que ataques da classe dominante aos excluídos da vida digna e desprotegidos do bem estar social.

  • A Utopia

    A Utopia

    Por: Felipe Mongruel

    A genuína diferença entre entender e compreender é a que o primeiro conceito limita-se a absorção do enunciado. Enquanto o outro, revela sua capacidade de transmissão daquilo que foi adquirido, daquilo que foi entendido. Dando sequência motriz à raiz ideária.

    Na tarefa utópica de traduzir a realidade da linguagem desse país, os pensadores do tema agem muito bem como entendidos das causas e de seus efeitos. Demonstram a realidade subliminar apresentada a um eixo da população que goza dos mais íntimos e tragicômicos produtos dessa ordem. Num poder curandeiro, numa verdade acreditada. Inatingível. Inquebrantável.

    Um guerra de fatos versus ultrafatos, de realidade com a realidade ultramaterial maniqueísta e ligada ao íntimo de si. Ao eu si. A moral.

    É uma re-ligação de conceitos que não são os conceitos clássicos de outrora, como por exemplo FASCISMO, com suas novas versões atualizadas, utilizadas nos templários da nova época: whatsapp, facebook, twitter e instagran. São conceitos mais sorrateiros, mais simplistas, mais curtos e com poucos caracteres para versões atualizadas de lavagem de roupa suja e briga entre vizinhos.

    É exatamente alí, nos cafofos e nos muquifos da língua que a seita bolsonarista se encontra. Num arremedo de ideias demoníacas da bruxa do 71, com chantagens escatológicas dos Augustinhos Carraras. É o cortiço do Brasil em nova versão, afeita pelos combustíveis do Grande Capital utilizando-se cinicamente a versão da Liberdade de Expressão.

    Compreendendo um pouco mais: no país do Carnaval, os problemas se coadunam todos no sexo.

    Como se porventura sexo fosse problema e não solução, o genocídio das minorias, os exterminios indígenas e da comunidade LGBTQIA+, onde facilmente se vêem o fruto dos reacionários e reprimidos homens motoqueiros armados e musculosos que precisam se garantir em grandes camionetes estilo Agro é pop, com versões altíssimas do produto cultural nocivo e idiota do Sertanejo universitário. Quando muito se vê pelas telas atuais torturas e agressões bizarras cometidas pela Policia (não se engane) se trata de mais uma bichona enrustida que verte tesão pelo alinhamento da farda ou a lustrosa graxa dos seus coturnos.

    Mas estes brasileiros não queriam estar ali, queriam estar gozando lambendo aqueles coturnos durante horas na sadomasoquista tarefa de serem sabujos e lacaios dos seus opressores, mantendo a dor da corrente que lhes apalpa o bumbum e cospe em suas caras.

    O Bolsonarismo não vive sem antes morder a isca das relações sociais. E estas, se dão por ordem afetiva. É por afinidade que um banqueiro ou um rentista goza ao ver o dólar bater cinco reais enquanto 60 milhões de iguais nadam na merda da miséria. É por puro prazer de sair do armário que estes escravos sexuais do capital gritam “mito” destemidamente, cortando direitos de trabalhadores e vendo aposentados morrer a míngua. Eles gozam quando a classe baixa rói o osso. Quando são presos, quando são despejados, quando o Milico fala grosso que eles “vão manter as instituições funcionando, custe o que custar” num claro tom ameaçador.

    É o pouco apreço à cultura a história de uma colônia que faz brasileiros e brasileiras serem colonos e colonas incessantemente. E o outro lado, a que eu pertenço, se verte em raiva e perplexidade ao ver o bizarro mundo dos cortiços, dizendo “como podem ter votado nesse cara?”. Outro erro.

    Não se vê ao horizonte próximo uma transmutação de todos esses valores, fareja-se, quem sabe, mais guerra entre individualistas e coletivistas. Entre “um” versus “nós.” E felizmente ou infelizmente é nela que temos que assumir e engolir nossas escolhas. Enquanto nos colocamos ao estado coletivo da presença do Estado salvando vidas pelo SUS no pior país no tratamento da pandemia às escolas agro-ecológicas do MST ou as suas toneladas de alimento doado à milhões de brasileiros das periferias do brasilzão de todo dia, estamos vencendo. Estamos nos unindo em mensagens subliminares.

    É apenas quando assumirmos sermos formigas nesse estado coletivo que recolocaremos as ideias um país de todos. Para todos. E por todos.

    Não importa se os símbolos pátrios eles usaram para acorrentar seus súditos e fiéis, nossos símbolos são de igualdade, liberdade e fraternidade, que como todos sabem, é vermelha.

    A diferença semântica entre os polos é que um deles ainda existe a palavra amor. Em sua espécie partilhar; solidarizar; unir; triunfar. A todos. Ao formigueiro inteiro.

    E quem não pode com a fomiga, não atiça o formigueiro.

    Viveremos e venceremos! Num Estado Coletivo em que poderemos amar tudo aquilo que o outro é, que poderemos aceitar tudo aquilo que o outro é, e que poderemos defender tudo aquilo que o outro é.  E só assim que poderemos foder o dia inteiro.

    E é pra lá que caminharemos, a esse horizonte, onde mora a utopia.

    Cresce-te e anda, Jornal América Profunda.